Bolsonaro grita com a repórter da CNN Brasil ao ser questionado sobre vacina [fotografo] Reprodução/YouTube/CNN Brasil [/fotografo]
Jean Paul Prates*
Era uma vez uma "
uma gripezinha" que se transformou em um grande negócio. No meio do caminho, mais de 500 mil mortos, um país traumatizado, milhões de pessoas acossadas pelo desemprego e pela fome. É um enredo tão radical que não foi cogitado sequer nos piores pesadelos dos democratas que alertaram a nação sobre os riscos de apostar em
Bolsonaro. Com o cinismo que lhe é peculiar, o rufião da morte que ocupa o Planalto encontrou uma maneira macabra de perverter a máxima segundo a qual uma crise é sempre sinônimo de oportunidade.
Desde que a
Organização Mundial de Saúde reconheceu a pandemia de coronavírus, em março de 2020, estava claro que o Brasil precisaria de testagem em massa para detectar os contaminados, precisava de medidas de prevenção -distanciamento social, máscaras, campanhas informativas. Estava óbvio que o povo precisava de socorro contra o paradeiro econômico. Precisava de
vacinas.
Bolsonaro riu de tudo isso. Para gente como ele, cuidar de vidas não dá lucro. Mas na abordagem descarada de uma crise, sempre é possível encontrar uma oportunidade-ainda que se trate da maior crise vivida pelo país em sua história recente e que vidas brasileiras estejam em jogo.
Primeiro, foi a aposta na
cloroquina, que encheu os bolsos de empresários farmacêuticos claramente identificados com o bolsonarismo. Só o laboratório Apsen - maior fabricante do medicamento e presidido por Renato Spallicci, apoiador de primeira hora de Bolsonaro - foi brindado com R$ 153 milhões em contratos assinados com o
BNDES para pesquisas e ampliação da capacidade produtiva. Enquanto isso, o Bolsonaro descartava as vacinas: ridicularizava a
Coronavac, atrapalhava a produção da
AstraZeneca, sabotava a aprovação da
Sputnik e ignorava as ofertas da
Pfizer.
Pelo que sabemos agora, o que parecia ser fanatismo
antivax pode ter sido um episódio abjeto, calculado e homicida de "quem dá mais". A oportunidade da compra de 20 milhões de doses da vacina indiana
Covaxin, negócio de R$ 1,6 bilhão, com preço superfaturado em 1000%. Uma vacina que tem a eficácia e a segurança questionadas e não contava, à época do contrato, com a aprovação da
Anvisa.
Este novo enredo macabro foi confirmado ao Brasil na última sexta-feira (25). Ao longo de oito horas e 35 minutos (das 14:17h às 22:52h), a
CPI da Covid do Senado ouviu o depoimento do deputado
Luís Miranda (DEM-RJ) e de seu irmão Luís Ricardo Miranda, chefe de importação do Departamento de Logística em Saúde do Ministério da Saúde.
Eles confirmaram à CPI que havia fortes elementos de suspeita de corrupção no processo de compra da Covaxin, que ocorreram pressões poderosas para que fosse dado andamento ao negócio. E que, desde 20 de março deste ano, Bolsonaro sabia de tudo. Segundo eles, o presidente da República teria classificado a trama como "coisa de fulano" e que iria determinar uma investigação da Polícia Federal sobre o caso.
Após a pressão dos senadores da CPI, o país ficou sabendo que "fulano" é o deputado federal
Ricardo Barros (PP-PR), prócer do Centrão, líder do governo Bolsonaro na Câmara, ex-ministro da Saúde de Temer e autor de uma emenda que teria facilitado a importação da Covaxin.
Quanto à investigação da Polícia Federal, não há registros de que ela tenha sido aberta, ainda que a lei brasileira exija que o ocupante de função pública denuncie qualquer irregularidade da qual tome conhecimento, para não incorrer em crime de prevaricação.
As investigações ainda estão longe de acabar. Quanto mais se desfia o novelo das ações de Bolsonaro frente à pandemia, mais indícios de crime aparecem. O Brasil exausto, porém, já não pode ter dúvidas: não é incompetência, não é fanatismo. Estamos sendo governados por um rufião da morte.
*Jean Paul Prates é senador da República pelo Rio Grande do Norte e líder da Minoria na Casa
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