PGR apresentou pedidos de aditamento de 31 réus por incitação aos atos de 8 de janeiro, que podem receber penas de até 30 anos de prisão. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Desde os
atos golpistas praticados por bolsonaristas no último domingo (8) em Brasília, usuários das redes sociais se articulam para identificar os responsáveis e colaborar com as investigações das autoridades. Compartilhando fotos e vídeos postados pelos próprios golpistas durante a invasão e depredação dos prédios públicos, as pessoas formaram uma verdadeira força-tarefa para encontrar os participantes e, até mesmo, os financiadores.
No Instagram, o principal puxador do movimento é o perfil "
Contragolpe Brasil". A conta criada na noite do domingo acumulava mais de 1,1 milhão de seguidores até a tarde dessa terça-feira (10). A descrição da conta afirma que ela é um "perfil colaborativo para a identificação de pessoas que atentam contra a democracia do Brasil".
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Criado no domingo (8), perfil "Contragolpe Brasil" já acumulou mais de 1,1 milhão de seguidores até a tarde desta terça-feira (10). Foto: Reprodução/Instagram[/caption]
Já foram feitas 173 publicações com as imagens dos participantes dos atos antidemocráticos, juntamente com os nomes e as cidades em que residem. Imagens fixadas pelo perfil apontam duas pessoas que foram apontadas como articuladoras, financiadoras e organizadoras do movimento. Quando ainda não há identificação do suspeito, a página pede a colaboração dos seguidores para apontar o nome ou perfil da pessoa.
O crescimento da página atraiu a atenção de bolsonaristas, que se organizaram para denunciar o perfil e as publicações. Por conta disso, o Instagram passou a restringir as publicações da página e a possibilidade de responder mensagens diretas.
No início da tarde dessa terça-feira (10), a página postou um recorte de uma matéria informando que 351 pessoas foram detidas pelos atos antidemocráticos. "Enquanto o Instagram não libera o nosso perfil para novas postagens/denúncias, compartilhamos boas notícias! A lista de criminosos e presos está cada vez maior", escreveram os responsáveis.
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
Instagram passou a restringir as publicações da página e a possibilidade de responder mensagens diretas. Foto: Reprodução/Instagram[/caption]
Impossibilitado de fazer novas publicações, o perfil passou a incentivar que os usuários encaminhem as denúncias diretamente ao Ministério da Justiça e Segurança Pública no e-mail criado justamente para essa tarefa:
[email protected].
No mesmo molde do MJSP, a Polícia Federal criou um e-mail para receber informações sobre os envolvidos nos atos do último domingo:
[email protected].
O
Congresso em Foco entrou em contato com os responsáveis pela página
Contragolpe Brasil, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto para eventuais manifestações.
Organizações nas outras redes
Nas demais redes sociais os usuários também se organizam para identificar participantes dos atos golpistas. No Twitter, o
perfil @tesoureiros, conhecido por levantar informações para os senadores durante a CPI da Covid-19, fez uma publicação pedindo para os usuários compartilharem vídeos dos golpistas "cometendo vandalismo ou confessando que participaram do vandalismo".
"Só na esplanada incitando o golpe não adianta. Tem que mostrar o ato propriamente dito. Vai ter gente monitorando", destacou o perfil, já prevendo as ações de bolsonaristas que possam tentar sabotar a identificação dos golpistas.
Muitas das imagens e vídeos encontrados pelos usuários foram por meio da expressão "
Festa da Selma", utilizada pelos bolsonaristas nas redes sociais para coordenar os atos antidemocráticos em Brasílias. A "Selma" seria um código disfarçado para "Selva", grito de guerra dos militares. A maioria das publicações foi apagada, mas os usuários salvaram antes da exclusão.
Bolsonaristas presos e identificados
A Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal (DF) divulgou, nessa terça-feira, uma lista contendo os nomes de
277 pessoas presas em virtude dos atos golpistas. A lista deverá ser atualizada com a transferência dos golpistas para o Sistema Prisional - a intenção é possibilitar o acesso dos familiares e advogados.
Segundo a Polícia Civil do Distrito Federal,
356 pessoas foram presas em flagrante após a invasão e depredação dos prédios públicos. As principais ocorrências registradas foram a de dano à propriedade pública, lesão corporal, roubo a transeunte, furto, ato obsceno, desacato, porte de arma branca e golpe de estado.
Os responsáveis por crimes mais graves foram enviados à carceragem da PCDF e poderão ser enviados ao sistema prisional do DF caso a Justiça defira pela permanência em regime fechado. Os autuados por crimes de menor potencial ofensivo foram liberados após a assinatura de termos de comparecimento à Justiça.
Após o
desmonte do acampamento golpista em frente Quartel-General do Exército, no Setor Militar Urbano, em Brasília (DF), cerca de 1.200 pessoas foram apreendidas pela Polícia Federal (PF) e levadas para o ginásio da Academia Nacional da instituição.
No Twitter, o secretário-executivo do Ministério da Justiça e
interventor do Distrito Federal,
Ricardo Cappelli, afirmou que cerca de mil pessoas "que atentaram contra o Estado Democrático de Direito" já foram identificadas e presas.