Após decisão do ministro Kássio Nunes Marques, do STF, Arthur Lira devolveu mandato de Valdevan Noventa, da mesma legenda de Bolsonaro. Foto: Michel Jesus/Câmara dos Deputados
O deputado
Arthur Lira (PP-AL) completa um ano como presidente da
Câmara dos Deputados no dia 1º de fevereiro. Neste período, Lira mediou votações de projetos importantes para a economia, como a PEC dos precatórios, a reforma do Imposto de Renda e a prorrogação da desoneração da folha de pagamento.
O presidente também teve projetos polêmicos nas mãos, alguns que ele chegou a ser favorável, como a PEC que dava ao Congresso maior poder sobre o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e a PEC do voto impresso. Seu estilo de votação, considerado apressado e fruto de pouco debate por parte da oposição, também foi considerada uma marca da primeira metade de sua gestão.
Cinco projetos ajudam a entender o primeiro ano de Lira à frente do segundo cargo na sucessão presidencial. São eles:
PEC dos Precatórios
A PEC dos Precatórios - dívidas do governo com credores, pessoas física ou jurídica, com causas já definidas na Justiça -
foi aprovada na CCJ em setembro, com 32 votos favoráveis. A
PEC 23/2021 mudava a regra geral de parcelamento, prevendo que a União não precisaria pagar à vista valores a partir de R$ 66 milhões. De acordo com o presidente da Câmara,
Arthur Lira, o presidente do Senado,
Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o então líder do governo no Senado,
Fernando Bezerra (MDB-PE), e o ministro da Economia,
Paulo Guedes, concordavam com a proposta de limitar o pagamento dos precatórios em cerca de R$ 40 bilhões.
O projeto foi uma prioridade do governo, que necessitava de espaço no orçamento para o pagamento do
Auxílio Brasil no valor de R$ 400. Quatro tentativas para votar a proposta no Plenário foram feitas, mas o
quórum foi um obstáculo constante. Por se tratar de uma alteração na Constituição, é preciso um mínimo de 308 votos favoráveis em dois turnos. No dia quatro de novembro,
a Câmara aprovou o projeto em primeiro turno com 312 votos, apenas quatro acima do número necessário. A margem ampliou na
votação do segundo turno, com 323 votos favoráveis. Em acordo com o senador
Rodrigo Pacheco,
Câmara e Senado decidiram promulgar as partes em comum da PEC, que não sofreram alterações em nenhuma das duas casas, de maneira separada das alterações. A articulação não foi bem vista durante a sessão, mas a
PEC foi promulgada em dezembro, antes do recesso parlamentar.
PEC do Ministério Público ou "PEC da Vingança"
Chamada de "PEC da Vingança", a
PEC/ 5/2021 promoveria alterações na composição do Conselho Nacional do Ministério Público (
CNMP), permitindo que um membro do Conselho pudesse ser escolhido diretamente pelo Congresso. O texto, de autoria do deputado
Paulo Teixeira (PT-SP),
foi aprovado na CCJ em maio de 2021 e recebeu críticas do presidente da Associação Nacional de Procuradores da República pela "tramitação meteórica" em pouco tempo.
O presidente
Arthur Lira se posicionou favorável à proposta, alegando que o projeto aumenta a participação da sociedade civil dentro do conselho. Lira considera que, ao dar ao Legislativo o poder de indicar quatro dos 14 conselheiros, alcança-se o "fim da impunidade em um órgão muito forte". Mais de
3 mil integrantes do Ministério Público assinaram um abaixo-assinado contra a PEC, por considerar a mudança inconstitucional.
Em outubro,
a PEC foi para o Plenário da Câmara. O relator, deputado
Paulo Magalhães (PSD-BA), apresentou um novo parecer minutos antes do início da sessão, propondo o aumento do CNMP, que passaria de 12 para 17 cadeiras. No entanto, o texto teve 297 votos favoráveis, 182 contrários e 4 abstenções, abaixo dos 308 necessários pela aprovação. Ao final da votação, Lira prometeu fazer uma análise política sobre o que mudou em três votações da proposta, que já havia sido aprovada em duas comissões.
