Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Congresso em Foco
06/02/2019 | Atualizado às 23h41
> Pacote anticrime de Moro ponto a ponto: veja como a lei é hoje e o que pode mudar
Para se ter uma ideia da dimensão do problema, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2018, publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, as mortes decorrentes de intervenção policial não pararam de crescer nos últimos anos, chegando a 5.144, crescimento de 20% se comparados os números de 2017 e 2016.[1] O Relatório Mundial da Human Rights Watch de 2018 apontou problemas crônicos do nosso sistema de justiça criminal: execução extrajudicial cometida pela polícia, maus-tratos aos presos e outros problemas que contribuem para aumentar o ciclo de violência em nossa sociedade. Não é à toa que, desde 2012, a sociedade civil luta para aprovar no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 4.471/2012, que determina a investigação de todas as mortes decorrentes de intervenção policial, cabendo às autoridades preservar a cena do crime e instaurar inquérito policial para isso.[2] Pode parecer óbvio exigir que uma morte decorrente de intervenção policial seja investigada, mesmo assim o projeto enfrentou toda sorte de obstáculos e encontra-se engavetado no Plenário da Câmara dos Deputados. Isso ocorre porque, na maioria dos estados brasileiros, agentes públicos utilizam uma série de artifícios para não investigarem mortes decorrentes de intervenção policial: não se preserva a cena do crime, não se realiza perícia e recebem-se alegações dos policiais envolvidos na intervenção como verdades absolutas, mesmo diante de evidências claras de execução. Outro artifício utilizado é a não abertura de inquérito nos casos em que o policial alega que houve resistência à abordagem - quando é lavrado o famoso auto de resistência, atualmente um verdadeiro atestado da impunidade em todo país. A impunidade é um salvo-conduto para que maus policiais continuem matando de forma desenfreada. A violência policial geralmente é concentrada. Dados recentes sobre a situação no Rio de Janeiro e de São Paulo - como o caso do 41º Batalhão de Polícia Militar do Rio de Janeiro, insistentemente denunciado pela vereadora Marielle Franco. Somente este Batalhão responde por 12% das mortes resultantes de intervenção policial num universo de 41 Batalhões.[3] Já em São Paulo, pode-se destacar a atuação ilegal e histórica das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar, a Rota, e do 41º Batalhão Metropolitano da Polícia Militar.[4] Além do sofrimento imposto a milhares de famílias, em sua maioria pobres e negras, e dos danos causados à imagem das instituições policiais, essa brutalidade coloca em risco a vida dos próprios policiais devido ao ciclo de violência a que dá origem, conforme ressaltado no Relatório 2018 da Human Rights Watch. Essa prática criminosa é estimulada pela certeza de impunidade por parte desses agentes públicos. Alguns atuam livremente e até mesmo se organizam como grupos de extermínio e milícias, usando a farda para subjugar a população e praticar uma série de crimes. A força desses grupos é cada vez maior - e isso deveria preocupar todas as instituições públicas: é alarmante o número de mortes e intimidações que vêm promovendo contra a população e até mesmo contra autoridades, como a execução da juíza Patrícia Acioli e, ao que tudo indica, da vereadora Marielle Franco ou como as constantes ameaças à vida do hoje deputado federal Marcelo Freixo, que foi relator da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre as milícias no Rio de Janeiro na Assembleia Legislativa do estado.[5] Essas organizações criminosas seguem avançando impunemente sobre o Estado e hoje sua influência sobre o Poder Legislativo é indiscutível. A proposta apresentada por Sergio Moro é um péssimo sinal de que o governo federal não está disposto a enfrentar este problema. Mais do que isso, é um sinal inequívoco de que o governo não se importa com as milhares de vidas de jovens inocentes mortos em razão de sua raça ou de sua classe social. [caption id="attachment_376111" align="alignnone" width="700"]Do mesmo autor:
Temas
LEIA MAIS
CONTAS DO GOVERNO
Câmara dos Deputados
Projeto triplica pena para crime com arma roubada de agente público
RELAÇÕES EXTERIORES
CONTAS DO GOVERNO