Pacheco sugeriu aos parlamentares que aprovassem fundo eleitoral proposto pelo governo para negociar valor intermediário no inicio do próximo ano. Sugestão foi rejeitada. Foto: Marcos Oliveria/Ag. Senado
Durante a última sessão conjunta do ano, na sexta-feira (23), deputados e senadores aprovaram um
fundo eleitoral de R$ 4,9 bilhões para bancar as eleições de 2024. Embora a aprovação tenha se dado em votação simbólica, na qual não é possível identificar como cada parlamentar se posicionou, a análise de um destaque apresentado pelo partido Novo mostrou que a elevação dos recursos para campanhas eleitorais uniu governo e oposição. O destaque previa a manutenção do valor em cerca de R$ 939 milhões, conforme previsto no projeto de lei enviado pelo Executivo. O novo valor, porém, foi proposto pelo relator, deputado
Luiz Carlos Motta (PL-SP), que ampliou em quase cinco vezes o total previsto.
De cada dez governistas, oito apoiaram a proposta de turbinar os gastos públicos com campanha eleitoral. A decisão também teve amplo apoio dos oposicionistas. Quase metade da bancada do PL, partido do relator e do ex-presidente Jair Bolsonaro, posicionou-se a favor da medida. A manutenção dos quase R$ 5 bilhões foi defendida pelo presidente do Congresso,
Rodrigo Pacheco (PSD-MG). A admissibilidade da proposta, submetida à Câmara, foi rejeitada por 355 votos a 101.
De acordo com
O Globo, somados, PT e as demais siglas que dão sustentação à gestão do presidente Lula contribuíram com 298 (84%) desses votos. Do PL, vieram 39 votos (46% dos integrantes do partido que participaram da sessão). Pacheco defendeu que fosse aprovada a versão proposta pelo governo. Ele se comprometeu a negociar com o Executivo que o valor final fosse o aplicado na eleição municipal de 2020, com a reposição inflacionária. A previsão, segundo o senador, era de que o valor ficaria em torno de R$ 2,7 bilhões. O apelo, no entanto, foi rejeitado pela maioria dos parlamentares.
No PT, a deputada
Camila Jara (MS) foi a única a votar a favor do destaque, ou seja, pela redução do fundão. Essa também foi a posição de
Duda Salabert (MG), a única pedetista a divergir de sua bancada. Já no PSB, foram três que divergiram da votação do restante da base:
Tabata Amaral (SP),
Duarte Jr. (MA) e
Heitor Schuch (RS). Segundo reportagem de Bruno Alfano, no
Globo, na ala governista do Centrão, União Brasil, PP e Republicanos tiveram 89% de votos contrários à rediscussão do valor, o equivalente a 125 deputados.
Na oposição, deputados como
Soraya Santos (RJ) e
Bibo Nunes (RS) alinharam-se à base governista na manutenção do valor do fundo. Ambos são do PL, que rachou e entregou quase metade de seus votos contrários ao destaque do Novo.
O líder do PL na Câmara,
Altineu Côrtes (RJ), argumentou que o valor de R$ 2,3 bilhões em 2020 se deu em uma situação atípica, de pandemia. Já o líder do PT,
Zeca Dirceu (SP), alegou que as receitas do país estão na casa dos trilhões e que o montante de R$ 4,9 bilhões representa apenas uma pequena fração. "Nós não estamos tirando dinheiro da Saúde, nem da Educação, que tiveram aumento de investimento de R$ 50 bilhões e R$ 20 bilhões (respectivamente). Os recursos do fundo eleitoral saíram das emendas que as bancadas estaduais tinham direito e são essenciais no exercício da democracia. Estamos falando de 0,2% das receitas do país. Por isso é razoável. E as eleições municipais são muito caras e importantes para a democracia", discursou.
Apesar do pronunciamento do líder do PT, rubricas como a Farmácia Popular, o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), o Auxílio-Gás e as universidades federais tiveram cortes no orçamento aprovado pelo Congresso em relação ao que o governo enviou.
Acostumados a se enfrentar no plenário, o Psol e o Novo se aproximaram na votação do destaque. Foram os partidos que mais se posicionaram contra o aumento do fundo eleitoral. "A proposta original do Executivo para a lei orçamentária em relação ao fundão eleitoral era de R$ 900 milhões. Só que não. Parece que isso não era para valer pelo encaminhamento de parte da base do governo. Parece que Bolsonaro fez a mesma coisa: joga para o parlamento a responsabilidade de chegar a esses valores estratosféricos. Esse valor de R$ 5 bilhões é injustificável, indefensável", criticou o deputado
Chico Alencar (Psol-RJ).
Rodrigo Pacheco lamentou a decisão do Congresso. "O valor de R$ 5 bi é o início do fim do financiamento público. Ano que vem estaremos discutindo o retorno do financiamento de pessoas jurídicas em campanhas eleitorais. Não tenho dúvida disso", previu. O Congresso aprovou o orçamento com o maior volume de recursos de emendas parlamentares de sua história.
Posição dos partidos em relação ao destaque do Novo:
Sim - pelo fundo de R$ 939 milhões
Não - pelo fundo de R$ 4,9 bilhões
PARTIDO |
DEPUTADOS PRESENTES |
CONTRA |
A FAVOR |
% DA BANCADA CONTRA O DESTAQUE
|
PT |
65 |
64 |
1 |
98 |
PP |
48 |
46 |
2 |
96 |
União |
54 |
44 |
10 |
81 |
Republicanos |
37 |
35 |
2 |
95 |
MDB |
37 |
31 |
6 |
84 |
PSD |
37 |
31 |
6 |
84 |
PDT |
17 |
16 |
1 |
94 |
PSB |
13 |
10 |
3 |
77 |
PCdoB |
6 |
6 |
0 |
100 |
Avante |
5 |
5 |
0 |
100 |
Psol |
13 |
4 |
8 |
31 |
Solidariedade |
3 |
3 |
0 |
100 |
PV |
4 |
3 |
1 |
75 |
Rede |
1 |
0 |
1 |
0 |
PL |
82 |
38 |
43 |
46 |
Podemos |
14 |
10 |
4 |
71 |
PSDB |
11 |
5 |
6 |
45 |
Patriota |
5 |
3 |
2 |
60 |
Cidadania |
3 |
1 |
2 |
33 |
Novo |
3 |
0 |
3 |
0 |