Economia entra em 2022 sob incerteza, dizem especialistas no Congresso em Foco Talk
No Congresso em Foco Talk, economistas alertam que economia brasileira entrará em 2022 mais enfraquecida, em um cenário de imprevisibilidade
Congresso em Foco
24/11/2021 | Atualizado às 19h50
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No Congresso em Foco Talk, economistas alertam que economia brasileira entrará em 2022 mais enfraquecida, em um cenário de imprevisibilidadeFoto: Reprodução/YouTube
As economistas alertam: a economia brasileira entrará em 2022 mais enfraquecida, em um cenário de imprevisibilidade e sob pressão internacional, tudo isso em um cenário onde ainda não nos recuperamos da crise anterior, de 2015.
O futuro da economia no próximo ano foi o centro do debate desta quinta-feira (25) no Congresso em Foco Talk, mediado pelo fundador do Congresso em Foco, Sylvio Costa.
"Tanto para este ano quanto no ano que vem é um quadro muito desconfortável do ponto de vista macroeconômico", advertiu Zeina Latif, consultora na Gibraltar Consultoria e uma das mulheres mais influentes do mercado de ações brasileiro. A economista indicou que as previsões ainda podem passar por novas revisões - para baixo - até o ano que vem, mas já é possível identificar que este quadro de fraqueza da economia brasileira será intensificado em 2022 com a alta de juros do Banco Central, que hoje está em 7,75%.
Sem uma ação compensatória fiscal ao aumento de gastos causados, principalmente, pela pandemia de covid-19, a inflação se tornará maior e mais "teimosa", definiu Zeina. "Banco Central está praticamente secando gelo, porque não tem ajuda do lado fiscal", lamentou. "O grande ponto aqui é que não estamos fazendo a lição de casa do ponto de vista fiscal."
Para sair do buraco, sugere a economista, é preciso que o Legislativo pare de votar medidas "equivocadas" e com cunho eleitoreiro. "É lembrar que tem um país para ser cuidado, e não pode pensar no curto prazo da eleição e seus interesses paroquiais", disse. "O Congresso está indo para uma direção que agrava o quadro."
Imprevisibilidade e desemprego
A economista Mariel Angeli Lopes, do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), indicou que a política fiscal brasileira é muito ligada ao pagamento de benefícios sociais - logo, as recentes mudanças em programas como o Bolsa Família e seu sucessor, o Auxílio Brasil, jogam a política econômica em um cenário de imprevisibilidade. "O Auxílio Brasil começou a ser pago na última semana, e a gente não sabe qual que vai ser a fonte de recursos para ele no ano que vem", disse. "Inclusive há uma discussão no Congresso de talvez colocar o auxílio em prática sem essa determinação da fonte de recursos - o que iria contra as regras de responsabilidade fiscal que temos no Brasil."
Essa desorganização é muito negativa, e apenas piora o cenário futuro. "E isso tudo acontecendo muito atropeladamente, sem previsibilidade. E isso é ruim para o mercado financeiro, mas principalmente para os brasileiros que não sabem o que vai acontecer no dia seguinte, se terão emprego e renda no mês seguinte."
Mariel diz que o mercado de trabalho recuperando de maneira muito lenta, e com uma renda média mais baixa que o mesmo período do ano passado. "A gente precisaria de políticas públicas voltadas à geração de empregos, e voltadas à qualificação e requalificação de empregos", sugeriu a economista do Dieese, lembrando que fatia considerável da população procura emprego há mais de dois anos, o que dificulta a recolocação no mercado profissional.
E as eleições?
A eleição de 2022, e a incerteza sobre a votação, também reprime possibilidade de investimentos a longo prazo. "Os planos de investimento tendem a ser mais conservadores, e portanto temos o adiamento, ainda que transitórios, dependendo de quais serão os cenários e os programas que os candidatos à presidência venham a nos trazer", disse Deborah Vieitas, que é a primeira CEO mulher da Amcham Brasil, a Câmara Americana de Comércio para o Brasil.
Deborah diz que, neste momento, a maior decepção do empresariado foi não ter entregado as reformas prometidas em 2018. "O que o empresariado espera é compromisso fiscal - e isso significa manter o orçamento dentro do teto fiscal - e espera que as reformas importantes continuem, sobretudo a tributária", resumiu, antes de completar. "Menos polarização e mais pragmatismo."
Zeina Latif aposta em uma polarização menor no próximo ano, mas indica que a economia voltará a ter peso preponderante em 2022. As reformas continuarão sob pressão nos próximos anos. Cabe ao presidente da República, em sua visão, ajudar a construir consensos. "Os agentes econômicos terão que ter sinais muito claros no primeiro ano de governo. Ficam missões em relação à formação da equipe econômica, e não basta apenas uma pessoa com credibilidade", disse.
Sob observação lá fora
Deborah diz que a redução do desmatamento deverá ser o tema número um para a economia. "Ele prevalece sobre todos os outros temas, e estamos sendo monitorados internacionalmente de maneira muito precisa", disse. "Indicadores e tudo o que nós pudermos oferecer terá que ter muita consistência. Só com anúncios, ainda não conseguimos nada."
"A questão econômica dos próximos será muito determinada por isso, e para os trabalhadores isso é muito importante", concordou Mariel. "Qualquer pauta de geração de emprego e de qualificação tem que levar isso em conta para o ano que vem. Internacionalmente, esta discussão está muito mais para frente do que está no Brasil."
Com um crescimento menor do comércio global, o Brasil deve ser afetado, mas ainda será assegurado por uma boa política de commodities. A China, afetada por uma crise no setor de construção civil, deve reduzir a demanda global por minério de ferro, do qual o Brasil é um exportador relevante. A demanda por soja, em outro sentido, deve se manter em patamares históricos, projetou a CEO.
As economistas foram provocadas, em suas considerações finais, a avaliarem a gestão do ministro da Economia, Paulo Guedes, a frente da pasta. Mariel defendeu que a política econômica aponta para a incerteza. "Eu tenho a impressão que este governo, nos últimos três anos, mudou de ideia o tempo inteiro", disse. "São sinais muito conflitantes, que eu acho que um outro ministro já tivesse saído. Parece que há uma discrepância entre o que o ministro diz e o governo faz."
Deborah Vieitas acredita que Guedes "ficou devendo" em seus até agora três anos. "Tem que se reconhecer que a consolidação de muitas competências numa única pasta tornou difícil dar atenção e prioridade a todos os temas", ponderou a CEO da Amcham.
Zeina Latif disse ainda acreditar na capacidade de reação do país. "Ainda que com muitos erros e com um caminho muito acidentado, mas alguns desafios importantes e testes de maturidade a gente vai conseguindo passar", comentou, considerando o debate econômico mais maduro. "Vai se consolidando ou crescendo a visão de que a agenda não pode ser de medidas protecionistas, isenções tributárias e benefícios aqui e ali: o Brasil precisa de agendas horizontais para melhorar o ambiente de negócios, reduzir insegurança jurídica e permitir o crescimento do setor privado."
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