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Congresso em Foco
18/11/2007 | Atualizado 20/11/2007 às 0:00
Marcos Magalhães*
Algumas malas de aço expostas no prédio da Bienal de São Paulo permitem entrever um pouco do que planejam para si mesmos dois países que disputam o terceiro lugar entre as maiores economias do mundo: Alemanha e China. Principais atrativos do estande alemão da Bienal de Arquitetura da capital paulista, as malas contêm reproduções de projetos imaginados por arquitetos alemães para vários países do mundo – aí incluído o de uma ampla e moderna nova biblioteca para Pequim.
A biblioteca já está sendo erguida na capital da China, uma cidade em processo de metamorfose nesses anos que antecedem as Olimpíadas de 2008. Pode ser vista apenas como mais um exemplo de contratação de arquitetos ocidentais para renovar o até então austero perfil de uma cidade que já se orgulhou de ser uma espécie de capital camponesa e que hoje se destrói e reconstrói a cada dia – ainda que em um cenário cinzento produzido pelas chaminés industriais e pelos canos de descarga dos milhões de ônibus e automóveis.
O que se pode ver em uma das malas de aço do estande alemão, porém, é uma tentativa de promover uma espécie de coabitação das tradições milenares chinesas com a sociedade do conhecimento que os chineses sonham construir. Os primeiros andares da biblioteca destinam-se à tradicional coleção Si Ku Quan Shu, que representa o passado da China. Em seguida encontra-se um amplo espaço para o acervo contemporâneo. Logo acima, uma aposta no futuro por meio da Biblioteca Digital. Uma junção premeditada de passado, presente e futuro.
Essa combinação de momentos históricos tem sido promovida de uma forma meio estabanada em Pequim. Afoitos na busca de rápida modernização, muitas vezes os governantes locais atropelaram antigas construções que revelavam muito das tradições chinesas de moradia e convivência social. O embasamento da construção sobre as tradições da cultura chinesa, segundo o conceito da nova biblioteca, pode revelar o despertar de uma preocupação com a preservação das tradições culturais, ao mesmo tempo em que se persegue a modernidade arquitetônica e tecnológica.
Se existem equívocos na relação com o passado, como demonstram as máquinas que arrasaram quarteirões inteiros para a construção de imensos edifícios ao estilo ocidental, também há problemas na construção do futuro. Os constantes monitoramentos do acesso de cidadãos chineses à internet, por exemplo, constituem obstáculos aos próprios planos do governo de construir uma economia muito mais voltada do que hoje à produção de conhecimento. Ainda assim, a opção por erguer uma nova biblioteca – incomum entre países da América Latina, por exemplo – mostra a preocupação chinesa de buscar maior sintonia com o atual momento global.
E o que diz a exposição a respeito da Alemanha? O nome do estande alemão, que já esteve presente em outras mostras internacionais de arquitetura, é Ready for take-off, ou pronto para decolar. As malas de aço contêm diversos projetos em andamento em todo o mundo. Como admitem os organizadores em textos exibidos nessas malas, os arquitetos alemães ainda não são tão badalados globalmente como, por exemplo, grandes nomes franceses e ingleses – que disputam contratos no mundo inteiro.
Os alemães parecem dispostos a mudar esse quadro. Além de automóveis seguros e produtos de alta tecnologia, eles querem exportar criatividade, incluída a arquitetura. Aí reside a lógica do ready for take-off. Ao empacotarem idéias em malas de aço, eles demonstram uma aposta em novas oportunidades abertas pela economia global. São mercados crescentes para produtos que não se tocam, produtos criativos. Com as malas expostas em São Paulo, alemães e chineses parecem indicar que se sentem – de uma maneira ou de outra – prontos para decolar.
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