Moro se filia ao Podemos com discurso de presidenciável: "Chega de petrolão, chega de rachadinha"
O ex-ministro da Justiça Sergio Moro oficializou nesta quarta-feira (10) sua filiação ao Podemos. Em discurso, Moro se colocou à disposição para concorrer às eleições de 2022, seja como senador ou presidente da República.
Congresso em Foco
10/11/2021 | Atualizado às 17h15
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Podemos deverá decidir suas candidaturas para governadores estaduais e senadores, bem como quem apoiará na corrida presidencial. Foto: Sandy Mendes
O ex-ministro da Justiça Sergio Moro oficializou nesta quarta-feira (10) sua filiação ao Podemos. Em discurso, Moro se colocou à disposição para concorrer às eleições de 2022, seja como senador ou presidente da República. O ex-juiz resgatou os planos do pacote anticorrupção, defendeu o combate às drogas e o fim do foro privilegiado. "Esse não é um projeto pessoal de poder, mas sim um projeto de país. Nunca tive ambições políticas, quero apenas ajudar. Se, para tanto, for necessário assumir a liderança nesse projeto, meu nome sempre estará à disposição do povo brasileiro. Não fugirei dessa luta, embora saiba que será difícil", disse.
O ex-ministro deverá definir sua posição de candidatura nos próximos meses. O discurso, no entanto, foi de presidenciável. Sergio Moro falou de questões como combate à pobreza, segurança pública, educação, saúde e, claro, corrupção. Moro também fez críticas aos governos do PT e de Jair Bolsonaro, ao qual serviu. "Chega de corrupção, chega de mensalão, chega de petrolão, chega de rachadinha. Chega de querer levar vantagem em tudo e enganar a população", discursou.
Moro, que teve sua atuação na Lava Jato contestada, com a anulação de condenações do ex-presidente Lula, fez menção ao petrolão. "A Petrobras foi saqueada, dia e noite, por interesses políticos, como 'nunca antes na história deste país'. Apartamentos forrados de dinheiro roubado em espécie, e uma persistente recessão provocada pelos mesmos governos que permitiram tudo isso, com as pessoas comuns desempregadas e empobrecendo."
O ex-juiz disse que entrou para o governo Bolsonaro por acreditar que aquele era um momento de mudança no país. Depois de enaltecer sua participação à frente do Ministério da Justiça, em 2019, Moro disse que foi boicotado pelo governo.
"Quando aceitei o cargo, não o fiz por poder ou prestígio. Eu acreditava em uma missão. Queria combater a corrupção, mas, para isso, eu precisava do apoio do governo e esse apoio me foi negado. Quando vi meu trabalho boicotado e quando foi quebrada a promessa de que o governo combateria a corrupção, sem proteger quem quer que seja, continuar como ministro seria apenas uma farsa. Nunca renunciarei aos meus princípios e ao compromisso com o povo
brasileiro. Nenhum cargo vale a sua alma."
O evento do Podemos foi marcado pela presença de parlamentares do partido, além de deputados e senadores do Cidadania, DEM, PSL e Novo.
A entrada de Sergio Moro no partido é vista como "recomeço". A ala política da legenda também aposta que o ex-ministro estará a frente de uma candidatura à presidência em 2022.
