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Congresso em Foco
12/05/2018 | Atualizado às 10h59
Temer e Meirelles, espectros de um governo claudicante, na reta final de um longo período de turbulências
O emedebista Michel Temer já entrou para a história como um dos presidentes da República mais rejeitados pela população, em níveis semelhantes à impopularidade alcançada, em 1992, pelo então presidente Fernando Collor, hoje senador pelo PTC de Alagoas. Com índices de aprovação de seu governo nunca superiores a 5% em diversas pesquisas, Temer completa exatos dois anos de gestão neste 12 de maio e jamais teve vida fácil desde aquele maio de 2016, quando o Senado afastou Dilma Rousseff (PT) em um controverso e turbulento processo de impeachment. De lá para cá, o professor de Direito Constitucional acumulou denúncias de corrupção, patrocina medidas impopulares e protagonizou cenas de crise institucional que quase o derrubaram da cadeira principal do Planalto. Hoje cheio de cicatrizes e alvo da Operação Lava Jato, Temer conseguiu barrar duas denúncias da Procuradoria-Geral da República (PGR) com a ajuda da Câmara, sob acusação de comprar o voto de deputados por meio de emendas parlamentares e distribuição de cargos, projetos, medidas e demais benesses. Acusado de corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa, o presidente ainda enfrenta outros dois inquéritos por suspeita de participação em malfeitos.<< Barroso rejeita arquivar inquérito contra Temer e prorroga investigação sobre Decreto dos Portos
<< PM diz ter entregue dinheiro em escritório de José Yunes, amigo de Temer, em duas ocasiõesEm um deles, Temer é acusado de receber propina para favorecer a empresa Rodrimar S/A, concessionário do Porto de Santos, ao editar o Decreto dos Portos (Decreto 9.048/2017) em maio do ano passado. No inquérito, o presidente volta a ser apontado como suspeito de cometer os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Embora a Rodrimar atue no Porto de Santos, base de diversas operações do setor petrolífero, o caso não guarda relação com a Operação Lava Jato.
Temer acompanha votação do impeachment com Padilha (à esq. do presidente), Henrique Alves, que deixou a cadeia há uma semana, e Jucá, homem forte do governo no Senado: todos investigados por corrupção
O Ministério Público Federal (MPF) diz que o decreto de Temer - atrelado à edição de uma medida provisória editada em 2013, quando Temer era vice-presidente - serviu como contrapartida ao recebimento de propina paga pela Rodrimar. A negociata da chamada "MP dos Portos", segundo as investigações, foi intermediada pelo ex-assessor especial da Presidência da República Rodrigo Rocha Loures (PMDB), suplente de deputado pelo Paraná que passou a ser chamado de "deputado da mala". Em 29 de abril, Loures foi filmado pela PF fugindo por uma rua de São Paulo com uma mala com R$ 500 mil em espécie e virou réu devido ao episódio, a exemplo do presidente. Blindado pela base aliada em duas votações de plenário, Temer, a quem foi atribuído o dinheiro, foi beneficiado pela legislação vigente e só pode ser investigado por ato cometido no exercício do mandato, e mesmo assim com autorização da Câmara. Com a negativa dos deputados, a continuidade do processo contra o presidente só terá curso quando ele deixar o mandato. Quadrilhão O outro inquérito ativo contra Temer é referente ao que o MPF definiu como "quadrilhão do PMDB". A investigação apura pagamento de propinas da Odebrecht, uma das empreiteiras-pivô da Lava Jato, aos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Minas e Enegia) - a propina, segundo as investigações, seriam contrapartida pelo tratamento especial dispensado à empresa na Secretaria de Aviação Civil, que foi comandada pelos dois ministros entre 2013 e 2015. Em 2 de março, a pedido da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, o ministro Edson Fachin, relator do petrolão no Supremo Tribunal Federal (STF), incluiu o presidente entre os beneficiários do esquema de corrupção.<< Temer chefia "maior e mais perigosa" organização criminosa do Brasil, diz Joesley à revista Época << Janot justifica delação que flagrou Temer, Aécio e Rocha Loures: "Crimes graves em execução"Para a Polícia Federal, Temer tinha poder decisório no "quadrilhão" e recebeu mais de R$ 30 milhões em propina. No pedido de inclusão de Temer nesse inquérito, Raquel Dodge citou a delação de Claudio Melo Filho, ex-executivo da Odebrecht, que afirmou ao Ministério Público que um jantar foi oferecido no Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência da República, para negociar o repasse e a divisão de R$ 10 milhões pagos pela empreiteira como ajuda de campanha ao MDB, partido de Temer.
