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Congresso em Foco
12/3/2010 6:20
Mário Coelho
O ex-presidente norte-americano democrata John F. Kennedy costumava repetir uma frase que cabe bem no momento político do Distrito Federal: "Quando escrita em chinês, a palavra crise compõe-se de dois caracteres: um representa perigo e o outro representa oportunidade". A crise aberta com o escândalo do mensalão do Arruda abriu para os partidos de esquerda uma oportunidade antes impensável de retomar o poder que perderam após a derrota de Cristovam Buarque para Joaquim Roriz em 1998. Até porque o mesmo Roriz, que lidera as pesquisas, sofre séria ameaça de acabar colhido pelas denúncias também. Ao mesmo tempo, porém, a oportunidade reacendeu pretensões, e esses pretendentes começam a se engalfinhar numa briga entre eles. E é aí que mora o perigo.
A briga entre aqueles que deveriam ser aliados diante da oportunidade aberta tem causado problemas para formar uma chapa única dos partidos de esquerda. E Roriz, enquanto reza para as investigações não chegaram até ele, vai caminhando até o momento tranquilo rumo ao seu quinto mandato como governador do Distrito Federal.
De 27 de novembro para cá, o cenário político brasiliense virou de cabeça para baixo. A revelação de um extenso esquema de propina envolvendo membros do Executivo e do Legislativo do Distrito Federal, com a Operação Caixa de Pandora, alijou da disputa eleitoral um dos principais candidatos ao governo. Ao ser apontado como um dos favorecidos pelo Ministério Público Federal (MPF), o governador José Roberto Arruda perdeu a legenda - saiu do DEM para evitar a expulsão - e acabou preso por tentar subornar uma testemunha.
De quebra, a crise também tirou o vice-governador Paulo Octávio da jogada. Ao assumir interinamente o governo do DF, Octávio não resistiu à primeira onda de denúncias. No mesmo dia, decidiu sair do DEM, partido que presidia em Brasília, e renunciou ao cargo. Antes da Caixa de Pandora ser aberta, Octávio cogitava se lançar ao Senado novamente. Ou, então, ao governo, caso Arruda fosse escolhido para compor a vice na chapa tucana à presidência da República.
A desarrumação tornou a eleição em Brasília uma incógnita. Porém, até o momento a esquerda não conseguiu capitalizar eleitoralmente com o escândalo. Enquanto Roriz aparece em horário político se dizendo chocado com as denúncias no DF, o PT, contrariando todas as determinações da direção nacional, briga internamente para saber quem será o nome do partido ao governo de Brasília. No próximo dia 21, os membros do partido escolhem entre o ex-ministro do Esporte Agnelo Queiroz e o deputado Geraldo Magela quem representará os petistas numa eventual chapa de esquerda.
Membros do diretório regional do PT tentaram evitar a realização das prévias. A princípio, Agnelo seria escolhido por aclamação. Magela sairia para o Senado e as outras posições seriam colocadas à disposição dos partidos que decidissem se coligar com os petistas. Em especial, PSB, PCdoB e PDT. Mas, ao contrário de 2006, quando saiu do caminho para Arlete Sampaio disputar o GDF, Magela não aceitou deixar mais uma eleição para o governo.
O clima esquentou
O clima entre os dois esquentou nos últimos dias. Magela apresentou uma pesquisa não registrada na Justiça Eleitoral que o coloca como candidato mais viável a disputar contra Roriz o Executivo local. Agnelo retrucou. Em entrevista ao jornal O Distrital, disse que o colega de partido usa politicamente seu encontro com Durval Barbosa, o ex-secretário de Relações Institucionais do GDF e delator do esquema de propina (antes da divulgação do escândalo, com a Operação Caixa de Pandora, Agnelo assistiu aos vídeos que mostram Arruda e outros recebendo propina, e nada fez). A briga não parou aí. Os apoiadores de Magela divulgaram uma antiga entrevista de Roriz (PSC), de dezembro de 2006, em que o ex-governador do DF dizia ter sido procurado por Agnelo, que lhe propuna fazer um acordo político.
O nível (baixo) da briga entre Agnelo e Magela exaspera o presidente do PT do Distrito federal, Roberto Policarpo. "Tenho feito um apelo aos apoiadores para que o debate seja feito no melhor nível. Ao partir para as acusações, prejudica tanto o partido, pois fica mais difícil de unir depois das prévias, quanto dá munição para os adversários atacarem depois", disse Policarpo ao Congresso em Foco. Para ele, as prévias partidárias são ruins se observadas pela lógica da unidade partidária. E ainda esfriam as negociações com legendas aliadas históricas e outras que fazem parte da base de apoio ao presidente Lula no Congresso.
Para Magela, no entanto, a pré-campanha dentro do partido está sendo feita "no mais alto nível". Ele critica a ausência de debates - Agnelo não participou de dois até o momento -, mas publicamente diz não acreditar que as prévias vão dividir o partido. "Nenhuma prévia dividiu o PT", afirmou. "Agnelo largou com uma boa vantagem, mas já estou conseguindo recuperar a defasagem", completou.
Agnelo Queiroz foi procurado pela reportagem e não foi encontrado. Em carta aberta, ele reclamou do "fogo amigo" que vem sofrendo dentro do PT. O ex-ministro afirmou que vem de dentro do próprio PT insinuações de envolvimento dele com Durval Barbosa. "Esse fato vem sendo usado em uma orquestrada campanha contra minha candidatura ao governo do Distrito Federal", disse.
Os aliados se afastam
Enquanto isso, os possíveis aliados do PT avaliam se briga de companheiro de partido equivale à briga de marido e mulher. Em caso positivo, avaliam seriamente a ideia de seguir, então, o que manda o ditado e não meterem a colher. Cresce a hipótese de lançamento de uma outra chapa, sem o PT, unindo PDT, PSDB e PMDB. Conversam nesse sentido o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) e os deputados federais Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) e Tadeu Filippelli (PMDB-DF). Além das legendas deles, o bloco englobaria também PPS, PV, PRB e PCdoB. No momento, o grupo está em compasso de espera. Querem a definição do PT. Dependendo de quem sair vitorioso das prévias, a composição pode ocorrer.
"Nós temos o nosso tempo e o PT o deles", disse o deputado Rodrigo Rollemberg (PSB), escolhido pelo partido para compor a chapa majoritária em outubro. Colocado como possível candidato ao Senado em uma chapa única de esquerda, pode até sair para governador caso as negociações entre as cúpulas não rendam frutos. "Tenho confiança que construiremos uma grande unidade dos partidos de esquerda", adiantou. Ele espera que até abril as discussões já estejam encerradas.
Por enquanto, a única coisa que está afinada entre os partidos de oposição é a necessidade de evitar a volta de Roriz ao GDF pela quinta vez. Ele foi eleito pelo voto direto em três oportunidades e indicado pelo então presidente José Sarney em 1989. "Essa é uma oportunidade para nos colocarmos como uma alternativa", disse o presidente do PT-DF. "Precisamos de um projeto para salvar Brasília", completou Magela. Há, porém, uma etapa anterior que Magela não mencionou: antes, os partidos de esquerda de Brasília precisam salvar a si mesmos.
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