Um conjunto de propostas legislativas, batizado por ambientalistas como "
Pacote da Destruição", está em andamento no Congresso Nacional, com 25 projetos de lei e três emendas constitucionais
(veja lista mais abaixo) com grandes chances de avançar rapidamente. O alerta é do Observatório do Clima, principal rede da sociedade civil brasileira sobre a agenda climática, com 107 integrantes, entre ONGs ambientalistas, institutos de pesquisa e movimentos sociais.
O sinal amarelo é aceso no momento em que o
Rio Grande do Sul enfrenta a maior catástrofe ambiental de sua história, com inundações que afetam mais de 1 milhão de pessoas e deixaram, até o momento, ao menos 100 mortos, além de milhares de desabrigados.
Uma tragédia fruto dos efeitos das mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global, como há anos advertem os cientistas.
Entre as iniciativas nocivas ao meio ambiente, segundo o Observatório do Clima, estão anistia para desmatadores, flexibilização do Código Florestal e sobre regularização fundiária, exploração mineral em unidades de conservação e
redução da reserva legal da Amazônia de 80% para 50%. Esse último, aliás, estava na pauta da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) desta quarta-feira, mas teve sua votação adiada porque o relator,
Marcio Bittar (União-AC), faltou, por problema de saúde.
Satisfações à sociedade
Coordenador de Comunicação e Política Internacional do Observatório do Clima, Claudio Angelo espera que a catástrofe no Rio Grande do Sul sirva para os parlamentares repensarem suas atitudes em relação à agenda ambiental e climática. Se isso vai ocorrer, ele tem dúvidas. "O Congresso brasileiro está num momento de dar satisfações para a população, de assumir suas responsabilidades. A gente espera que os congressistas se deem conta da gravidade do momento e do absurdo que é essa agenda muito negativa que tentam passar. E estão conseguindo. Você semeia boiada para colher tempestade. É o que está acontecendo agora", disse Claudio ao
Congresso em Foco.
O Observatório do Clima ressalta que o ano passado ficará marcado por retrocessos ambientais significativos no Congresso, como a Lei 14.701, que resgatou a tese do marco temporal logo após o Supremo Tribunal Federal declará-la inconstitucional, e a Lei 14.785, que ampliou a liberação de agrotóxicos. De acordo com a rede, o conjunto de medidas em discussão no Congresso pode trazer danos irreparáveis aos ecossistemas brasileiros, às comunidades tradicionais, ao clima global e à segurança de cada cidadão.
O chamado "Pacote da Destruição" inclui propostas recentemente elaboradas e projetos antigos que ganham impulso rapidamente, muitas vezes passando pelas comissões de forma conclusiva, sem passar pelo Plenário. Procurada pelo
Congresso em Foco, a Frente Parlamentar da Agropecuária contestou os argumentos do Observatório do Clima. Para a bancada ruralista, chamar conjunto de projetos apoiados pela frente de "pacote da destruição" é "retórica política". "Os projetos são votados e aprovados por duas Casas Legislativas. Não é uma bancada, é o Parlamento. O Brasil possui 66% do seu território preservado. Nenhum projeto amplia área de produção ou incentiva desmatamento ou crimes ambientais, afinal é crime. Não poderia estar na legislação", respondeu.
Veja as propostas listadas pelo Observatório do Clima e o alerta feito pela organização para cada uma delas: