[caption id="attachment_101211" align="alignleft" width="290" caption="Blogueira cubana esteve no Congresso cercada por parlamentares da oposição"]
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[fotografo]Antonio Cruz/ABr[/fotografo][/caption]Em visita ao Brasil, a blogueira cubana Yoani Sánchez fez um discurso enfático com a ditadura instalada há mais de 50 anos pelo líder revolucionário Fidel Castro, atualmente representado no poder pelo irmão militar, Raul Castro. Ao participar, na Câmara, da exibição do documentário
Conexão Cuba-Honduras, do baiano Dado Galvão, Yoani pôde enfim assistir ao filme depois de ter enfrentado a hostilidade de manifestantes brasileiros em Feira de Santana (BA), na segunda-feira (18). Festejada por parlamentares tucanos, que lotaram uma dos auditórios da Casa, Yoani teve toda a atenção da imprensa política para dizer, sem interferências, que o seu
blog (
Generación Y) é visto como uma "ameaça" ao sistema cubano.
Tumulto marca visita de Yoani Sanchez ao Congresso
Yoani disse que, ao criar o
blog Generación Y, não pensou que sua vida fosse mudar tão drasticamente. Com indagações, a blogueira acentuou o tom crítico. "Por que um blog teria que trazer como consequência a vigilância policial, a satanização pública por meio da propaganda oficial? Por que um
blog pacífico, moderado - em que falo do dia-a-dia, de minha família, de meus amigos, meus compatriotas -, por que um
blog assim teria que me trazer como castigo a impossibilidade de sair do meu próprio país? Por que um simples
blog teria como consequência a lapidação pública de minha imagem, de meu nome, na imprensa oficial?", acrescentou Yoani, ela mesma dando a resposta.
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"Porque em Cuba vivemos uma censura, um grande monopólio informativo que estão nas mãos de um único partido permitido. Um partido que não permite a existência de outras forças políticas, que pensa que pode falar em nome de uma nação", fustigou a cubana da capital Havana, muito aplaudida ao final da fala e com flores brancas à sua frente. "Cuba não é um partido, uma ideologia, um homem. Cuba é plural, diversa, com muitas cores."
Depois de 20 tentativas frustradas, em seis anos, de viajar pelo mundo (o governo cubano só recentemente flexibilizou a concessão de passaportes), a também filóloga agradeceu pelo "respeito e consideração" recebidos de parte dos brasileiros - apesar da claque de entidades como União Nacional de Estudantes (UNE) e Central de Movimentos Populares (CMB) que, impedidas de adentrar a sala onde o filme foi exibido, gritavam e exibiam cartazes com palavras contra a estrangeira.
"Obrigado por receber hoje uma pequena cidadã com uma grande responsabilidade. Com a responsabilidade de narrar essa Cuba real, silenciada pela propagada oficial. Essa Cuba das ruas, do povo, uma Cuba onde opinião é traição, onde abrir um blog e relatar as questões cotidianas e narrar o dia-a-dia se converte em um problema político", disse Yoani, sentada à mesa do auditório entre o deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), responsável pelo evento, e o senador
Aécio Neves (PSDB-MG).
Maioria tucana
Participaram da cerimônia, além dos parlamentares já mencionados, os senadores Eduardo Suplicy (PT-SP), Alvaro Dias (PSDB-PR) e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP); e os deputados Rubens Bueno (PPS-PR), Alfredo Sirkis (PV-RJ), Ronaldo Caiado (DEM-GO),
Carlos Sampaio (PSDB-SP),
Glauber Braga (PSB-RJ) e
Mara Gabrilli (PSDB-SP), entre outros. A presença mais polêmica foi a do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ). Egresso do militarismo, Bolsonaro teve direito até a assento à mesa e, ao lado de Suplicy, criticou a democracia praticada pelo governo petista. Não mereceu resposta do senador, que pouco falou no evento.
Além de Suplicy,
Glauber Braga era o outro governista na audiência. Ao contrário do petista, que apoia publicamente a causa de Yoani, Braga questionou a iniciativa do PSDB em exaltar o papel da cubana. Foi contraditado e até ironizado ("Vai pra Cuba!", brincava
Mendonça Filho) pelos tucanos, antes de ser respondido ponto a ponto por Yoani em questões como a opinião da cubana sobre a base naval de Guantánamo, mantida pelos Estados Unidos na costa cubana. Há denúncias de tortura contra presos políticos no local.
Por sua vez, Suplicy - que chegou a chorar em plenário, ontem (19), ao repudiar a manifestação em Feira de Santana - leu uma carta por ele escrita ao embaixador cubano no Brasil, Carlos Zamora, ressaltando a impotrância da visita de Yoani. Na segunda-feira (18), acompanhando Yoani naquele município baiano, Suplicy bateu boca com manifestantes contrários à ideologia defendida pela blogueira.