Assista ao discurso e veja a íntegra escrita abaixo:
"Bom dia. Quero agradecer a todos vocês que vieram, gentilmente, de longe ou de perto, paraprestigiar este evento. Aos filiados do podemos, aos filiados de outros partidos políticos,senadores, deputados, prefeitos, vereadores, servidores públicos e cidadãos em geral. Agradeçotambém aos empresários e trabalhadores aqui presentes. Sei que muita gente veio de lugaresdistantes e com sacrifícios.Eu confesso que estou um pouco ansioso quanto a falar hoje neste palco. Não tenho uma carreirapolítica e não sou treinado em discursos. Alguns até dizem que não sou eloquente e não gostamda minha voz...Mas, se eventualmente eu não sou a melhor pessoa para discursar, posso assegurar que soualguém em que vocês podem confiar. A vida pública me testou mais de uma vez, como juiz daLava Jato e como ministro da Justiça. Vocês conhecem a minha história e sabem que tomeidecisões difíceis e que nunca recuei do desafio, nem repudiei meus princípios para alimentarambições pessoais. Por isso, peço atenção às minhas palavras, muito além da minha voz. O Brasilnão precisa de líderes que tenham voz bonita. O Brasil precisa de líderes que ouçam e atendama voz do povo brasileiro.Quero contar para vocês um pouco sobre minha história. Eu nunca fui um político. Fui juiz por 22anos e me dediquei a fazer justiça aplicando a lei. Meu propósito sempre foi ser justo com todos.Julguei casos de pessoas necessitadas, que procuravam a Justiça por amparo assistencial.Depois, na área criminal, julguei processos de grandes traficantes de drogas, de ladrões de bancoe de pessoas que pagaram ou receberam suborno. Tudo para proteger as pessoas, as vítimas e opovo brasileiro.Fui juiz dos casos da operação Lava Jato em Curitiba. Foi um momento histórico: quebramos aimpunidade da grande corrupção de uma forma e com números sem precedentes. Julgamos econdenamos pessoas poderosas do mundo dos negócios e da política que, pela primeira vez,pagaram por seus crimes.Mais de R$ 4 bilhões foram recuperados dos criminosos e tem uns R$ 10 bilhões previstos aindapara serem devolvidos. Isso nunca aconteceu antes no Brasil.Eu sempre fui considerado um juiz firme e fiz justiça na forma da Lei. Na época, todos diziamque era impossível fazer isso, mas nós fizemos. Claro, com grande apoio da populaçãobrasileira. Juntos, eu, você, nós, mostramos que a Lei se aplica a todos.
Em 2018, recebi um convite do presidente eleito para ser ministro da Justiça. Como todo bombrasileiro, eu tinha, em 2018, esperança por dias melhores. Como todo brasileiro, eu pensava no que havíamos presenciado nos últimos anos: os grandes casos de corrupção sendo reveladosdia após dia, os pixulecos, as contas na suíça e milhões de reais ou dólares roubados.A Petrobrás foi saqueada, dia e noite, por interesses políticos, como 'nunca antes na históriadeste País'. Apartamentos forrados de dinheiro roubado em espécie, e uma persistente recessãoprovocada pelos mesmos governos que permitiram tudo isso, com as pessoas comunsdesempregadas e empobrecendo.Era um momento que exigia mudança. Eu, como juiz da Lava Jato me sentia no dever de ajudar.Havia pelo menos uma chance de dar certo e eu não podia me omitir: aceitei o convite e ingresseino governo. O meu objetivo era melhorar a vida das pessoas por meio de um trabalho técnico,principalmente, reduzindo a corrupção e outros crimes.Conseguimos de fato, em 2019, diminuir a criminalidade violenta e enfrentamos para valer ocrime organizado. Cerca de dez mil vidas brasileiras deixaram de ser ceifadas pelo crime nestemeu primeiro ano como ministro da justiça.Combatemos, com afinco, o crime organizado. Isolamos, por exemplo, em presídios federais aslideranças das gangues mais perigosas do país. Ninguém combateu o crime organizado de formamais vigorosa do que o ministério da Justiça na nossa gestão. Até quem não gosta de mimreconhece isso. Disseram que reduzir crimes no Brasil e combater o crime organizado eraimpossível, mas isso foi feito.
O meu desejo era continuar atuando, como ministro, em favor dos brasileiros. Infelizmente, nãopude prosseguir no governo. Quando aceitei o cargo, não o fiz por poder ou prestígio. Euacreditava em uma missão. Queria combater a corrupção, mas, para isso, eu precisava do apoiodo governo e esse apoio me foi negado.
Quando vi meu trabalho boicotado e quando foi quebrada a promessa de que o governocombateria a corrupção, sem proteger quem quer que seja, continuar como ministro seriaapenas uma farsa. Nunca renunciarei aos meus princípios e ao compromisso com o povobrasileiro. Nenhum cargo vale a sua alma.
Depois que saí do governo, precisei, então, como a maioria do povo brasileiro, buscar umemprego a fim de ganhar a vida. Eu precisava trabalhar, nunca enriqueci sendo juiz ou ministro.Tenho família para cuidar.
