Cresce descontentamento com governo Bolsonaro [fotografo] Sylvio Costa /Congresso em Foco [/fotografo]
Carlos Eduardo Bellini Borenstein*
Dois eventos ocorridos nos últimos dias têm potencial para mudar o clima da opinião pública no país. O primeiro deles foi o colapso do sistema de saúde pública de
Manaus (AM). O segundo foi a vitória da narrativa do governador de São Paulo (SP),
João Doria (PSDB), sobre o presidente
Jair Bolsonaro no tema da vacinação contra a covid-19.
O ambiente de comoção verificado na sociedade com os tristes acontecimentos de Manaus explicitou os equívocos do governo federal na gestão da pandemia. Nas horas seguintes a tragédia de Manaus, paralelamente a mobilização da sociedade civil em favor da arrecadação de recursos para o envio de cilindros de oxigênio ao estado, foi possível perceber a consolidação de um sentimento anti-bolsonarista na opinião pública.
Antes, esse sentimento era muito concentrado nas "bolhas" do campo progressista. No entanto, desde a sexta-feira passada (15), a narrativa anti-bolsonarista "furou a folha". Além da esquerda, lideranças do
Partido Novo, do
Movimento Brasil Livre (MBL), do
Vem Pra Rua, entre outros - grupos que se consolidaram e militaram ativamente no
impeachment da ex-presidente
Dilma Rousseff (PT) - passaram a defender publicamente o impeachment do presidente e abraçaram a bandeira do "Fora Bolsonaro".
Ainda é preciso aguardar para sabermos se tal onda transbordará das redes sociais para as ruas, levando a uma mobilização maior em
favor do impeachment de Bolsonaro. No entanto, há sinais que o colapso do sistema de saúde de Manaus consolidou em um segmento da sociedade um sentimento anti-bolsonarista militante.
Claro que o bolsonarismo é uma força social importante. No entanto, agora, o anti-bolsonarismo é uma realidade. Embora seja um sentimento difuso e careça de um líder, ele mostra capacidade de mobilização.
Tal sentimento ganhou ainda mais força a partir do último domingo (17), quando João Doria colheu os frutos da aposta que fez na
Coronavac. Doria foi o grande protagonista após a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizar o uso emergencial da vacina no país.
As imagens da primeira brasileira vacinada ao lado de Doria garantiram ao governador a nacionalização de uma agenda com potencial para provar um significativo abalo na imagem de Jair Bolsonaro.
A partir da tragédia de Manaus e com o início da imunização no país, o sentimento anti-bolsonarista ganhou tração nas redes sociais, um território que costumava ser dominado pelo bolsonarismo.
*Carlos Eduardo Bellini Borenstein é cientista político formado pela ULBRA-RS. Possui MBA em Marketing Político, Comunicação e Planejamento Estratégico de Campanhas Eleitorais pela Universidade Cândido Mendes.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
