Prédio do Congresso Nacional visto a partir do Supremo Tribunal Federal (STF). Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
A maior parte dos deputados e senadores do Congresso Nacional concorda com a proposta de se mudar a Constituição para que ministros do
Supremo Tribunal Federal (STF) tenham um
mandato com tempo definido. A informação é do
Painel do Poder, pesquisa do
Congresso em Foco feita com líderes do Legislativo federal.
Hoje, não há limite de tempo para que um ministro fique na Suprema Corte. A regra é de aposentadoria compulsória aos 75 anos, independente da idade que o magistrado tinha quando assumiu a cadeira.
Para a realização da pesquisa, o
Painel do Poder pediu que os parlamentares entrevistados respondessem se concordam ou não com uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que instituísse um mandato para ministros do STF. As respostas estão em uma escala que vai de 1 a 5 (1 = discorda totalmente; 5 = concorda totalmente). Eis os resultados:
- Uma maioria de 57,35% dos entrevistados disse concordar parcial (8,82%) ou totalmente (48,53%) com a proposta. Outros 14,71% se disseram indiferentes à ideia.
- Foram 16,18% os que se disseram totalmente contra a PEC, enquanto 10,29% declararam discordar parcialmente. Isso significa que, na prática, pouco mais de um quarto do Congresso se opõe aos mandatos no STF enquanto mais da metade é a favor.
- Parlamentares "independentes" - que não fazem parte da base do governo no Congresso nem da oposição - no geral se dizem a favor da proposta. Na escala de 1 a 5, a concordância desse grupo fica em 4,18, sendo que 5 indicaria concordância total com a proposta.
Chances baixas de aprovação
O
Painel do Poder também questionou os parlamentares sobre como avaliam as chances de aprovação do projeto: se ele tem chances de virar lei nos próximos seis meses, independentemente da posição pessoal do entrevistado. O resultado indica ceticismo com a pauta: só
19,58% dos congressistas veem chances altas (
14,29%) ou muito altas (
4,29%) para o projeto, enquanto
50% consideram que as chances são baixas (
15,71%) ou muito baixas (
31,43%).
"
Quando perguntados sobre chances de aprovação, os parlamentares são mais pragmáticos", explica o pesquisador
André Sathler, um dos coordenadores do
Painel do Poder. "Ao invés de olharem somente para si próprios, como é o caso quando perguntados sobre nível de aprovação, eles têm que pensar no contexto mais amplo: nos pares, na situação geral, etc."
O economista
Ricardo de João Braga, que também coordena o
Painel do Poder, explica que os parlamentares também levam em conta fatores externos para avaliar se uma proposta tem chance de avançar. "
Outros atores políticos entram em campo, mobilizando outras forças. O governo é um deles. O próprio STF também. Embora uma maioria de parlamentares possa concordar com algo, o presidente da Câmara, do Senado, os presidentes de comissões têm aquilo que a gente chama de poder de agenda muito forte - o que eles querem colocar na pauta".
Atualmente, tramita no Senado uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que
institui um limite de 8 anos para os mandatos de ministros da Suprema Corte, com autoria do senador
Plínio Valério (PSDB-AM) e relatada pela senadora
Tereza Cristina (PP-MS). O presidente da Casa,
Rodrigo Pacheco (PSD-MG), já defendeu a medida.
Paralelamente, o Congresso vem passando por momentos de tensão com o Judiciário, com o avanço de propostas que limitam o poder dos ministros da Suprema Corte. Nesta quarta-feira (9), a Comissão da Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara
aprovou quatro medidas que atingem o STF, estabelecendo novas possibilidades de crime de responsabilidade para os ministros e limitando a tomada de decisões monocráticas (individuais, sem o aval dos outros ministros). Os projetos ainda precisam passar pelo plenário da Câmara.
A senadora
Zenaide Maia (PSD-RN) diz que não se debruçou ainda sobre o tema, mas considera que o Congresso tem outras prioridades: "Temos juros extorquindo as famílias brasileiras. Temos problemas graves na saúde e na segurança pública que precisam ser enfrentados com urgência. Precisamos priorizar, por exemplo, a viabilização na prática do Sistema Único de Segurança Público, o Susp, que foi criado mas depende de recursos para se financiar".
Ela acrescenta que a ansiedade de alguns congressistas para impor restrições ao mandato dos ministros do STF pode ser uma reação às
recentes decisões do Supremo que obrigam o Congresso a tornar as emendas parlamentares transparentes. Lembrando que votou contra a PEC da Bengala, que elevou para 75 anos a idade para aposentadoria compulsória dos magistrados, ela afirma: "Nesse caso das emendas, o Supremo está certo. Sou a favor das emendas parlamentares, desde que sejam transparentes e tenham equidade. Sou contra o orçamento secreto".
O humor do Congresso
O Painel do Poder é a única pesquisa no Brasil a ouvir exclusivamente os líderes políticos mais influentes no Congresso Nacional para aferir as tendências predominantes na Câmara e no Senado quanto ao relacionamento com o governo federal e às políticas públicas.
Feita no formato de painel, o que permite aferir as mudanças de humor no Congresso, a pesquisa permite a tomadores de decisões antecipar cenários e fazer prognósticos. A cada três meses, ouvimos cerca de 70 congressistas que consideramos ter maior influência no Legislativo. O resultado é publicado, em parte, no nosso site.
Mas você pode comprar o relatório completo da pesquisa, contratar perguntas exclusivas ou mesmo agendar uma apresentação personalizada. Para isso, contacte nossa equipe de marketing.