Recebi um convite para trabalhar no exterior e aceitei. Eu acreditei que ficar longe por um tempome ajudaria a refletir melhor sobre o Brasil. Estava cuidando de minha vida privada, distante dosolhos do público e da imprensa. Mas via com extrema preocupação o desdobrar dos fatos desdea minha saída do governo. Mesmo fora do País, nunca deixei o Brasil longe de meu coração.Estamos no final de uma pandemia que afligiu o mundo e só no Brasil deixou mais de 600 milvítimas. Vi consternado o crescer do número de vítimas e a desolação das famílias. Não há umbrasileiro ou brasileira que não tenha perdido alguma pessoa querida, um parente ou um amigo.Não há um verdadeiro brasileiro ou brasileira que não tenha se emocionado com essas perdas.Registro meu pesar por todas as vítimas e por aqueles que sofreram com a perda delas. Aproveitopara endereçar minhas homenagens aos médicos, enfermeiros e cientistas, que foram osverdadeiros heróis. Muitos colocaram a sua vida em risco para salvar a de outros. Eles tambémmostraram o valor da ciência e do nosso sistema único de saúde.Junto com a pandemia, vimos com tristeza outros flagelos. Escolas sem aulas por falta deestrutura. Empregos e negócios sendo perdidos. Mercados, padarias e restaurantes de portasfechadas. A pobreza e a fome sendo espalhadas. Pais e mães com dificuldades para cuidar deseus filhos. O jovem e o idoso, esperançosos por conseguir um trabalho, encontrando ao revés odesemprego.Como se não bastasse, mesmo com o fim próximo da pandemia, a economia não vai bem. Aspessoas ainda estão sofrendo. Há brasileiros passando fome. Isso dói em todos nós. A inflaçãoestá muito alta: os técnicos falam em um número, mas quem vai no posto de gasolina ou namercearia sabe que é muito mais.Os juros subiram, dificultando ainda mais a vida do empresário, do agricultor ou das pessoascomuns. E os juros ainda vão subir neste governo e isso vai tornar a vida das pessoas ainda maisdifícil. Não falo por ser pessimista, mas porque o país está indo para o rumo errado. Comoexemplo, é só olhar o número elevado de pessoas desempregadas e há quanto tempo as coisasestão assim. Desde a época do governo do PT, o desemprego começou a crescer e não paroumais: Atualmente são 14 milhões de desempregados, sem contar aqueles que já desistiram deprocurar empregos. e sem perspectivas de melhorar.Ao mesmo tempo, os avanços no combate à corrupção perderam a força. Foram aprovadasmedidas que dificultam o trabalho da polícia, de juízes e de procuradores. É um engano dizer queacabou a corrupção quando na verdade enfraqueceram as ferramentas para combatê-la.Quase todo dia ouvimos notícias de criminosos sendo soltos, normalmente com base emformalismos ou argumentos que simplesmente não conseguimos entender. O que no fundo agente entende é que criminosos poderosos estão escapando impunes de seus crimes e que aLei não está valendo para todos.Fica aquela sensação amarga de que não existe lei, de que não existe Justiça. Como se aPetrobrás não tivesse sido saqueada, como se tudo o que foi feito não tivesse valido e como senão tivessem importância as manifestações de milhões de brasileiros contra a corrupção em2015 e 2016.Desde que me entendo por gente, ouço as pessoas falarem que o Brasil é um País injusto. Queprecisamos fazer reformas, mexer nas leis para que o país melhore, para que as coisascomecem a funcionar, para que as pessoas tenham escolas decentes para seus filhos e hospitaisque resolvam seus problemas.Para que a estrada cheia de buracos seja asfaltada, para que as pessoas possam andar comsegurança na rua. Mas as reformas nunca chegam ou quando chegam são malfeitas. E o Brasilfica sendo esse País do futuro e nós nos perguntamos: quando vai chegar o futuro do País dofuturo?E, ao olharmos para as reformas que estão sendo aprovadas, o que a gente percebe é queninguém está pensando nas pessoas. Mesmo quando se quer uma coisa boa, como esse aumentodo Auxílio-Brasil ou do Bolsa-Família, que são importantes para combater a pobreza, vem algumacoisa ruim junto, como o calote de dívidas, o furo no teto de gastos e o aumento de recursos paraoutras coisas que não são prioridades.Quando