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MUNDO
Congresso em Foco
7/4/2025 15:36
O pacote tarifário anunciado na última semana pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, veio sucedido por um choque no mercado financeiro global. Nesta segunda-feira (7), as principais bolsas de valores ao redor do mundo abriram o dia em queda: 13,22% para Hong Kong, 6% para a Alemanha e 1,76% para o Ibovespa. Em Nova York, os três principais indicadores locais também abriram em queda.
Com a sucessão de quedas sobre os resultados financeiros mundiais, o próprio arranjo diplomático em determinadas partes do mundo começou a mudar: China, Japão e Coreia do Sul, três rivais históricos, agora colaboram entre si para dar uma resposta à política econômica de Trump.
Segundo Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES e ex-ministro das comunicações no governo Fernando Henrique Cardoso, os efeitos do Liberation Day sobre o mundo, bem como sobre o Brasil, mal começaram. Ele enxerga a medida como o gatilho para o colapso do modelo econômico e geopolítico centrado ao redor do multilateralismo, desenhado ao fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945.
Modelo em colapso
"O que está acontecendo no mundo todo é muito grave. Está sendo desmontado um sistema que, por mais de 70 anos, teve enorme sucesso. E ninguém sabe o que virá no lugar", disse o economista. Para ele, a destruição dessa estrutura não se limita ao comércio internacional: atinge também a confiança entre países e a lógica de cooperação econômica multilateral.
Mendonça de Barros destaca que os Estados Unidos deixaram de ser o eixo de confiança global. "O país levou décadas para construir um arranjo baseado na credibilidade. Agora, essa credibilidade está ruindo com Trump".
Efeitos no Brasil
Embora o Brasil tenha se mantido relativamente protegido pela sua menor integração industrial com o comércio global, o ex-ministro alerta que não se deve cair na ilusão de que o País escapou ileso.
"O Brasil se desenvolveu com certo grau de proteção, principalmente na indústria. Isso nos dá hoje uma margem de acomodação maior. Mas estamos dentro desse sistema global que está sendo desmontado. Não vamos escapar das consequências", afirmou.
Entre os impactos mais imediatos, ele aponta a possibilidade de inflação em cadeia, impulsionada pelo aumento do custo de produtos importados, como automóveis e eletrônicos.
Erosão da liderança americana
Para o economista, a estratégia de Trump tende a prejudicar justamente sua base eleitoral, composta por trabalhadores de baixa renda que sofrerão com o encarecimento dos produtos. "O automóvel vai ser o primeiro item que vai chocar a sociedade americana", alertou.
Além disso, Mendonça de Barros vê risco de recessão sincronizada. A reação dos mercados, com quedas sucessivas nas bolsas, reflete essa preocupação. "A queda de sexta (4) foi a definitiva", ressaltou.
Rearranjo global
Apesar do cenário incerto, ele vislumbra uma oportunidade para o Brasil, especialmente no agronegócio. O País, segundo ele, pode se beneficiar do aumento da demanda por alimentos, enquanto os Estados Unidos perdem espaço como exportador.
"Nosso grande concorrente nesse setor são justamente os Estados Unidos. Essa pode ser uma das poucas boas notícias no meio dessa crise", citou.
O economista também vê uma tendência de arranjos em alianças regionais, como possíveis pactos entre Mercosul e Europa, ou mesmo na articulação entre países asiáticos historicamente rivais, como China, Japão e Coreia do Sul, para tentar suprimir temporariamente a perda do mercado americano.
"São arranjos provisórios, esperando que a morte política de Trump aconteça nos próximos dois anos. Agora, não volta a ser o que era", ponderou.
Futuro incerto
Mendonça de Barros não acredita em soluções de curto prazo. Ele projeta que os próximos dois anos, até as eleições parlamentares americanas, serão de incertezas e improvisações. "Vamos ter gambiarras. Os Estados Unidos perderam a liderança técnica, e o resto do mundo vai ter que se reorganizar sem saber ainda como", declarou.
Sobre a ideia de criação de uma moeda dos BRICS como alternativa ao dólar, o ex-ministro é taxativo: "Esquece! Isso nunca teve sentido. E muito menos agora, no meio dessa bagunça".
Para ele, será necessário construir um novo sistema de governança global, mas isso exigirá tempo, cooperação e confiança valores que, segundo o economista, o atual governo dos EUA tem corroído de forma preocupante.
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