Com ex-secretário de Saúde no Senado, CPI da Covid acabou em "CPI do DF"
Congresso em Foco
02/09/2021 | Atualizado às 17h29
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Após a ausência do lobista Marconny Albernaz, a CPI da Covidouviu nesta quinta-feira (2) o ex-secretário de Saúde do Distrito Federal Francisco Araújo. Ao longo do depoimento de Francisco Araújo a reunião foi sendo esvaziada pelos senadores. Os parlamentares do DF dominaram a bancada da CPI. O depoente negou a maioria dos questionamentos dos senadores e aproveitou a oitiva na Comissão para se esquivar das acusações que são feitas a ele na Operação Falso Negativo.
O senador Izalci Lucas (PSDB-DF) assumiu a relatoria da CPI. Ele apresentou um organograma da Secretaria de Saúde do DF que Francisco Araújo disse desconhecer. Após o questionamento de Izalci, o depoente informou que estava à disposição da Comissão para falar sobre a operação Falso Negativo e não sobre a gestão da Saúde do DF e preferiu exercer o direito de ficar calado. Ele possui um Habeas Corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que dá o direito de não responder perguntas que podem o incriminar.
Em alguns momentos, o depoente chegou a levantar a voz para alguns senadores e afirmar que o senador Izalci Lucas já foi seu aliado. A convocação do ex-secretário partiu do senador do PSDB. Apesar de não ser membro da Comissão, Izalci exerceu pressão na cúpula da CPI para convocar Francisco. O senador ocupa a vaga de titular na CPI após o afastamento do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) da Comissão.
"Meu telefone foi apreendido. Mas eu quero pedir a esta Comissão que... À época do início da pandemia, o Senador Izalci me mandava diversas mensagens indicando pessoas. E eu sempre dizia: "entre, participa do certame". Como o meu telefone está apreendido, eu gostaria que fosse requisitado o telefone do senador", disse Francisco se referindo a indicações na pasta da Saúde do DF.
O ex-secretário de Saúde do Distrito Federal Francisco Araújo negou relação com qualquer pessoa ligada à Precisa Medicamentos, farmacêutica ligada em negociações suspeitas de aquisição de vacinas pelo Ministério da Saúde.
"Não tenho nenhum tipo de relacionamento com a Precisa Medicamento. Não conheço os donos da empresa, eles participaram de um certame, como todos os outros", disse.
Em resposta ao senador Renan Calheiros(MDB-AL), Francisco disse que a sua indicação para a secretaria de Saúde foi "técnica" e não política negando relações com o deputado Ricardo Barros(PP-PR) e partido Progressistas, a principal sigla do Centrão que domina o Ministério da Saúde.
Francisco Araújo admitiu que é padrinho de casamento de Fábio Gonçalves Campos. Segundo o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), Campos tentou fraudar licitação para compra de equipamentos pela pasta.
"Ele [Fábio] utilizou nome da empresa de um amigo para vender seus produtos para a Secretaria de Saúde do Distrito Federal", apontou Renan.
Consequências para Marconny Albernaz
Antes da presença de Francisco Araújo, a CPI decidiu acionar o Supremo Tribunal Federal(STF) para garantir a condução coercitiva de Marconny Albernaz e a polícia legislativa passou a buscar o depoente, que está com o paradeiro não idenficado, para garantir que ele compareça ao colegiado nesta quinta. Os senadores encontraram um elo que liga o advogado ao filho 04 do presidente Jair Bolsonaro, Jair Renan.
Os senadores também estudam um pedido de prisão preventiva dele. "Estamos procurando a localização dele em alguns endereços de Brasília e caso não consigamos localizar ele, vamos pedir a prisão preventiva", Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
Vieira disse afirmou que, quando a sessão for retomada, a comissão discutirá a prisão do lobista.
"Nós teremos a oitiva do ex-secretário do DF e ao mesmo tempo uma parte administrativa para votação de requerimentos - condução coercitiva e prisão provisória do Marconny", disse o senador.
O pedido de condução coercitiva do advogado foi encaminhado pelo presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM). No documento, a CPI pediu que fosse determinação com "máxima urgência". O pedido deve ser analisado pela ministra do STF, Cármen Lúcia. Os senadores alegam que Faria tentou de tudo para não comparecer.
Leia a íntegra do documento. Apreensão de passaporte
No início da sessão, os senadores aprovaram o requerimento de retenção do passaporte do lobista Marconny. Também foi aprovado a proibição de que ele se desloque da cidade onde reside sem prévia autorização da comissão; que ele indique telefone e e-mail à CPI para que seja contatado, caso haja necessidade. O pedido havia sido formalizado pelo senador Randolfe Rodrigues, que também pediu a comunicação à Interpol. De acordo com o senador, o lobista estaria arquitetando uma fuga do país.
Entenda
Marconny é apontado pela CPI como suposto lobista da Precisa Medicamentos, empresa que se apresentou ao Ministério da Saúde como atravessadora na negociação para a aquisição da vacina indiana Covaxin. Tal contrato, cujas irregularidades foram denunciadas pelo deputado Luís Miranda (DEM-DF) e por seu irmão, Luís Ricardo, funcionário do Ministério da Saúde, acabou cancelado.
O lobista chegou a apresentar um atestado médico para não comparecer à CPI. Mas, de acordo com o vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o médico que dera o atestado entrou em contato para dizer que pretendia cancelar o documento porque desconfiara da atitude de Marconny, imaginando que poderia ter havido "simulação" da parte dele. Diante da manifestação do médico, a CPI manteve o depoimento.
Além da atuação no negócio da Covaxin, a CPI deverá questionar o advogado sobre a sua relação com a família do presidente Bolsonaro. Jair Renan, filho do presidente, abriu uma empresa de eventos com a ajuda de Marconny. Conversas no telefone do advogado, obtidas pela CPI, apontam para mais de uma centena de mensagens trocadas entre Marconny e Jair Renan.
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