Fala de teor pedófilo de Bolsonaro choca redes sociais. Deputado aciona PGR
Após Bolsonaro conceder entrevista afirmando que "pintou um clima" com adolescente de 13 anos, deputado distrital exigiu investigação.
Congresso em Foco
16/10/2022 | Atualizado às 12h59
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No vídeo, Bolsonaro diz que "pintou um clima" quando viu as meninas venezuelanas de 14 e 14 anos. Foto: Reprodução/vídeo
O deputado distrital Leandro Grass (PV), ex-candidato ao governo do Distrito Federal, encaminhou um ofício à Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitando que seja feita uma investigação sobre a fala de Jair Bolsonaro ao podcast Paparazzo Rubro-Negro, no último sábado (15), onde ele afirma ter "pintado um clima" entre ele e um grupo de adolescentes venezuelanas de 13 e 14 anos enquanto andava de moto na cidade de São Sebastião, região administrativa do Distrito Federal.
Veja o vídeo com a fala de Bolsonaro:
"Prevaricou"
Na avaliação de Grass, todas as possíveis justificativas do presidente para sua fala levam a indicar um ilícito. "Ele disse que 'pintou um clima' com as meninas, e afirmou categoricamente que elas estavam ali para 'ganhar a vida'. Se o interesse dele foi apenas de averiguar uma situação de abuso sexual, prostituição infantil ou algo do tipo, a postura dele, como de qualquer agente público, teria que ser a de ativar qualquer um dos órgãos de proteção aos direitos da criança e do adolescente. Se ele viu essa situação e não o fez, então ele prevaricou", apontou em entrevista ao Congresso em Foco.
Outro cenário seria o de Bolsonaro ter feito uma avaliação errada do que viu: o que também acabaria incorrendo em ilícito pelo julgamento seguinte. "Dada a justificativa de que ele teria ido lá, e não ter sido o que ele falou; então se mesmo tendo visto que a realidade do lugar não era de prostituição, por que foi que ele confirmou no podcast que as meninas estariam lá para isso? Nesse caso, a fala já caracteriza xenofobia, e denunciação caluniosa contra as pessoas que moram naquele abrigo", declarou.
O segundo caso já inclusive começou a tomar forma. Em uma entrevista ao portal UOL, uma das moradoras do abrigo visitado por Bolsonaro negou a existência de qualquer atividade ligada a prostituição no local. O presidente afirmou que as venezuelanas estariam juntas se arrumando para "ganhar a vida", quando na realidade estava sendo realizado um curso de estética. No momento da visita, a instrutora, uma brasileira, estava implementando a etapa prática do curso.
Leandro Grass explica que iniciativas como essa são comuns em São Sebastião. "Ali é uma região onde existem alguns espaços para acolher essas pessoas que vieram para o Brasil e estão em busca de novas oportunidades e de sobrevivência", relatou.
Ações além da PGR
Ao longo de seu mandato, Jair Bolsonaro colecionou denúncias enviadas à PGR. Estas, porém, constantemente terminam arquivadas por determinação de seu procurador-geral, Augusto Aras. Leandro Grass conta que já se prepara para enfrentar essa possibilidade. "Vamos tomar outras providências a partir de segunda-feira (17). A gente também vai fazer questionamento ao Conselho Tutelar para que possa também tomar providências, bem como questionar a Secretaria de Justiça do Distrito Federal, já que é um caso dentro do nosso território".
Além dos planos de segunda-feira, o deputado ainda planeja trabalhar em outros caminhos para dar início às investigações, não ficando descartada a possibilidade de envio de notícia-crime diretamente ao Supremo Tribunal Federal (STF). "Nada impede novas providências. A gente oficiou à PGR porque é o caminho mais convencional nesse primeiro momento, mas ainda é possível fazer novos questionamentos e acionar outros órgãos", anunciou.
Além de Leandro Grass, quem também anunciou que planeja encaminhar uma notícia-crime ao STF foi a bancada do Psol na Câmara dos Deputados. Em nota, a líder do partido na Casa, Sâmia Bomfim (SP), chama atenção para a intenção manifestada pelo presidente. "Bolsonaro passa acintosamente todos os limites morais ao afirmar que 'pintou clima' entre ele e pré-adolescentes de 14 anos, e mostrar que, mesmo numa situação em que ele, em tese, vislumbrou exploração sexual infantil, sua atitude foi a de interesse e não de proteção daquelas meninas".
Confira a seguir o ofício enviado por Leandro Grass à PGR:
Nova fala polêmica
A divulgação da fala em que Bolsonaro fala que "pintou um clima" quando viu as meninas venezuelanas fez com que o presidente fizesse uma live já de madrugada para tentar se explicar. Na live, ele afirma que o PT teria "passado de todos os limites" tirando o que ele dissera de contexto. A verdade, porém, é que, de fato, o presidente usou a expressão na entrevista. E, ainda que tivesse tido outra intenção, é também fato que ele fez uma acusação de prostituição no local, que, de acordo com a moradora, não procede. E, ainda que procedesse, ele não tomou qualquer providência à época para denunciar o que afirma que vira.
Depois da repercussão do vídeo do podcast, outro vídeo com suposta insinuação pedófila de Bolsonaro começou a circular na manhã deste domingo. No vídeo, de uma live do presidente, ele faz uma brincadeira com uma menina que conversa com ele. A menina afirma que "começou cedo", referindo-se ao trabalho que faz como entrevistadora em um programa nas redes sociais. Bolsonaro ri, dando outra conotação à frase.
Veja o vídeo: