Sede da Folha de S. Paulo, no centro da capital paulista. Foto: Webysther via Wikimedia Commons
A Federação Nacional dos Jornalistas (
Fenaj) publicou um comunicado nesta quinta-feira (20) em defesa dos 186 jornalistas da 'Folha de S. Paulo' que endossaram um abaixo-assinado contra o que chamaram de "publicação recorrente de conteúdos racistas nas páginas do jornal".
O estopim foi um artigo do antropólogo Antonio Risério, ex-membro do Ministério da Cultura no comando de Gilberto Gil (2003-2008), onde usa termos como "racismo negro" e acusa movimentos antirracistas brasileiros de agirem como supremacistas. O abaixo-assinado foi rebatido com
uma resposta do diretor de redação do jornal, Sergio Dávila, dizendo que a manifestação "erra, é parcial e faz acusações sem fundamento".
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Em nota, a Comissão Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial
(Conajira) da Fenaj saiu em apoio aos funcionários. "Defendemos e lutamos para assegurar a liberdade de opinião a todo veículo e profissional no exercício da profissão, mas repudiamos qualquer prática que exceda os limites desse direito", assinam os autores da nota.
A Conajira ainda cobra que o jornal, fundado em 1921, promova ações de diversidade racial em seu interior. "Para além de um exame de consciência acerca das publicações recentes - é necessário que a Folha de S. Paulo reavalie e se responsabilize pela falta de diversidade, sobretudo pela falta de inclusão de vozes que fazem parte da redação, assim como pelo racismo sistemático que se reflete no contexto editorial de todo o grupo, que impacta na vida de colaboradores dentro e fora das redações", apontam os autores da nota. "Tal sistema abre brechas para, entre outras violências, episódios como esse."
O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP) disse que
a resposta da empresa causa "grande indignação": "Jornalistas não podem ser submetidos a constrangimento por exercerem o que é sua função: discutir critérios jornalísticos que têm como bússola o aperfeiçoamento da democracia - objetivo que certamente não convive com a tolerância a discursos preconceituosos de qualquer natureza - e buscar fontes confiáveis", aponta o SJSP em nota, "respeitando a ciência e os saberes construídos coletivamente, para desenvolver as pautas que interferem no debate público."
O Sindicato também cobra um debate perene nas redações sobre o racismo estrutural no Brasil. "Lutar pela qualidade jornalística do local onde trabalham deveria ser natural em uma redação, com o constante diálogo para aprimorar a cobertura e as decisões editoriais de uma publicação", complementou.
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