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Congresso em Foco
10/04/2013 | Atualizado às 14h37
"A corrente guerra cultural anti-homófobos versus homófobos beneficia mais os últimos em termos de exposição e impacto eleitoral. Eles descobriram no passionalismo homofóbico - aparente substituto para o racismo passional - promissor filão eleitoral"
Ainda não está claramente definido se no Brasil existe consolidado um eleitorado gay. Antigamente não existia. Lembro-me dos decepcionantes 5 mil votos de Hebert Daniel, com seu incomparável vigor intelectual e ético, em 1986. O próprio Jean Willys teve uma votação modesta, em 2010, e parte dela devida ao status de celebridade. Não existe ainda um claro líder político orgânico da causa dos direitos dos homossexuais. Possivelmente numa próxima eleição ele beneficiar-se-á mais desse confronto. De qualquer jeito isso não vai chegar aos pés do maná eleitoral capitalizado pelo outro lado. Alguém duvida que Bolsonaro e agora Feliciano serão campeões de voto em 2014? Se há dúvidas se de fato consolida-se um eleitorado gay estruturado e politicamente coerente - refiro-me a um contingente eleitoral, não a "movimentos sociais" -, é inegável que há um pujante eleitorado antigay. Religioso, de base na direita cultural evangélica ou católica, ou até "laico", ele se fixaria mais no padrão Bolsonaro, o do machismo anti-gay (aquele do armário, dirão as más línguas). A corrente guerra cultural anti-homófobos versus homófobos beneficia mais os últimos que os primeiros em termos de exposição e impacto eleitoral. Sem discurso, de inteligência e nível intelectual bastante limitado, eles descobriram no passionalismo homofóbico - no Brasil miscigenado, um aparente substituto para o racismo passional - promissor filão eleitoral. Mas, e a causa? A boa causa dos direitos civis e de cidadania dos homossexuais? O avanço de suas questões concretas: direito ao casamento civil, contra a discriminação no trabalho ou no lazer? As guerras de mídia e o conflito, tal como é teatralizado pelos seus atores, fazem avançá-la? Francamente, tenho algumas dúvidas a respeito. Tanto "ruído e fúria" parece-me levar mais para uma soma zero. Pode ser bom para as lideranças mas não necessariamente para a causa, em si. Na minha visão, a afirmação dessa causa está mais vinculada ao avanço na sociedade brasileira de um sentimento de tolerância, pluralidade, respeito à diferença, espírito democrático e de cidadania, em geral, do que à afirmação assertiva de um orgulho comportamental necessitando se autoafirmar a todo momento. O avanço dessa causa não se dará pelo aumento do contingente de homossexuais na sociedade brasileira - esse vai se manter estável, pois a população homossexual é geneticamente estável. O avanço vai se dar pelo aumento do contingente de heterossexuais desprovidos de qualquer sentimento de hostilidade ou preconceito. A conversão de heteros em homos bem como aquele vice-versa imaginado pelos pastores homófobos são igualmente ilusórios, delirantes. A questão não é se a sociedade cultua ou discrimina os gays. A questão é se a sociedade aprende a tolerar e aceitar as diferenças. Quando olhamos a questão por esse ângulo, entendemos que o caso não é de educação sexual, mas o de educação cidadã e que o eixo político não é afirmar o "orgulho", mas ampliar a aceitação do outro, do diferente. Nesse sentido, é mais importante, por exemplo, dialogar com os evangélicos - esse contingente imenso da população brasileira - em torno da aceitação das diferenças, do respeito ao outro e do fim à discriminação, do que ajudar a promover, entre eles, os mais extremados e oportunistas, indiretamente auxiliando-os a se tornarem porta-vozes de um contingente religioso que, de fato, não representam ou representam mal. Por mais atraente a curto prazo que possa ser a exposição gerada pelo confronto, suspeito que ele seja contraproducente no plano maior, que é o da construção de uma sociedade democrática, plural e sem discriminação, que promova a felicidade e reduza o sofrimento. Veja ainda: Textos de outros colunistas Matérias e artigos sobre igrejas e religião Tudo sobre Marco Feliciano Curta o Congresso em Foco no Facebook Siga o Congresso em Foco no TwitterTags
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