Dilma Rousseff garante à
Folha de S. Paulo que
não vai cair. Mas, parece até agora não ter caído para ela a ficha de que só a reconquista do apoio popular evitará sua queda; e de que são bem poucos os cidadãos comuns que vão mover uma palha para salvar uma presidenta subserviente às imposições draconianas do capitalismo perverso e rapinante.
Pelo menos um terá de cair, Dilma ou o estranho no ninho Joaquim Levy. A escolha cabe a ela: se der uma guinada de 180º na política econômica talvez sobreviva, caso contrário seus dias estão contados. Tomara que, depois de tantos erros, acerte uma vez!
Para inspirá-la, publico em seguida um artigo antológico do veteraníssimo Jânio de Freitas sobre a coragem e discernimento políticos do Syriza e do premiê Alexis Tsipras. Eles são tudo que o PT e Dilma precisam se tornar caso queiram escapar do impeachment anunciado.
Mire-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas, Dilma! Elas votaram com seus maridos exigindo respeito pelo orgulho e raça de Atenas.
NÃO
Jânio de Freitas
Os gregos tiveram uma oportunidade jamais dada aos brasileiros quando das ações opressivas do FMI -que já ronda por aí. Antes de outros motivos, porque nunca tivemos um presidente que se opusesse ao cerco opressivo com a franqueza verbal e política do primeiro-ministro Alexis Tsipras.
As exigências sufocantes feitas pelo triunvirato FMI-Banco Central Europeu-Comissão Europeia receberam uma definição sintética do governo Tsipras. Se da Grécia já devastada se exigem mais medidas contra a população, para que o país receba um empréstimo complementar ou, do contrário, seja excluído da "zona do euro", "isso é chantagem. Chantagem contra o povo grego".
É o método de ação do FMI. São condições terríveis enlaçadas com ameaças terríveis. É o "dá ou desce" explícito. É a projeção, no plano das instituições e dos países, da chantagem do sequestrador para receber o cartão para retirar o dinheiro do sequestrado, é a chantagem do assaltante armado. Os "acordos" exigidos pelo método do FMI são como a derrota que entrega a senha do cartão bancário.
Os gregos são acusados de não terem melhorado suas contas oficiais. Seja depois de aplicado pelo governo anterior o plano de austeridade (equivalente ao "ajuste" fiscal de Joaquim Levy/Dilma Rousseff aplaudido pelo FMI), seja com o empréstimo mais recente. As duas afirmações são verdadeiras.
A Grécia não poderia melhorar: o plano imposto pelo triunvirato derrubou um terço do PIB grego. Um em cada dois aposentados foi posto na pobreza. O desemprego, o abandono da saúde pública e a desvalorização dos salários provocam o exílio de multidões de jovens.
Sobre as últimas parcelas de empréstimo já foi dito que o dinheiro apenas atravessou a rua: do Banco Central Europeu para os bancos, sobretudo alemães e franceses, em favor dos quais é feita a cobrança à Grécia pelo FMI e pela Comissão Europeia. Como a Grécia não tem mais dinheiro, o triunvirato acena com o dinheiro a juros e com as condições degradantes para cedê-lo. Os gregos dizem um honrado "não". Desgraça por desgraça, que seja sem humilhação, sem vender a dignidade.
Alemães e ingleses destacam-se entre os algozes da Grécia. São os principais contribuintes para a desgraça da Grécia nos últimos 60 anos do século 20. Invadida pelos italianos nos primórdios da Segunda Guerra Mundial, a Grécia não se curvou, apesar de sua fragilidade militar. Para evitar a vergonhosa derrota do aliado Mussolini, Hitler levou os alemães a invadirem e dominarem a Grécia. Foram atrocidades horrendas que arrefeceram a resistência grega. A indenização paga pelos alemães, depois da guerra, não cobriria sequer um dia de mortes e destruição de sua presença na Grécia.
Os ingleses, por sua vez, do início dos anos 1800 à Segunda Guerra, saquearam riquezas históricas da Grécia. O que há de bens gregos em museus e em coleções particulares na Grã-Bretanha pagaria muitas dívidas gregas. A Grécia nunca foi ressarcida nem por arremedos de indenização.
Com a expulsão dos alemães e italianos, da qual participaram os republicanos, comunistas e socialistas iniciaram a luta para dar fim à monarquia grega. Eram os Kapetânios, que recebiam ajuda soviética. Churchill decidiu intervir, com o projeto de restabelecer o domínio econômico inglês vigente na Grécia até a invasão italiana. E Stalin repetiu o que fizera com os republicanos na Espanha.
O fim da guerra civil não se deu só com o extermínio dos kapetânios. Deixou um legado de violência e autoritarismo que se prolongou por dezenas de anos em ditaduras, golpes, assassinatos, masmorras, corrupção e pobreza. Mas a Grécia hoje é republicana e com uma democracia que ouve a voz dos cidadãos, uma bela raridade.
E é a Europa que os condena? A capa da alemã "Der Spiegel" de 20 de junho foi coberta pela imagem de prédios e ruas desequilibrados e amontoados. Em grande letras: "Das Beben", o tremor [de terra]. Remete à "Derrota da Europa" com o acúmulo de problemas explosivos: "Os políticos parecem desamparados, os cidadãos não creem mais no projeto histórico de unidade europeia".