o governo resolve vender uma empresa estatal como a Eletrobrás, aprova junto umasérie de jabutis, coisas que ninguém entende direito, mas que na prática todo mundo sabe quesignifica que a conta de luz vai ficar mais cara para alguém ganhar mais dinheiro.E aí o governo gasta mais do que pode e lá vem mais inflação e mais juros. E assim o País nãocresce e não se vê emprego. E, com tudo isso, as pessoas passam a acreditar que não há governo,que não há futuro, que estamos sozinhos e que tudo é inútil.Meu amigo e minha amiga, todas essas coisas estão relacionadas: se o Brasil está parado e nãovai adiante, não é porque não sabemos o que precisamos fazer. Ninguém tem dúvida de queprecisamos melhorar a vida das pessoas. Todo mundo também sabe que quem desvia dinheiropúblico tem que ser punido e não premiado.Todo mundo sabe que o dinheiro desviado é o hospital e a escola sucateadas. O problema é quenão conseguimos fazer o que sabemos que precisamos fazer, porque as estruturas do poderforam capturadas. Elas passaram a servir a si mesmas e já não servem ao povo.Parte disso é corrupção, como a que vimos e nos assustou na Lava Jato. Mas outra parte é adegeneração maior da vida política: a busca do interesse público foi substituída pela buscaegoísta dos interesses próprios e dos interesses pessoais e partidários. É a máquina públicavoltada para si mesma. Isso explica por que o Brasil continua sem futuro, com o povo brasileirosem justiça, sem emprego e sem comida.Eu sonhava que o sistema político iria se corrigir após a Lava Jato. Que a corrupção passaria aser coisa do passado e que o interesse da população seria colocado em primeiro lugar. Isso não aconteceu, infelizmente. E embora tenha muita gente boa na política, nós não vemos grandesavanços.Após um ano morando fora, eu resolvi voltar. Não podia ficar quieto, sem falar o que penso, sempelo menos tentar mais uma vez, com você, ajudar o país. Então resolvi fazer do jeito que merestava: entrando para a política, corrigindo isso de dentro para fora.A gota d'água para mim foi encontrar um estudante brasileiro no exterior que me perguntou"Moro, é verdade que você abandonou o Brasil?". Aquilo foi como um tiro no meu coração. Eunão poderia e nunca vou abandonar o Brasil.Se necessário, eu lutaria sozinho pelo Brasil e pela Justiça. Seria Davi contra Golias. Mas, ao veresse auditório, tenho certeza que não estou sozinho.Tenho essa mesma certeza quando eu encontro as pessoas nas ruas, nos mercados, nas escolas,em qualquer lugar, e elas estão com um sorriso no rosto, me cumprimentam ou elogiam pelotrabalho que foi feito na Lava Jato ou no Ministério da Justiça. Então, voltei ao Brasil para ajudara construir um projeto que é de muitos.Nenhuma pessoa pode ter um projeto só para si mesmo. Ninguém existe só para si mesmo. Paraisso, resolvi entrar na vida política e filiar-me ao podemos, um partido que apoia as pautas daLava Jato. Mas esse não é o projeto somente de um partido, é um projeto de País aberto paraadesão por todos os demais partidos, pela sociedade brasileira, do empresário ao trabalhador,por todo cidadão e cidadã brasileiros. É o seu projeto, que estava aí, aguardando o momentocerto. Chegou a hora.Queremos construir juntos esse projeto, ouvindo as ideias de todos. Não é só um projeto parareconstruir o combate à corrupção. Isso faz parte dele, mas ele vai muito além. É um projeto paraconstruir o País. É um projeto de reconstrução de todos os sonhos perdidos. Nesse projeto, nãohá espaço para o medo, não há espaço para reações agressivas, mas também não há espaço paratimidez. Queremos juntos construir hoje o Brasil do futuro.Quero compartilhar algumas ideias que tenho para esse projeto. Alerto que são ainda apenasalgumas ideias de um projeto maior e que será formulado junto com os brasileiros e as brasileiras.Tenho ouvido especialistas, mas queremos ouvir todo mundo sobre ele.Precisamos recuperar a ideia de que vivemos e dividimos o mesmo País, de que somos todosirmãos, amigos e vizinhos. Podemos até divergir em alguns assuntos, mas temos, comobrasileiros, mais pontos em comum do que diferenças. Então nosso projeto é forte, é vigoroso,mas