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Congresso em Foco
14/9/2007 | Atualizado às 19:47
Lúcio Lambranho
Apesar da onda de protestos desencadeada na internet com a absolvição do presidente do Senado e do tom de indignação assumido pela mídia, o escândalo que mergulhou o Congresso em uma de suas piores crises não mexeu com o cidadão nas ruas.
Para cientistas políticos ouvidos pelo Congresso em Foco, além do crescente desinteresse pelas coisas que acontecem no Legislativo, o brasileiro não viu conseqüências imediatas para a sua vida na denúncia de que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), usou um lobista para pagar a pensão alimentícia à jornalista com quem tem uma filha fora do casamento.
Na quarta-feira, protestos solitários do lado de fora do Congresso e de militantes do Psol, após a divulgação do resultado da votação secreta, resumiram a pressão popular diante da maior crise ética enfrentada pela atual legislatura.
Para Alexandre Barros, professor de Ciência Política da Unieuro, em Brasília, o caso Renan foi encarado pela população como uma "briga entre elites". "É como aquele ditado: em briga de branco, preto não entra", comparou. "As pessoas pensam na sua economia de tempo e no que vão ganhar indo para a rua protestar. O caso não tinha claro o desvio de dinheiro público e como isso afetaria o bolso do cidadão", disse Barros.
Poder desprezado
Passeatas dos estudantes caras pintadas que exigiram nas ruas a saída do então presidente Fernando Collor, em 1992, ou grandes mobilizações, como as das Diretas Já, em 1984, não ocorreram no escândalo do mensalão nem agora porque a pressão popular tem sempre um endereço certo: o Executivo. É o que diz o cientista político e sociólogo Hélio Jaguaribe, para quem a maioria dos brasileiros nutre um completo desinteresse pelo Congresso.
"Há muito tempo o que acontece no Legislativo não desperta o interesse do povo. Não houve mobilização popular nenhuma quando o Congresso foi fechado e nada foi feito de imediato exigindo sua reabertura. Isso faz parte da psicologia histórica brasileira", afirmou Jaguaribe, um dos imortais da Academia Brasileira de Letras (ABL).
Caso extraconjugal
Para Carlos Luiz Strapazzon, professor de Ciência Política e Teoria Social das Faculdades Curitiba, a sucessão de escândalos políticos que povoam o noticiário e a intrincada relação entre o presidente do Senado, o lobista da construtora Mendes Júnior, Cláudio Gontijo, e a jornalista Mônica Veloso fizeram com que a população, em geral, não visse o episódio com a devida gravidade.
Na avaliação dele, para muitos dos espectadores, o que estava em julgamento na sessão de quarta-feira era apenas o caso extraconjugal do senador, e não se o peemedebista poderia ter tido contas pessoais pagas por um lobista. "Além disso, a população ainda está como se estivesse tomado o soco no estômago e sob o impacto recente da aceitação da denúncia do caso mensalão pelo Supremo Tribunal Federal", avalia Strapazzon.
A mesma opinião tem Antônio Flávio Testa, cientista político e sociólogo da Universidade de Brasília (UnB). Ele acredita que houve um exagero na exposição do caso Renan na mídia. Em vez de esclarecer, a profusão de informações dificultou o entendimento do caso, sobretudo pelas pessoas que não têm o dia-a-dia do Congresso entre as suas prioridades.
Também para Testa, o que ficou para as camadas mais populares foi o caso extraconjugal do presidente do Senado. "É isso que fica marcado para o cidadão comum. A decodificação de quem pagou a pensão à jornalista, com as possíveis implicações disso, ficou prejudicada", avaliou.
Mobilização virtual
Autor da representação que resultou na abertura do processo de cassação de Renan, o senador José Nery (Psol-PA) diz que é claro o atual "desânimo" de grande parte dos movimentos sociais, tradicionalmente responsáveis pelas principais manifestações populares, desde o escândalo do mensalão, a primeira grande crise política do governo Lula, em 2005.
Mas nem tudo está perdido. Segundo o senador do Psol, a mobilização está migrando das ruas para a internet. José Nery diz ter recebido mais de 200 e-mails de protesto somente no dia da absolvição de Renan. "Mas o processo ainda não acabou e acredito que o povo ainda tem a chance de se mobilizar. É o que pedimos, pois o caso ainda não se encerrou", exorta o senador paraense.
O líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), disse anteontem no plenário que recebeu mais de 7 mil e-mails entre quarta (12) e quinta-feira (13). "A voz do povo, para mim, é balizamento de conduta. Eu nunca recebi tanto e-mail na minha vida, a grande maioria sobre a sessão de ontem (quarta)", disse o senador do Rio Grande do Norte.
Ouvidos moucos
Já o aliado de Renan, senador Almeida Lima (PMDB-SE), tentou reduzir as reações contra a absolvição dando pouco importância para os protestos virtuais. "Os mil ou dois mil que transitam pela internet têm a pretensão de achar que podem falar por todos", criticou.
Um dos principais defensores de Renan ao longo de todo o processo, o senador sergipano disse que a sociedade não podia emitir opinião por não ter tido acesso aos autos. "Quem do povo teve acesso aos autos e às provas produzidas? O acesso que teve foi às matérias de rádio e TV", afirmou. "A sociedade viu redes de TV publicarem mentiras num dia e serem desmentidos no outro", emendou.
Disparando contra a imprensa e os senadores que votaram pela cassação do peemedebista, Almeida Lima afirmou que o Senado não pode se curvar nem mesmo diante da pressão da sociedade.
"Quando tem de decidir baseado na conclusão de cada senador, pelo conhecimento que ele possui da matéria, o Senado não pode ser pressionado em hipótese alguma, nem pela sociedade. E ela não se manifestou", declarou. "O Senado está de pé", acrescentou.
Indignação e desesperança
Embora não tenha atingido o mesmo nível de comentários registrado no final do ano passado - quando os parlamentares dobraram os seus salários e, mediante a pressão da opinião pública, voltaram atrás na decisão - o Congresso em Foco também captou a indignação dos cidadãos inconformados com a absolvição de Renan.
Seja na seção A palavra é sua, seja no espaço dedicado aos comentários localizado abaixo das matérias publicadas nos últimos dias, alguns leitores manifestaram total desesperança. "Minha sensação é de total falta de esperança no futuro deste país. Inocentar o Renan Calheiros é trair a confiança do povo brasileiro", disse Misael Martins, de São Lourenço da Mata (PE).
Muitos optaram por tons mais virulentos, adotando termos como "bandidos", "corruptos", "ladrões", "vergonha da Nação" e "pilantras", entre outros adjetivos pouco edificantes.
Ação e crítica
Um grupo de leitores preferiu o chamamento à ação. "Vamos invadir a caixa postal de todos os senadores enviando e-mails mostrando nosso NOJO e TOTAL REPÚDIO à decisão indecente tomada numa sessão secreta vergonhosa, às escondidas, com métodos medievais escrotos", conclamou João Noronha, de Brasília.
"Todos os brasileiros conscientes devem agora pelo menos buscar todos os canais de comunicação disponíveis para manifestar a contrariedade com o bofete na cara que tomaram. Vamos inundar a internet de mensagens contra esses canalhas que sugam o Brasil e seu autoprotegem", defendeu Fernanda Melanias de Souza, de São Paulo.
Mas nem todos foram unânimes em condenar o Senado. Embora em número reduzido, o site também publicou alguns comentários em que ficava expressa a crítica à cobertura do caso pela imprensa. "Mais uma
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