Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Congresso em Foco
28/04/2010 | Atualizado às 00h00
Eduardo Militão
A prioridade dos parlamentares brasileiros é legislar sobre o funcionamento do Estado, dar nomes a obras públicas, acordos internacionais, criar datas comemorativas, tratar da relação entre a União e estados e municípios. Também se interessam por economia, trabalho, impostos, direito do consumidor e até meio ambiente. E não se esquecem de criminalizar delitos comuns e do colarinho branco. Apesar do clichê dos discursos políticos, o atendimento à educação e à saúde parece estar longe das prioridades de deputados e senadores.
Veja a lista completa dos projetos que dormem nas gavetas do Congresso
É o que diz análise dos 2.472 projetos de lei à espera de votação nos plenários da Câmara e do Senado, segundo levantamento exclusivo do Congresso em Foco. Como mostrou o site na terça-feira (27), 96% dessas propostas na fila são de autoria de deputados e senadores e apenas o restante de autoria do Executivo. Em contrapartida, 80% daquilo que o Congresso aprova é de iniciativa do governo federal.
PRINCIPAIS ASSUNTOS NA GAVETA
Perfil, em percentual, das propostas da amostra
Assunto |
Câmara* |
Senado |
Total |
% |
Outros |
350 |
151 |
501 |
37,9% |
Economia, Trabalho e Meio Ambiente |
215 |
56 |
271 |
20,5% |
Segurança Pública e Justiça |
145 |
29 |
174 |
13,2% |
Sociedade |
118 |
29 |
147 |
11,1% |
Eleições e Política |
87 |
42 |
129 |
9,8% |
Saúde e Ação Social |
51 |
22 |
73 |
5,5% |
Educação |
18 |
8 |
26 |
2,0% |
Totais |
984* |
337 |
1.321 |
100,0% |
*Foram classificadas apenas as 984 matérias de um total de 2.135 que não estarem apensadas a outros projetos semelhantes. Fonte: Congresso em Foco, com base em dados da Secretaria Geral da Mesa das duas Casas coletados em 29 de março de 2010
Veja a lista das propostas - Entenda a classificação
Com base em dados oficiais, o site retirou do universo 1.151 propostas que andavam apensadas a outras semelhantes. E verificou que, das 1.321 restantes, 501 (38%) tratavam de regras para funcionamento da administração pública e assuntos mais áridos, como acordos internacionais, fundos para estados e municípios, e pitorescos, como nomes de obras públicas e datas comemorativas.
São propostas como a que aproveita os cargos de censores federais durante a ditadura militar nos quadros da Polícia Federal. Ou como a criação da condecoração Luís Eduardo Magalhães. No mesmo grupo, medidas preventivas contra a corrupção, como a PEC 334/96, que proíbe a contratação de parentes de autoridades em cargos públicos. A proposta perdeu o sentido porque, em 2008, o Supremo Tribunal Federal publicou uma súmula com o mesmo efeito da emenda constitucional desejada.
Em segundo lugar na fila de votação, há 271 projetos que tratam de economia. Significa que 21% das matérias têm a ver com o bolso dos cidadãos e das empresas e com a proteção ao meio ambiente - e todos os custos que isso acarreta.
São ideias como a proposta que proíbe descontar cheque pré-datado antes do dia do vencimento. O projeto de lei complementar 1029 foi apresentado em 1991 pela deputada Fátima Pelas (PFL-AP) e está no plenário da Casa ainda. Quando ainda era senador nos anos 80, Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) conseguiu ver sua ideia de taxar as grandes fortunas ser aprovada no Senado, mas a matéria chegou à Câmara em 1989 e "dorme" no plenário há mais de nove anos.
Em seguida, senadores e deputados têm pela frente a missão de analisar 174 propostas (13%) sobre segurança pública e Justiça, que, no geral, tratam de tipificação de crimes, normas para os presídios, financiamento do sistema, inclusive das Forças Armadas.