não é agressivo. Nossas únicas armas serão a verdade, a ciência e a justiça. Trataremos a todos com caridade esem malícia. Respeitaremos aqueles que gostam e aqueles que não gostam de nós. O Brasil é detodos os brasileiros e nosso caminho jamais será o da mentira, das verdades alternativas ou defomentar divisões ou agressões de brasileiro contra brasileiro.Incluo aqui nessa atitude de respeito e generosidade, a imprensa. Chega de ofender ou intimidarjornalistas. Eles são essenciais para o bom funcionamento da democracia e agem como vigilantesde malfeitos dos detentores do poder. A liberdade de imprensa deve ser ampla. Jamais iremosestimular agressões. Jamais iremos propor o controle sobre a imprensa, social ou qualquer queseja o nome com que se queira disfarçar a censura e o controle do conteúdo. Isso vale para mime para qualquer pessoa que queira nos apoiar.Precisamos proteger a família brasileira contra a violência, contra a desagregação e contra asdrogas que ameaçam nossas crianças, jovens e adultos. Propomos incentivar a virtude e não ovício, uma sólida formação moral e cidadã. Nosso projeto de redução da criminalidade violenta,do combate ao crime organizado e ao tráfico de drogas precisa ser retomado com todo o vigor,sempre na forma da Lei, e buscando recuperar aqueles que se desviaram do bom caminho.Mas agiremos sempre com a compreensão de que nessa nossa sociedade cada vez mais pluraltodos merecem ser tratados com respeito e sem qualquer forma de discriminação. Precisamosde uma sociedade inclusiva, que acolha as diferenças, e precisamos também de uma sociedadeque respeite todas as crenças e religiões.Nessa sociedade inclusiva, merecem especial atenção as pessoas com deficiência e as pessoascom doenças raras. Aprendi a admirá-las por meio de minha esposa, Rosângela, com quem soucasado há 22 dois anos e tenho dois filhos. Minha esposa é advogada e atende pessoas comdeficiência, pessoas com doenças raras e igualmente associações que promovem os direitosdelas. Ela me despertou quanto à importância da adoção de políticas que atendam a essaspessoas em suas necessidades específicas e que permitam que seus talentos e habilidadespossam florescer.Acreditamos na capacidade empreendedora e inovadora de cada brasileiro. Todo cidadão tem opotencial de se tornar uma versão melhor de si mesmo. E, quero lhe dizer, esta é minha crençafundamental, que cada indivíduo tem a sua dignidade e tem a capacidade de se aprimorarcontinuamente.Por acreditarmos no potencial de cada um, defendemos o livre mercado, a livre empresa e a livreiniciativa, sem que o governo tenha que interferir em todos os aspectos da vida das pessoas.Precisamos reformar nosso sistema confuso de impostos. Há quanto tempo falamos nisso semfazer? Precisamos privatizar estatais ineficientes. Precisamos abrir e modernizar nossa economiabuscando mercados externos. O tempo é de inovação e não podemos ficar para trás nesse mundocada vez mais dinâmico e competitivo. Mas nesse país que compartilhamos, o nosso senso de comunidade impede que adotemos umcapitalismo cego, sem solidariedade ou compaixão. O nosso senso de justiça, os nossos valorescristãos e que são compartilhados pelas outras religiões, exigem que as grandes desigualdadeseconômicas sejam superadas.Uma das prioridades do nosso projeto será erradicar a pobreza, acabar de vez com a miséria. Issojá deveria ter sido feito anos atrás. Para tanto, precisamos mais do que programas detransferência de renda como o Bolsa-Família ou o Auxílio-Brasil. Precisamos identificar o que cadapessoa necessita para sair da pobreza.Isso muitas vezes pode ser uma vaga no ensino, um tratamento de saúde ou uma oportunidadede trabalho. As pessoas querem trabalhar e gerar seu próprio sustento. Precisamos atender aessas carências com atenção específica. E, como medida prioritária, sugerimos a primeiraoperação especial: a criação da Força-Tarefa de Erradicação da Pobreza, convocando servidorese especialistas das estruturas já existentes.Ela será uma força-tarefa permanente e atuará como uma agência independente e seminteresses eleitoreiros, com a missão de erradicar a pobreza no país. Muita