Reforma Tributária do Imposto de Renda
O ministro da Economia,
Paulo Guedes,
entregou ao presidente Arthur Lira a segunda etapa da reforma tributária no final de junho. Entre as principais propostas de mudanças no Imposto de Renda, estavam o aumento do teto de renda mensal isento de declaração e a redução da alíquota geral para as empresas. Já em agosto,
o Plenário da Câmara aprovou urgência para o
PL 2.337/2021, de autoria do deputado
Celso Sabino (PSDB-PA) e que tratava das alterações no Imposto de Renda.
No mês seguinte, após articulações do deputado Sabino e de
Arthur Lira, a
proposta foi aprovada com facilidade no Plenário, com forte adesão até mesmo dos partidos de esquerda. Foram 398 votos favoráveis e somente 77 contrários. Após a aprovação, o presidente
Arthur Lira agradeceu a aprovação do texto. "Este não é um projeto de governo - é um projeto de Estado, é um projeto de Câmara e de todas as lideranças que tiveram um trabalho árduo de convencimento", disse.
Desoneração da folha de pagamento
Em vigor desde 2014, a
desoneração da folha de pagamento beneficiava 17 setores da economia e tinha a validade original até o dia 31 de dezembro de 2021. O
Projeto de Lei (PL) 2541/2021, de autoria do deputado
Efraim Filho (DEM-PB), foi aprovado na CCJ em novembro do ano passado propondo
estender por mais dois anos a desoneração.
O relator,
Delegado Marcelo Freitas (PSL-MG), cedeu a pedidos para que o texto tratasse da contribuição patronal incidente sobre o valor da receita bruta, e não sobre a folha de pagamento. Freitas disse confiar que a proposta deve ajudar o país na geração de empregos e no combate à falta de competitividade da economia nacional.
O projeto foi aprovado de maneira simbólica no Plenário do Senado Federal e foi convertido na
lei 14.288/2021.
PEC do Voto Impresso
De autoria da deputada
Bia Kicis (PSL-DF), a
PEC 135/2019 determinava o uso de cédulas físicas no processo de votação e apuração das eleições, plebiscitos e referendos. A proposta não chamou a atenção quando
foi aprovada na CCJ, em 2019, ficando longe do debate público. Até que, em novembro de 2020, o presidente Jair Bolsonaro
indicou publicamente apoio à PEC e começou a criticar a urna eletrônica, utilizada nas eleições do país desde 1996. Em maio de 2021, a Câmara dos Deputados instaurou a
comissão especial responsável por discutir a proposta. No mesmo dia, em um evento em Alagoas,
Arthur Lira defendeu o projeto do voto impresso ao lado de Jair Bolsonaro. "Nós queremos votar e ter a certeza de que esse voto é confirmado da maneira com que a gente colocou", disse o deputado na época.
O presidente aumentou às críticas ao sistema eleitoral e o debate se acirrou, levando
11 partidos a se reunirem contra a PEC, incluindo membros do Centrão. O deputado
Filipe Barros (PSL-PR) elaborou um parecer favorável ao projeto e os opositores da proposta prontamente
substituíram membros da comissão para impedir a aprovação. Para impedir a derrota,
a discussão da PEC ficou para depois do recesso parlamentar de julho. Por meio de um interlocutor, Lira recebeu do ministro da Defesa,
Braga Netto, o recado de que
não haveria eleições em 2022, se não houvesse voto impresso e auditável. O presidente da Câmara foi até Bolsonaro e afirmou que se manteria fiel ao presidente, mas que não admitiria golpe.
De volta do recesso,
Arthur Lira indicou que poderia encaminhar a PEC diretamente para o Plenário da Casa. Após a
derrota do parecer favorável do relator na comissão especial, com 23 votos contra e 11 favoráveis,
Lira anunciou a ida do projeto para o Plenário: "o Plenário será o juiz desta disputa que, infelizmente, foi longe demais". No dia 10 de agosto,
o Plenário da Câmara dos Deputados barrou o projeto. Foram 229 votos a favor, 218 votos contra e uma abstenção. Por não alcançar 308 votos, o texto foi arquivado. Após a votação, Lira disse esperar que a resposta do Plenário represente uma resposta definitiva. Em um discurso neutro, buscou garantir que "não há vencedores nem derrotados" com a discussão. "Não é mais hora de versões - temos muitas matérias importantes", contemporizou.
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