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Paulo José Cunha
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Escuta aqui: e quando vão pôr na cadeia esses pastores ladrões?
Paulo José Cunha
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14/08/2017 | Atualizado às 16h36
<< Para 94% dos eleitores, atuais políticos não os representam, aponta pesquisaDesafiado a explicar a complexidade do voto proporcional, produzi anos atrás pequena matéria na TV Câmara. Nela, utilizei o recurso dos vasos comunicantes. Coloquei alguns copos (cada um deles correspondendo a um candidato a deputado) com quantidades variadas de água, representando os votos de uma eleição proporcional. E pelo menos um desses copos estava cheio, significando que aquele candidato sozinho teria alcançado o chamado "quociente eleitoral". E sabe o que é isso? Parece difícil, mas não é. Você toma o número total de votos de uma eleição e divide pelo número de vagas para deputado ou vereador. Este é o quociente eleitoral, número mínimo de votos necessários para um candidato se eleger. Um exemplo: aqui do DF, onde existem 8 deputados federais, se 800 mil pessoas votarem na eleição, o quociente eleitoral será de 100 mil votos, número mínimo para se eleger um deputado. Voltemos ao exemplo dos copos: já vimos que existe um deles cheio. Nesse caso, o candidato, atingido o quociente eleitoral, elegeu-se "sozinho", sem ajuda do partido, como se diz. Mas, se pegarmos a água dos outros copos e formos despejando no segundo mais "votado", quando ele encher terá sido atingido novamente o quociente eleitoral. Portanto, o segundo candidato mais votado estará eleito. Por essa razão diz-se que, no sistema proporcional, às vezes vota-se em Celso Russomano e elege-se Sérgio Reis, como ocorreu. Sérgio Reis teve uma votação abaixo do quociente, mas foi beneficiado pela sobra dos votos de Russomano e dos colegas do partido ou da coligação. Um sistema minimamente justo Isto é um defeito? Sim, porque todo mundo gostaria de saber precisamente quem ajudou a eleger. Ainda assim, é um sistema avançado, democrático e minimamente justo. Casos como os de Russomano, Tiririca e Dr. Enéas, campeões de votos que arrastaram outros candidatos de seu partido ou coligação não tão bem votados assim, são poucos. A gente conta nos dedos. Só servem para confirmar a regra. Sem contar que, no sistema proporcional, se não houvessem as distorções conhecidas no sistema eleitoral e político, os partidos seriam fortalecidos. Como? Ora, se sei que meu voto pode ir para outros candidatos de uma legenda ou coligação, vou tentar conhecer todos os candidatos. E o que defende aquele partido ou coligação. Se houver um candidato no partido ou coligação que não quero ver nem pintado, caio fora, mesmo que meu candidato preferido esteja lá. "Correr o risco de ajudar a eleger aquele cretino? Mas não voto é de jeito nenhum", como diria a Ritinha com aquele sotaque paraense na novela "A Força do Querer". Isso obrigaria os partidos a serem mais nítidos ideologicamente. E a escolherem melhor seus candidatos, excluindo aqueles sobre os quais restassem dúvidas de caráter ou de obediência ao Código Civil. Democracia se faz com partidos fortes É quase um bordão dos especialistas em ciência política: democracia se faz com partidos fortes. E é exatamente a fraqueza dos partidos um dos principais problemas do atual sistema político brasileiro. Situação que pode se agravar muito com a adoção do voto distrital, com o qual os manda-chuvas partidários vão deitar e rolar. Uma solução intermediária, já em funcionamento com sucesso em alguns países, é o voto distrital... misto. Significa que o eleitor votaria duas vezes - uma no candidato de sua preferência; outra, num partido ou coligação. Seria respeitada a vontade do eleitor. Ao mesmo tempo em que contemplaria uma disputa entre os partidos, cada um com seu programa, sua ideologia, sua bandeira. E em vez dos trejeitos de candidatos montados pelos marqueteiros, teriam de explicar como pensam acerca das principais questões nacionais/regionais. O preço da irresponsabilidade Pra piorar a decisão a favor do voto distrital puro, só uma outra, também tomada na comissão de reforma política: a de se criar um fundo eleitoral no valor de R$ 3,6 bilhões para financiar os partidos concorrentes nas eleições. Seria este o preço da democracia? Não: é o preço da irresponsabilidade com o dinheiro público, em plena crise. Mais ou menos como deixar a torneira aberta a noite inteira em tempos de racionamento d'água. No Brasil de hoje ninguém se elege sem aplicar recursos de milhões de reais. Só a título de comparação, em Portugal o atual presidente gastou pouco mais de 600 mil reais (convertendo o euro) pra se eleger. Nossas eleições são caras e permeáveis à manipulação por quem tem mais dinheiro. Tudo bem, as doações de empresas foram proibidas. Mas quem consegue controlar o dinheiro do dízimo das igrejas? Ou o dinheiro vivo arrecado diariamente nas roletas do transporte público? Isso pra ficar em dois exemplos que me ocorrem agora. Ou alguém tem a leve ilusão de que essa grana gigantesca não será carreada na direção das campanhas dos candidatos-padres/pastores ou para os candidatos apoiados pelo grande empresariado? Com um detalhe: é dinheiro limpo! Não é produto de corrupção! E agora?
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