gente pensa que issoé impossível, como diziam que era impossível combater a corrupção. Não é, e nem precisadestruir o teto de gastos ou a responsabilidade fiscal para fazê-lo. Nós podemos erradicar apobreza e esse é o desafio da nossa geração.Propomos investir na educação de qualidade. Quem vai para a escola pública tem que encontrarensino da mesma qualidade que o das escolas privadas. Eu, menino crescido no interior doParaná, na minha querida Maringá, fiz tanto escola pública como privada.Na minha época, a qualidade de ensino era parecida, então é possível fazer com que seja de novo.O futuro do Brasil depende do presente da educação pública e privada. Queremos trazer os paispara participarem mais da vida das escolas. Queremos incentivar a inovação e a dedicação dosprofessores, cobrar metas e desempenho, premiar os bons por mérito, sem procurar vilões.Queremos diversificar o ensino e tornar real em todo o País, o que a lei já autoriza: que os alunospossam escolher parte das disciplinas e, fazendo isso, estudarem com maior motivação.Propomos expandir o ensino em período integral. Se isso é custoso e se for necessário escolher,vamos primeiro para os lugares mais carentes e depois expandimos. Precisamos de tecnologia einternet nas escolas. É preciso abraçar essas políticas como um grande programa nacional.Queremos, como pais e mães, que nossos filhos e que os filhos de nossos filhos tenham um futuromelhor do que o nosso e isso depende da educação. A escola deve ser um lugar para matemática,tecnologia, ciências, cultura e literatura, um lugar de liberdade e de aprendizado.Precisamos falar sobre corrupção. Muitos me aconselharam a não falar sobre o assunto, mas issoé impossível. Combater a corrupção não é um projeto de vingança ou de punição. É um projetode justiça na forma da lei. É impedir que as estruturas de poder sejam capturadas e dessa formaviabilizar as reformas necessárias para melhorar a vida das pessoas.É um projeto para termos um governo de leis que age em benefício de todos e não apenas dealguns. Chega de corrupção, chega de mensalão, chega de petrolão, chega de rachadinha. Chegade querer levar vantagem em tudo e enganar a população.Propomos, sem mais delongas, aprovar a volta da execução da condenação criminal em segundainstância, para que a realização da justiça deixe de ser uma miragem. Precisamos garantir aindependência do Ministério Público, respeitando as listas, e a autonomia da Polícia commandatos para os diretores, impedindo que haja interferência política em seu trabalho.Propomos ainda a criação de uma corte nacional anticorrupção, à semelhança do que fizeramoutros países, usando as estruturas já existentes e convocando juízes e servidores vocacionadospara essa tão importante missão.Precisamos cuidar do futuro e do que vamos deixar para as novas gerações. O Brasil é um Paísque historicamente respeitou e protegeu o meio ambiente. Temos a maior floresta do mundo, aAmazônia. Infelizmente, alguns veem a floresta como um incômodo e hoje nossa imagem noexterior é péssima.Mas a floresta é um patrimônio valioso e precisamos mudar a percepção do mundo a nossorespeito. Precisamos dar oportunidades de desenvolvimento para quem vive na região daAmazônia, mas precisamos proibir o desmatamento e as queimadas ilegais. Promover as ações eusar as palavras certas, considerando a população local.O futuro do mundo depende da preservação do meio ambiente, para prevenir a mudançaclimática. O Brasil pode ser não só o celeiro do mundo, com a nossa pujante agricultura, compequenos e grandes proprietários, mas também a liderança e o exemplo para o mundo napreservação da floresta, no fomento da exploração de energias limpas e na criação de umaeconomia verde, sustentável e de baixo carbono.Isso nos trará investimentos e nos fará orgulhosos de nosso País. Somos detentores dessa enormeriqueza verde e, infelizmente, fizemos tudo errado nos últimos anos. Isso pode e deve serconsertado. O Brasil deve ser o líder e o orgulho do mundo na economia verde e sustentável.Precisamos cuidar da defesa nacional e de nossa soberania. Vamos valorizar as Forças Armadas.O militar não é diferente dos