Arthur Lira (PP-AL), costurou com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, manutenção do voto de qualidade do Carf.. Foto: Marina Ramos / Câmara dos Deputados
O presidente da Câmara dos Deputados,
Arthur Lira (PP-AL), costurou com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a manutenção do voto de qualidade no
Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). Ambos estiveram reunidos neste final de semana, em Brasília. A decisão, segundo fontes ligadas a Lira ouvidas neste domingo (2) pelo
Congresso em Foco, será comunicada aos líderes partidários na
reunião marcada para às 20h, na Residência Oficial.
O PL 2384/23, conhecido como PL do Carf, substitui a Medida Provisória 1160/23, enviada pelo governo ao Congresso, que perdeu a validade em 1º de junho. Neste momento, ele tranca a pauta da Casa. Enquanto não foi votado, nenhuma outra proposta pode avançar na Câmara.
Segundo interlocutores, o acerto fechado entre Lira e Haddad é pela sugestão que foi feita pela Abrasca (Associação Brasileira das Companhias Abertas) e a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Em fevereiro deste ano, as entidades selaram um acordo pela retomada do voto de qualidade. A medida, segundo as entidades, livrava os contribuintes de multas e dava descontos nos juros em caso de um empate no julgamento no Carf.
O relator do projeto, o deputado
Beto Pereira (PSDB-MS), defende que haja limite para julgamentos favoráveis ao governo no caso de empates em demandas apresentadas junto ao Carf. Hoje, o
Carf acolhe pedidos de revisão tributária a partir de 60 salários mínimos, ou perto de R$ 80 mil. O projeto do governo prevê que esse número suba para mil salários mínimos, o que é considerado inviável pelo relator.
Criado em 2009, o Carf é um colegiado formado por representantes da sociedade e do Estado, com a atribuição de julgar em segunda instância administrativa os litígios em matéria tributária e aduaneira. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que escolheu a dedo Pereira para relatar o texto, defende o meio-termo para a proposta, já deixando claro que o texto original do governo não será sacramentado. O que falta selar no texto de
Beto Pereira ainda é esse meio-termo.
"Existe uma crítica muito grande à proposta do governo com relação ao limite, passando de 60 para 1.000 salários mínimos. Eu não vejo com bons olhos essa alteração. Já passei inclusive para o secretário da Receita Federal e também para outros do Ministério da Fazenda a dificuldade que teremos com esse tema. Acho que é poss
ível alguma alteração da régua no limite de alçada, mas nada tão distante, t
ão alto. H
oje, de 60 passar para 1.000, não vejo como isso prosperar" disse Beto Pereira, em entrevista exclusiva ao Congresso em Foco.
O acordo previsto pela OAB de que Haddad é defensor prevê uma espécie de regulamentação do voto de qualidade permitindo que, em caso de empate, permanece a cobrança do valor principal do débito, mas caem as multas e os juros, desde que a dívida seja quitada ainda em âmbito administrativo.
Na sexta-feira (30), deputados da base do governo entraram com um requerimento para dar regime de urgência à votação da PL do Carf. O documento foi assinado pelos deputados
José Guimarães (PT-CE),
André Figueiredo (PDT-CE),
Zeca Dirceu (PT-PR) e
Guilherme Boulos (Psol-SP).
O projeto é visto como uma das prioridades do governo no Congresso. O retorno do voto de confiança é uma das medidas que a equipe econômica pretende usar para equilibrar as contas públicas. Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o governo pode chegar a ter R$ 2 trilhões em contencioso caso o voto de qualidade não retorne.