A Alemanha possui financiamento e seguro para fornecer ao exterior seus equipamentos eletromecânicos; os Estados Unidos, para seus aviões; a Coreia do Sul, para seus navios, dentre outros.
No Brasil, criamos programas de financiamento, como o
BNDES Exim e o Proex- Financiamento. Criamos também o Seguro de Crédito à Exportação, sob responsabilidade do outrora Ministério da Fazenda.
Tudo isso para brigarmos em pé de igualdade mundo afora, fornecendo o que país tinha de melhor: aviões, commodities agrícolas e engenharia pesada. No último caso, não são todos os países do mundo que sediam empresas capazes de construir hidrelétricas, aeroportos, portos, oleodutos, termoelétricas, e outros equipamentos de infraestrutura pesada. Nós sediávamos.
O nosso acerto: no caso dos serviços de engenharia, os mecanismos governamentais de apoio à exportação apenas financiavam o que as empresas compravam ou fabricavam no Brasil: o maquinário pesado, os EPIs dos funcionários, o aço, às vezes até mesmo a alimentação dos funcionários e o cimento a ser usado. Tudo produzido no Brasil.
Em 2012, estima-se que as exportações de serviços de engenharia brasileiros geraram mais de 1.740.000 empregos. Ao exportar, as empresas brasileiras de engenharia acionavam toda a sua cadeia de fornecedores brasileiros, que somavam mais de 2.000 empresas, sendo 76% micro, pequenas e médias empresas.
Como benefícios secundários, os financiamentos renderam juros ao BNDES. O Seguro de Crédito Oficial à Exportação, mesmo pagando os sinistros (o que é normal que ocorra no negócio de seguros - afinal, carros colidem nas estradas), registrou superávit de mais de R$ 4 bilhões.
O nosso erro: faltaram diretrizes políticas para a universalização do crédito oficial à exportação. O potencial é gigantesco. Desenvolvemos no Brasil produtos e serviços de ponta, prontos para competir com o mundo. Mas havia pouco acesso a esses recursos, inibindo mais transações, seja pela burocracia ou pelos custos de transação.
Com o escândalo da
Lava-Jato, decidimos encerrar ou diminuir significativamente os principais mecanismos de crédito à exportação. Popularizamos as ideias de que a política pública servia a "financiamentos ideológicos", "jatinhos de figurões", "
caixa- preta do BNDES". Esses são argumentos que inflamam corridas eleitorais, mas enfraquecem a indústria, os empregos e as exportações brasileiras.
Agora, na maior crise econômica interna da história do país, decidimos fechar uma das nossas principais portas de negócio ao exterior. Deixamos ao porteiro
CPIs, processos criminais e auditorias, que, uma a uma, encontram caixas-pretas cada vez mais vazias.
Extinguimos a doença e o paciente também. Nossos erros tinham pouca relação com excessos da política de crédito oficial à exportação, e muito mais com a falta dela. Enquanto devíamos ampliá-la, como os países do G20 fizeram na crise de 2008, optarmos por distribuir o panfleto de campanha do nosso político favorito da vez.