outros. Somos todos brasileiros. Devemos respeitá-las comoinstituição de Estado e jamais utilizá-las para promover ambições pessoais ou interesseseleitorais. As forças armadas pertencem aos brasileiros e não ao governo.Para que todo esse projeto tenha credibilidade, para que possamos demonstrar com sinceridadeo nosso desejo de reconstruir o País e de reformar as instituições, nós precisamos provar queestamos dispostos a sacrifícios. Que a classe dirigente, que a classe política, não terá por focoaumentar o seu poder ou seus privilégios, e que agirá para beneficiar a todos, pensando no bemcomum e no interesse público.Para tanto, proponho, desde o início, a eliminação de dois privilégios da classe dirigente. O fimdo foro privilegiado que trata o político ou a autoridade como alguém superior ao cidadãocomum, e o fim da reeleição para cargos no poder executivo. O foro privilegiado tem blindadopolíticos e autoridades da apuração de suas responsabilidades. Não precisamos dele. Eu nuncaprecisei quando juiz ou ministro. Não deve existir para ninguém e para nenhum cargo, nem parao presidente da República.Quanto à reeleição para cargos no poder executivo, devemos admitir que é uma experiência quenão funcionou em nosso País. O presidente, assim que eleito, começa, desde o primeiro dia, a sepreocupar mais com a reeleição do que com a população, está em permanente campanhapolítica. E ainda tem o risco de gerar caudilhos, populistas ou ditadores, de esquerda ou dedireita, pessoas que se iludem com o seu poder e passam a ser uma ameaça às instituições e àdemocracia, seja por corrupção ou por violência. Não devemos mais correr esses riscos.Entendo que se nós, da classe política, cortarmos nossos privilégios, daremos um bom exemploe conseguiremos a credibilidade necessária para aprovação de outras reformas dirigidas amelhorar a vida das pessoas. Vamos gerar um ambiente de confiança e um ciclo virtuoso emfavor das reformas, fomentando investimentos, gerando empregos, recolocando o governo natrilha certa. Ele existe para ajudar as pessoas e não o contrário. O governo tem que estar a serviçodas pessoas e não dos políticos.Essas são apenas algumas ideias para o nosso projeto de País. Queremos construí-lo com vocêsaqui presentes, com a sociedade e com o povo brasileiro. Podemos construir juntos um Brasiljusto para todos. Esse não é um projeto pessoal de poder, mas sim um projeto de País. Nuncative ambições políticas, quero apenas ajudar.Se, para tanto, for necessário assumir a liderança nesse projeto, meu nome sempre estará àdisposição do povo brasileiro. Não fugirei dessa luta, embora saiba que será difícil. Há outrosbons nomes que têm se apresentado para que o País possa escapar dos extremos da mentira, dacorrupção e do retrocesso.Todos nós sabemos que teremos em um momento que nos unir para uma tarefa maior do quecada uma das pessoas envolvidas. Mas precisamos nos unir em torno de um projeto que tenhapelo menos as seguintes linhas essenciais: combater a corrupção como meio de viabilizar asreformas, erradicar a pobreza, diminuir as desigualdades, controlar a inflação, preservar aresponsabilidade fiscal, fomentar o emprego e o desenvolvimento sustentável, prover serviços de saúde, educação e segurança de qualidade, proteger a família, cultivar as liberdades e orespeito com o próximo e com o diferente. Tudo está conectado. Todos estamos juntos.Pretendo atuar como um guardião vigoroso do interesse público, como um protetor dos direitosde todos os brasileiros e brasileiras. O Brasil poderá confiar que este filho teu não fugirá à luta eque jamais deixará o seu interesse pessoal, ou de seus filhos ou de sua família, ou mesmo de seusamigos ou de seu partido político, acima do interesse do povo brasileiro.Jamais usarei o Brasil para ganho pessoal. Vocês sabem que podem confiar que eu sempre voufazer a coisa certa. Ninguém irá roubar o futuro do povo brasileiro. Estou, portanto, recomeçandohoje, à disposição de vocês, por um Brasil justo para todos. Muito obrigado.*Brasília, 10 de novembro de 2021"Congresso abandona PEC da 2a InstânciaMoro se filia a partido que vota em 83% das vezes com o governo