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Congresso em Foco
18/12/2018 | Atualizado às 09h20
Os desafios e a urgência da Lei de Proteção de Dados Pessoais
Com a aproximação do fim dos trabalhos também no Congresso Nacional, organizações com a Coalizão Direitos na Rede, uma das subscritoras do manifesto, têm dialogado há diversas semanas com as lideranças partidárias, pedindo a derrubada dos vetos de Temer. Para a coalizão, este seria o melhor e mais eficaz caminho de criação da ANPD. Afinal, o texto com suas atribuições, composição e garantia de autonomia foi aprovado por unanimidade pela Câmara dos Deputados e pelo Senado. A preocupação com a independência da Autoridade é um dos principais motivos que têm levado a sociedade civil a defender a derrubada dos vetos em vez de apostar numa nova proposta que venha do Executivo. Isso porque os diálogos feitos com a Casa Civil até o momento indicam que, diferentemente dos padrões internacionais para o setor e do próprio texto votado no Parlamento brasileiro, o modelo de ANPD que deve vir do Palácio - se ele vier mesmo - é de uma Autoridade subordinada ao Executivo. Ou seja, em vez de um órgão autônomo, com condições de fiscalizar a coleta e tratamento de dados também pelo poder público, o Brasil ficaria com uma secretaria que passaria a responder ao novo chefe da Casa Civil. Precisa acreditar em Papai Noel também para perceber que, pelo menos do ponto de vista do monitoramento e responsabilização do próprio poder público, este arranjo não dará certo? No manifesto conjunto lançado, as próprias empresas afirmam que a "Autoridade deverá gozar de características imprescindíveis tais como independência e autonomia decisória; o mandato fixo de seus dirigentes; a manutenção do rol de atributos listados no art. 56 do PLC 53/2018, objeto de veto presidencial; ser composta por um corpo funcional estritamente técnico para realizar o gerenciamento deste tema perante seus múltiplos e distintos atores; e ter em sua estrutura um conselho consultivo multissetorial. A criação da Autoridade com essas características é essencial para consolidar no país uma estrutura institucional, apta a propiciar segurança jurídica para o tratamento de dados no país, dar efetividade aos direitos assegurados na LGPD e possibilitar que o Brasil participe do livre fluxo internacional de dados". A MP que "deve vir até o final do ano" está bem longe disso. A aposta na derrubada dos vetos A avaliação de que há espaço, sim, para derrubar os vetos presidenciais à criação da Autoridade e do Conselho Nacional de Proteção de Dados é crescente. Em primeiro lugar porque a compreensão de que haveria um vício de constitucionalidade na sua criação não é unânime. Um parecer legal assinado pelos juristas Jorge Octavio Lavocat Galvão, professor-adjunto da Universidade de Brasília, e Ilmar Nascimento Galvão, ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, afirma o contrário. "Não há que se falar (.) de falta de iniciativa. O que houve, em boa verdade, foi a adaptação do projeto encaminhado pelo Poder Executivo às circunstâncias concretas do serviço que se pretende prestar. (.) Uma vez deflagrada a iniciativa legislativa pelo Presidente da República, há alguma margem para o Legislativo customizar a forma de atuação estatal. (.) Caso entenda necessário modificar algum ponto, poderá fazê-lo, desde que não implique aumento de despesa (.) No caso em análise, a modificação da natureza jurídica do ente fiscalizador de órgão público para autarquia não implicou aumento de despesa. (.) Em verdade, delegou-se ao Poder Executivo a elaboração do regulamento e da estrutura organizacional da ANPD", atestam. Em segundo lugar, as chances de derrubada do veto crescem porque nem mesmo partidos da base de Temer como o PSD e o PR acreditam plenamente no envio da medida provisória este ano. Por fim, na última quarta (12), o presidente do Congresso, Eunício Oliveira, do partido de Temer, que já tinha declarado que alguns vetos feitos por razões técnicas são politicamente "inconvenientes para ajudar a destravar alguns setores da economia brasileira", defendeu publicamente a derrubada específica destes vetos. O maior adversário da derrubada é, neste momento, o tempo. A sessão do Congresso marcada para analisar vetos na quarta passada (12) não avançou na matéria em função do baixo quórum dos senadores/as. A próxima está marcada para esta terça (18) e precisa acontecer, já que os vetos presidenciais trancam a pauta e o orçamento de 2019 não poderá ser votado pelo Congresso antes disso. Eunício Oliveira foi enfático semana passada em plenário: "Se necessário, vamos ter sessões todos os dias até 28 de janeiro até dar quórum, mas não sairemos daqui sem votar o orçamento". Diante da omissão do Planalto, esta é a última chance dos deputados e senadores brasileiros - muitos em final de mandato, não reeleitos - deixarem sua marca na efetividade da implementação de uma Lei Geral de Proteção de Dados que já começa a ser referência para vários países.Tags
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