Donald Trump e Jair Bolsonaro durante encontro do G20 em Osaka, Japão, em junho de 2019. Foto: Shealah Craighead/White House Photo via Flickr
*Rodrigo Augusto Prando
Ao fim e ao cabo das eleições americanas,
com a vitória de Joe Biden, um sentimento tomou conta do presidente Bolsonaro e dos bolsonaristas: medo. Apostaram, indevidamente, todas suas fichas em Trump. Deveriam - o presidente, seus filhos e ministros -
manter a salutar distância diplomática e protocolar em relação às eleições de outra nação.
Trump foi, para a democracia norte-americana, um elemento nocivo. Assentou sua conduta, como candidato e como presidente, numa santa trindade das redes sociais:
fake news - teorias da conspiração - pós-verdades. Pesquisadores apontaram que a comunicação de Trump, pelas redes sociais, era, preponderantemente,
de mentiras e distorções. Soma-se a isso posturas anticientíficas e negacionistas. Democratas - os que valorizam e defendem a democracia como valor inegociável - do mundo todo, comemoraram a vitória de Biden e, agora, fazem chiste com a postura de Trump em não reconhecer a derrota e, ainda, de continuar com fake news, colocando em dúvida a legitimidade eleitoral e da própria democracia estadunidense. Ademais, sua postura de tratar a pandemia com menoscabo também pesou na avaliação dos americanos em relação à Gestão Trump, dado o enorme número de contaminados e mortos.
Bolsonaro e os bolsonaristas tornaram Trump seu totem, objeto sagrado, de culto e adoração.
Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do presidente, usou boné da campanha de Trump.
Ernesto Araújo, chanceler, publicou artigo - antes de se tornar ministro - afirmando que Trump seria capaz de salvar a civilização ocidental. Bolsonaristas, famosos e anônimos, fazem ecoar nas redes a teoria da conspiração de que Trump foi vitorioso e as eleições fraudadas. Aliás,
Bolsonaro afirmou ter provas de que a eleição de 2018 foi fraudada, mas nunca as apresentou.
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A situação das relações econômicas e diplomáticas, com Biden na Casa Branca, devem, ao menos na questão ambiental, mudar de direção. Diferentemente de Trump, negacionista climático, Biden trará à tona uma agenda ambiental e já deixou claro, em pronunciamento,
estar atento à situação da Amazônia. Certamente, estarão na berlinda
Ricardo Salles, Ministro do Meio Ambiente, e Ernesto Araújo, ambos fortes membros da ala ideológica do governo. Haverá, por parte do governo brasileiro, uma ação mais proativa e pragmática na diplomacia e relações comerciais ou a cartilha do olavismo continuará na cabeceira dos ministros? Até o final de domingo, não haviam cumprimentado Biden pela vitória Kim Jong-Um (Coreia do Norte), Mohammad bin Salman (Arábia Saudita) e Bolsonaro - não parece ser boa companhia para a diplomacia nacional.
Pairou no ar, aqui, no Brasil, a pergunta: teremos um Biden para disputar com Bolsonaro em 2022? Não é tão simples, pois não temos, apenas, Democratas e Republicanos como lá. Os partidos políticos, seus líderes e atores até o momento não encontraram em nosso país um denominador comum capaz de superar as divergências que os separam em prol de uma visão conjunta que os una. O bolsonarismo sentiu o golpe. Está com medo. Bolsonaro medrou. Começou a ponderar que, em 2022, o desfecho não seja a reeleição e sim uma derrota. A política está aberta. Candidatos à reeleição são, sempre, favoritos, no Brasil e nos EUA. Se o poderoso Trump, com seus milhões de seguidores nas redes sociais e seus milhares de dólares na conta bancária perdeu a eleição, no voto popular e no colégio eleitoral, tudo é possível.
*Rodrigo Augusto Prando é professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Graduado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp.
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