Estava no banheiro d?o aeroporto? quando, inevitavelmente, escuto um?a conversa? entre dois rapazes. O primeiro pergunta ao segundo: ?"O? que f??az o Paulo?". ??O segundo responde: ?"O Paulo é advogado".
Após ?a resposta?,? o primeiro comenta: ?"?De advogado e psicólogo tenho medo"?.
Não permaneci no banheiro para ouvir o fim do diálogo, mas foi o suficiente para eu sair dali pensando e concluir: sem generalizar, de alguns advogados e psicólogos temos que ter medo?, sim?. Quantos ?seriam esses "alguns",? não sei dimensionar.
Provavelmente?,? o medo ?mencionado pelo rapaz dev?e?-se ao fato ?de ?que?,? por ausência ou presença de um advogado?,? pode-se?,? justa ou injustamente?,? receber uma punição. Ou seja, pode ser injustiçado.
Avancei no raciocínio e conclu?í? que?,? às vezes?,? devemos ter medo não só de um profissional individualmente, mas da ação coletiva das corporações, nos caso dos advogados?,? a ?Ordem dos Advogados do Brasil? (OAB).
A Ordem dos Advogados do Brasil é uma ?a?utarquia ?f?ederal. Ela deveria zelar pela ética no relacionamento dos advogados entre si?,? e entre estes e seus clientes. Também deveria ?se ?posicionar? na defesa da ?d?emocracia e do Estado de Direito. E tem falhado ?em ambos.
No que diz respeito ao papel de zelar pela ética?, sabe?-se? que muitas das queixas registradas na OAB contra alguns profissionais não chega ao fim merecido. Quanto à defesa da ?d?emocracia e do Estado de Direito, após tomar posição política favorável ao impeachment de Dilma, pode-se afirmar que a OAB abandonou o papel de defender a Constituição e colocou-se a favor de um golpe de Estado.
Essa posição da OAB d?á? razão ao rapaz do diálogo transcrito acima: há que se ter medo de (alguns) advogados. No caso?,? daqueles que comandam a OAB.
O rapaz também declarou ter medo de psicólogos, não generalizando?. Imagine?i que tenha se referido? a psiquiatras.
Com a internet, mesmo que você não procure?,? alguns temas parece que nos procuram.
Todos os dias, nas redes sociais, passeio rapidamente sobre alguns textos e leio os que me interessam. Dia desses?,? chegou-me um ?texto ?assinado pelo senhor Joaquim Motta, que? se identifica como psiquiatra e sociólogo. Comecei a lê-lo porque o título me chamou a atenção: "Uma pessoa pra namorar a Dilma".
É daqueles textos em que ?você começa a ler e ?continua para ver onde vai dar. O autor cita Freud para dar um ar científico, porém não foge do senso comum do arraigado preconceito machista. Usa o preconceito e o "científico" para pregar a ren?ú?ncia de Dilma - ou seja, sequer tem coragem, como muitos, de assumir que são golpistas. Os golpistas envergonhados pedem a ren?ú?ncia.
O texto "Uma pessoa pra namorar a Dilma" cairia bem para um papo de banheiro de homem, onde os temas "científicos" são tratados geralmente com profundidade machista.
Infelizmente?,? não é o único texto que existe de violência política de ordem sexista contra Dilma. Muitos dos diálogos, palavras de ordem e textos que leio ou escuto t?ê?m um forte componente de machismo e de violência sexista, muito mais que em papo de banheiro de homem, tanto que ?a conjuntura ?levou a ONU Mulheres a se manifestar.
?No último dia 26, ?a ONU ?M?ulheres divulgou uma
nota contra a ruptura da ?d?emocracia e do Estado de Direito?. N?ela?,? ?diz que "?c?omo defensora dos direitos de mulheres e meninas no mundo, a ONU Mulheres condena todas as formas de violência contra as mulheres, inclusive a violência política de ordem sexista contra a presidenta da República, Dilma Rousseff. Nenhuma discordância política ou protesto pode abrir margem e/ou justificar a banalização da violência de gênero - prática patriarcal e misógina que invalida a dignidade humana".
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