[caption id="attachment_229396" align="alignleft" width="390" caption="Mãos ao alto: funcionários escolhem greve por unanimidade"]
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[fotografo]Sindicato dos Jornalistas do DF[/fotografo][/caption]Os 116 funcionários do portal Fato Online, dos quais 75 jornalistas, chegaram a este 1º de março sem ter recebido quatro salários atrasados (dezembro, janeiro, fevereiro e 13º) e decidiram deflagrar greve por tempo indeterminado. A proposta de formar um veículo de imprensa moderno, multimídia e com credibilidade esbarrou em problemas financeiros e entrou em colapso pouco mais de um ano após a inauguração.
Mas, segundo o presidente da empresa, Silvio de Assis, essa história não está no fim. "O Fato não acabou", afirmou Silvio ao
Congresso em Foco. O fundador do portal reconheceu a ocorrência de falhas administrativas, mas ressaltou que problemas financeiros atualmente não têm sido uma exclusividade do Fato. "Este é um problema que não é só nosso. O país todo está passando por um momento difícil", ponderou.
A situação dos funcionários ficou insustentável na segunda-feira (29), quando, na décima segunda negociação entre patrões e funcionários, os trabalhadores recusaram por unanimidade, em assembleia, as duas propostas da direção. Segundo o coordenador do comitê de negociações, Lúcio Vaz, editor de política do Fato Online, as duas propostas dos patrões foram recusadas.
A primeira previa que os funcionários que ganham R$ 10 mil, ou mais, receberia o passivo em forma de cotas na empresa e teriam o desconto de um terço do salário, que seria transformado em
pro labore (remuneração especial para sócios e executivos de cúpula). Os que ganham menos de dez mil, segundo o acordo, receberiam os salários atrasados em parcelamentos, que começariam a ser pagos no dia 20 de março.
Pela segunda proposta, de acordo com Lúcio Vaz, funcionários remunerados em dez mil ou mais - exceto quem virasse sócio - receberiam os valores atrasados em dez parcelas, também a partir de 20 de março. "Consideramos as duas propostas desrespeitosas. E, claro, a assembleia rejeitou por unanimidade", disse Lúcio ao
Congresso em Foco. O jornalista afirmou ainda que não havia entre os funcionários confiança na palavra dos patrões, que não cumpriram os acordos em onze oportunidades desde então.
Lamento jornalístico
O entusiasmo que tomava conta da redação, constantemente relatado por funcionários do Fato Online, deu lugar a um mar de incerteza e descrença. Lúcio Vaz conta que são inúmeras famílias endividadas, crianças que não tiveram suas matrículas renovadas nos colégios, tratamentos de saúde por pagar e dificuldades que se multiplicam a cada dia sem o devido cumprimento dos direitos dos profissionais.
[caption id="attachment_229395" align="alignright" width="340" caption="Justiça à vista: um ano e muitos problemas"]

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O editor-chefe do portal, Rudolfo Lago, usou sua página no Facebook para expressar o sentimento dos mais de cem funcionários, bem como de jornalistas brasileiros em geral, em relação à crise atual. "Penso que o Fato Online se torna um dos mais - senão o mais - veementes exemplos da atual crise no jornalismo", escreveu Rudolfo na rede social, em postagem com centenas de compartilhamentos. Para Rudolfo, o portal, jornalisticamente, foi um sucesso. "Em termos de gestão, porém, é um fracasso. [...] Chega ao fim esse sonho, essa ilusão", finaliza o profissional, detentor de diversos prêmios de jornalismo e com passagens pelos principais veículos de imprensa do país, entre eles o
Congresso em Foco.
Reformulação
Tanto aos grevistas, quando ao
Congresso em Foco, o fundador do portal reconheceu a dívida e disse estar procurando meios para pagá-la. "Eu estou aqui neste exato momento (no Fato Online) trabalhando para pagar o que devemos", afirmou Silvio Assis, por telefone. Ele diz que o objetivo é reformular o portal e reinventá-lo de maneira mais sustentável e econômica.
Os próprios funcionários reconhecem o alto custo do portal. "Quando comecei a trabalhar no Fato, em março de 2015, nós éramos 35 jornalistas. Atualmente, somos 75. Sabemos que os profissionais gabaritados são caros, ainda mais nesta quantidade", afirma o editor de política, Lúcio Vaz. O salário dos jornalistas ia de R$ 8 mil a R$ 20 mil por mês, e a maioria dos contratos era feita na modalidade de pessoa jurídica (de empresa para empresa), o que dificulta o recebimento dos passivos caso o grupo declare falência, por exemplo.
Justiça
Além da greve, o Sindicato dos Jornalistas do DF entrará com ações na Justiça do Trabalho cobrando as pendências dos contratos, como os salários e o 13º, além do reconhecimento do vínculo. O vice-presidente do sindicato, Wanderlei Pozzebom, afirma que será requisitado também o bloqueio de faturas, bens e receitas dos sócios da empresa, como forma de assegurar o pagamento.
Repercussão
O caso repercutiu em plenários do Legislativo federal e distrital. No Senado, Álvaro Dias (PV-PR) foi à tribuna para se solidarizar com os funcionários do Fato Online. O parlamentar afirmou que "o Congresso Nacional precisa ficar atento às dificuldades financeiras de todos os setores da economia, mas especialmente às dificuldades financeiras da imprensa brasileira neste momento dramático".
"O portal, inaugurado há pouco mais de um ano, emprega mais de 100 funcionários, entre eles jornalistas renomados, como Rudolfo Lago, Andrei Meireles, Helena Chagas, Lúcio Vaz, Tales Faria, entre tantos outros que sempre acompanharam, de forma muito honesta, a nossa rotina aqui no Congresso Nacional. Esse time de craques foi mais uma vítima da monumental crise que atinge de forma avassaladora a economia do país, em especial veículos da imprensa brasileira", discursou o parlamentar.
Na Câmara Legislativa do Distrito Federal, o deputado Chico Vigilante (PT) também lamentou o ocorrido e cobrou providências da diretoria do portal. "Quatro meses sem salário, por mais passivo que o trabalhador seja, a greve é necessária como um ato até mesmo de desespero", observou o petista. "Precisamos encontrar o dono da empresa e cobrar o pagamento dos trabalhadores", finalizou.
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