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De pé, à esquerda, Wladimir discute com Júlio Delgado (segurando o papel)
O Partido Socialista Brasileiro (PSB) vai ajuizar uma representação por quebra de decoro parlamentar ainda nesta semana, no Conselho de Ética da Câmara, contra o deputado
Wladimir Costa (SD-PA), acusado de assédio sexual pela jornalista Basília Rodrigues, da rádio CBN. Recentemente, o parlamentar causou polêmica por ter feito uma
tatuagem temporária no ombro com o nome "Temer". Agora, é acusado pela repórter de tê-la constrangido durante um encontro de parlamentares em Brasília. Há áudio e imagens de vídeo que confirmam a situação relatada por Basília.
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Também conhecido como "deputado do confete" - alcunha em alusão ao artefato por ele para disparar confetes em plenário, em 17 de abril de 2016, ao votar pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff -, Wladimir ofendeu Basília na frente de colegas de imprensa na noite da última terça-feira (1°). O parlamentar esteve em um jantar com cerca de 100 deputados da base aliada do presidente Michel Temer e afirmou ter mostrado aos pares a tatuagem em homenagem ao peemedebista.
Na saída do jantar, em conversa com os profissionais da notícia, o deputado foi abordado sobre o assunto e deu uma declaração considerada machista por Basília. Diante da discussão sobre se a tatuagem era definitiva ou de henna, a repórter afirma ter perguntado se o deputado poderia mostrar a imagem, para que os repórteres vissem qual versão era a verdadeira. "Pra você, só se for o corpo inteiro", respondeu o deputado, um dos que votaram contra o prosseguimento da denúncia por corrupção passiva que Temer enfrenta depois da delação do Grupo JBS.
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A atitude do deputado causou revolta de entidade de jornalistas e mesmo entres seus pares. Em texto publicado em seu perfil no Facebook e intitulado "
Um ensaio sobre a idiotice", a repórter relata a conversa com Wladimir.
Um dos principais opositores do governo Temer na Câmara, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) confirmou ao
Congresso em Foco que a representação será ajuizada no Conselho de Ética até a próxima quarta-feira (9). Ele explicou que só não o fez ainda porque preferiu convencer o comando de seu partido a bancar a iniciativa, procedimento que acelera a tramitação do pedido, com protocolo direto no colegiado. Caso agisse individualmente, destacou Júlio, sua demanda teria que passar antes pela Corregedoria da Câmara, dominada pelos "aliados de Temer" - o presidente é Evandro Gussi (PV-SP),
um dos 263 deputados que votaram a favor de Temer na última quarta-feira (2).
"Se eu fizesse isso pessoalmente, a representação iria para a Corregedoria e poderia ficar lá
ad eternum", declarou o deputado mineiro, acrescentando ter recebido o aval de Carlos Siqueira, presidente do PSB, na noite desta segunda-feira (7). "Agora, não. Vai ter número, sorteio de relator e todo um procedimento para que a gente não tenha um cara que tem indignado o Parlamento já tem muito tempo. Não é de agora", emendou o parlamentar, informando que os dados serão reunidos e, em seguida, Siqueira vai assinar a representação.
"É a postura dele como os deputados na CCJ [Comissão de Constituição e Justiça]; a postura que ele teve comigo no Conselho de Ética; a postura que ele teve no plenário com o restante dos deputados; a postura que ele tem, agora, com a repórter quando a assediou - e, depois, continuou fazendo ofensas a ela no Facebook. É uma coisa... Foge ao padrão de qualquer cidadão ou parlamentar. Eu não quero discutir o mérito da posição política dele. Eu quero discutir a conduta dele, que não é a de um representante do povo do Pará. Não pode ser", criticou Júlio Delgado, informando que todos esses elementos constarão da denúncia do PSB ao Conselho de Ética.
Arena virtual
Ao mencionar o Facebook, Júlio Delgado faz referência à postagem em que, expondo fotos de Basília, Wladimir se defende da acusação de assédio e diz que a repórter "foge totalmente dos padrões estéticos que, supostamente despertaria algum tipo de desejo em alguém". "Pelo menos dos meus fogem 1000% e também creio que fogem dos interesses padrões que outros homens, possam sentir por uma mulher. Digamos que apenas a cor negra de sua pele e o cabelo cacheado, é o que ela verdadeiramente tem de beleza em seu corpo", escreve o deputado do Pará, derrapando no uso das vírgulas.
[fotografo]Fotos: Câmara dos Deputados[/fotografo]
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No registro, seguidores do deputado aproveitam para ofender a jornalista, ao que Wladmir respondeu, em um primeiro momento, com as onomatopeias da risada ("hahaha" e "kkkk"). "Porra deputado não da pra assediar uma mais bonitinha não?", disse um internauta, que despertou o riso virtual do parlamentar. Depois das interações ironizando os comentários dos seguidores, Wladimir passou a registrar a seguinte resposta-padrão: "Realmente não tenho nada contra o padrão estético dela, pelo contrário, como eu já disse e reitero, acho linda as mulheres de pele negra e cabelos encaracolados, enfim... O problema foi ela inventar uma 'estória' maliciosa e que, de fato, nunca aconteceu!".
Na postagem, Wladimir também faz menção ao fato de ter sido flagrado, em plena votação do parecer sobre a denúncia contra Temer, pedindo fotos de nu a uma interlocutora, por um aplicativo de troca de mensagens. "E quanto ao pedido de nudes?", quer saber um internauta. "Montagem!", responde. "Seeeei", duvida outro seguidor, ironizando a reposta do deputado - que, na semana passada, ao saber que tinha sido flagrado, disse que o registro fotográfico de Lula Marques foi combinado, o que o fotógrafo nega. Profissional da Agência PT, Lula diz que estuda processar o deputado devido à acusação de que armou o flagrante.
Emendas e benesses
Beneficiado com emendas e outras benesses, Wladimir foi escalado para substituir um voto contra Temer na CCJ da Câmara e, na
votação que salvou Temer em plenário, fez discurso inflamado em defesa do presidente e contra a investigação e institutos de pesquisa, que registram aprovação de apenas 5% da atual gestão. Wladimir os chamou de "mentirosos" depois do resultado de que 81% dos entrevistados queriam o prosseguimento da investigação no Supremo Tribunal Federal (STF).
No texto publicado no Facebook, Basília também conta que o deputado, ao ser indagado sobre a natureza de sua tatuagem, fez outras colocações e até mesmo gestos desrespeitosos. Ela então relata ter feito um pedido: "Se o senhor puder ter um pouquinho mais de respeito por eu ser uma repórter e mulher"...
A conduta do deputado foi testemunhada não só pelos jornalistas, mas também por deputados que estavam no local. "Mais importante naquele momento que a ação do deputado, dirigida a mim porque eu sou mulher, foi a reação de seus pares. Os deputados Mauro Pereira (PMDB-RS) e Fábio Ramalho (PMDB-MG), o anfitrião da noite, chegaram até mim e pediram desculpas", ressalta a Basília, acrescentando que comentários do tipo são recorrentes nos corredores do Congresso.
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