O senador Romeu Tuma (DEM-SP) quer tornar crime as pichações. A matéria passou no Senado e quase foi votada em 2006 no plenário da Câmara, mas a apreciação da Medida Provisória 275 impediu a apreciação da ideia. Entre as proposta de combater o crime do colarinho branco, a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) quer acabar com a "punição" de aposentadoria para magistrados que cometem delitos, como vender sentenças. No lugar, eles seriam demitidos do cargo. Ideli e outros colegas apresentaram o projeto em 2003, mas desde o ano passado ele está na "fila" do plenário do Senado.
Trânsito frouxo
Questões sociais do cotidiano são o quarto grupo de propostas mais visível nos plenários do legislativo. Representam 147 matérias ou 11% do total.
A PEC que simplifica o divórcio dos casais foi apresentada na Câmara em 2005, foi aprovada lá no ano passado e, desde então, aguarda análise dos senadores. Chegou ao plenário e era o segundo item de votação em 29 de março. Em 1999, um ano depois da entrada em vigor do novo Código de Trânsito Brasileiro, o próprio governo quis afrouxar as regras, aumentando de 20 para 30 pontos a quantidade de infrações necessárias para um motorista perder a carteira de habilitação. A ideia está desde março de 2001 no plenário da Câmara.
O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) quer obrigar por lei os civis a colocarem a mão direita no peito esquerdo quando o Hino Nacional for executado. Apresentada em 1998, a matéria dorme no berço esplêndido, verde e acarpetado do plenário da Câmara desde 2007.
Em quinto lugar, estão as matérias que interessam diretamente aos políticos e eleitores. As propostas de mudanças nas regras eleitorais, inclusive para barrar candidatos "ficha suja", somam 129 proposições ou 10% do total.
A PEC 17, de 1995, quer reduzir em cerca de 30% o número de deputados. Hoje, cada estado tem direito a eleger de oito a 70 parlamentares para a Câmara. Com a mudança, o mínimo seria cinco e o máximo, 47. Há quatorze anos, a ideia do deputado Antônio Joaquim (PDT-MT) está na "fila" do plenário.
Baixa prioridade
Em sexto e sétimo lugares figuram os projetos de saúde, assistência social e educação. Os 73 projetos que tratam de vacinação, alimentação e financiamento da seguridade social representam 6% do universo do levantamento do Congresso em Foco. Educação e pesquisas científicas, 26 ou 2% do total.
A licença-maternidade obrigatória de seis meses para as gestantes é o objetivo de duas PECs, uma na Câmara e outra no Senado, ambas de 2007. No ano passado, os parlamentares aprovaram a licença de seis meses facultativa às empresas, que teriam direito a isenções fiscais se a adotassem.
A proposta de emenda à Constituição da deputada Ângela Portela (PT-RR) entrou no plenário este ano. Em 3 de março, a discussão foi encerrada. E não se tocou mais no tema. A PEC da senadora Rosalba Ciarlini (DEM-RN) está na fila do plenário do Senado desde 2008.
Desde julho de 2008, os deputados deixam no meio da sala a votação da criação da Contribuição Social para a Saúde (CSS), para substituir a extinta CPMF e que cobraria 0,1% das movimentações financeiras. A polêmica matéria foi aprovada e depende da votação de um destaque dos deputados para seguir ao Senado, onde tem forte rejeição.
Em 2003, Demóstenes Torres (DEM-GO) apresentou ao Senado um projeto para tornar a educação integral obrigatória na rede pública de ensino fundamental. Estudantes do 1º ao 9º ano ficaram pela manhã e à tarde na escola. A matéria está no plenário da Casa desde o ano passado.
Ainda em 2003, o ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (PT-SP) propôs a suspensão da criação de vagas e cursos de medicina em todo o país durante dez anos. A matéria está em regime de urgência. O médico e deputado Chinaglia aguarda há mais de dois anos a votação de seu projeto no plenário da Casa que presidiu.
Leia também:
Pesquisador do Iuperj vê legislação da educação consolidada
Veja a lista completa dos projetos que dormem nas gavetas do Congresso
Entenda as sete categorias de propostas de lei
Leia tudo sobre os projetos nas gavetas
Temas
LEIA MAIS
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Em semana morna, Câmara vota projetos para pequenas empresas
Previdência Social
Davi prorroga programa de enfrentamento da fila da previdência
Recursos Emergenciais
Congresso promulga lei de crédito extraordinário para o RS em 2025
CONTAS DO GOVERNO