Raquel Dodge citou, no relato sobre a destinação do dinheiro ilícito, a declaração do ex-diretor da Odebrecht segundo a qual "Eliseu Padilha seria encarregado de entabular tratativas com agentes privados e decentralizar as arrecadações financeiras da Odebrecht; que ele teria deixado claro que falava em nome do vice-presidente [àquela época, Michel Temer] e que utilizaria o peso político dele para obter êxito em suas solicitações".
<< Os áudios em que Temer avaliza compra do silêncio de Cunha e procurador infiltrado na Lava JatoO presidente até hoje nega qualquer irregularidade e diz que falou sobre repasses a Cunha por "solidariedade". O presidente ouviu de Joesley que uma mesada estava sendo paga a Eduardo Cunha e ao operador do PMDB no petrolão Lúcio Funaro, para que ambos ficassem calados sobre o esquema de corrupção na Petrobras. Diante da informação, Temer incentivou: "Tem que manter isso, viu?". Segundo as investigações, o grupo JBS, um dos principais doadores de campanha nas últimas eleições, era o responsável pelos pagamentos ao ex-deputado. Fuzilado por evidências, o presidente convocou uma coletiva de imprensa em caráter extraordinária para dizer, irritadamente, que não renunciaria. Reveja no vídeo: De lá para cá, avolumaram-se as denúncias contra o presidente. Devido aos inquéritos em curso, há quem diga que Temer será alvo de uma terceira denúncia da PGR, o que teria desdobramentos imprevisíveis em ano eleitoral. A pouco mais de sete meses do fim do mandato, o emedebista voltou a falar em aprovação da reforma da Previdência ainda em 2018 para tentar salvar um governo enfraquecido, impopular e em sua reta final, às voltas com o impedimento constitucional acerca de votações de propostas de emenda à Constituição, por imposição da intervenção federal no Rio de Janeiro. Para observadores da cena política em Brasília, e a depender do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), trata-se de um jogo perdido para o governo. Fichas na economia Por outro lado, Temer se cercou de uma equipe econômica de renome internacional que, a despeito dos últimos resultados, que frustram as projeções oficiais para 2018, conseguiu feitos como manter a inflação dentro da meta e tirar do negativo o desempenho do produto interno bruto (PIB). Com a indicação de Pedro Parente para o comando da Petrobras, o governo também conseguiu tirar da beira do precipício uma estatal que, atolada em dívidas bilionárias e alvejada pelo megaesquema de corrupção desvendado pela Operação Lava Jato, quase teve suas contas insolventes.
<< Gilmar se reuniu com Temer para tratar de eleição municipal, diz TSEO ministro, que antes dizia ver farto conjunto probatório para condenar a chapa quando Dilma era presidente, declarou no julgamento que jamais teve a intenção de cassar o mandato de Dilma ou de Temer. "Nós não devemos brincar de aprendizes de feiticeiros", afirmou. O caso já havia sido pela ex-ministra do TSE Luciana Lóssio e o próprio Gilmar promoveu o desarquivamento. Mas o presidente passou a ser Temer, e Gilmar passou a dizer que repôs o andamento da ação não para cassar quem quer que seja, mas para que o país tomasse conhecimento de como as campanhas eleitorais são financiadas. A postura de Gilmar revoltou os partidos de oposição ao governo Temer, PT à frente. "Nunca pensei em cassar Dilma Rousseff", acrescentou, ressaltando que as "mazelas da política brasileira" não podem ser analisadas pelo TSE. "Não se substitui um presidente da República a toda hora. [...] Não é algum fricote processualístico que se quer proteger. Não. É a questão do equilíbrio do mandato", tergiversou, em discurso de tom teatral que intercalou brados, ironias, juridiquês e longas pausas. Relembre:
<< Vídeo: Temer atuou por interesses de empresas portuárias, diz Funaro << Em delação, Funaro confirma ter recebido para ficar calado; ordem para pagamento veio de Temer
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