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AGROPECUÁRIA
Congresso em Foco
15/3/2025 | Atualizado às 10:34h
No início do mês, surgiram especulações em Brasília sobre a possível nomeação do deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) para o cargo de ministro da Agricultura. Vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Jardim tem a reputação de ser um político habilidoso, capaz de navegar entre governo, oposição, defensores do agronegócio e ambientalistas. No mesmo dia, ele publicou um vídeo nas redes sociais, desmentindo os rumores e chamando-os de boatos. "Isso nunca foi cogitado, buscado e nenhuma sondagem foi realizada", afirmou.
Embora tenha descartado integrar o governo, Arnaldo Jardim observa que o ministro Carlos Fávaro está cada vez mais afastado da bancada do agronegócio. Segundo ele, isso tem dificultado a comunicação do setor, em sua maioria aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, com o governo Lula. "Ele [ministro] está se isolando gradativamente", disse o deputado nesta entrevista exclusiva ao Congresso em Foco (leia a íntegra mais abaixo).
Ataque e contra-ataque
O conflito se intensificou no início do mês, após o Tesouro Nacional suspender novas contratações do Plano Safra. A FPA reagiu com duras críticas ao governo, atribuindo a suspensão dos contratos do Plano à "falta de responsabilidade fiscal" do governo. Em resposta, Fávaro partiu para o confronto.
"A situação hoje reflete uma intolerância por parte do Congresso, principalmente da Frente Parlamentar da Agropecuária que, se tivesse cumprido seu papel cobrando a aprovação orçamentária, talvez não estivesse enfrentando isso hoje", declarou o ministro à CNN Brasil em 22 de fevereiro.
Agressividade
"Com a forma agressiva com que ele se dirigiu à FPA e, particularmente, ao presidente [da FPA] Pedro Lupion, acho que ele acentuou a distância. Já estava distante, e agora está ainda mais, comentou Arnaldo Jardim. Lupion é aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro. O ministro, que é senador licenciado pelo PSD de Mato Grosso, integrou a frente antes de assumir o ministério. Ele participava da frente, mas não era dos mais ativos", acrescentou o deputado.
No dia 25, o governo liberou mais de R$ 4 bilhões em crédito, retomando o financiamento. A FPA comemorou a decisão, alegando que sua pressão foi decisiva. Ainda assim, as relações permanecem tensas, especialmente devido a medidas do governo como a isenção do imposto de importação de alimentos, consideradas ineficazes pelos parlamentares ligados ao agro. A frente apresentou uma lista de sugestões ao governo para reduzir o custo dos alimentos, mas ainda não recebeu resposta.
Relação com o governo
Arnaldo Jardim defende que o presidente Lula estabeleça um melhor diálogo com o agronegócio. Para ele, o Planalto poderia melhorar a comunicação com a bancada. "Eu não sou bolsonarista", destacou. "Somos pessoas que têm uma política, uma visão que não é do PT, mas também não é bolsonarista. Defendemos o agro".
De acordo com o Radar do Congresso, ferramenta de monitoramento legislativo do Congresso em Foco, Jardim votou 84% das vezes conforme a orientação do governo, o que o situa entre os parlamentares com maior índice de governismo. Ao contrário do presidente da FPA, Pedro Lupion (União-PR), que votou apenas 43% das vezes em consonância com o Planalto desde o início do ano. Os dois foram reeleitos para mais dois anos de mandato, que só terminará em 2027.
O deputado do Cidadania considera que, apesar das divergências com o governo em questões como o marco temporal das terras indígenas e outras que geram insegurança jurídica, a atual gestão é superior à de Bolsonaro em diversos aspectos, como nas relações internacionais com parceiros comerciais importantes do agronegócio brasileiro.
Na entrevista a seguir, Arnaldo Jardim também fala sobre sua atuação na Frente Parlamentar do Cooperativismo, da qual é presidente, e na Frente Parlamentar Brasil Competitivo, que liderou até a semana passada. Ele destacou a importância de fortalecer as agências reguladoras e a necessidade de uma ação conjunta do governo para garantir uma representação eficaz do Brasil na COP30, promovendo um discurso que valorize a sustentabilidade do agronegócio brasileiro.
Veja a íntegra da entrevista:
Congresso em Foco - Por que o seu nome foi ventilado como possível novo ministro da Agricultura?
Arnaldo Jardim - Meu nome já surgiu outras vezes por conta do meu compromisso com o setor. Eu sou vice-presidenta da FPA. Primeiro, tenho aí um histórico com o setor. Fui secretário da Agricultura do Estado de São Paulo e, na época, presidi o Conselho Nacional de Secretários da Agricultura. Então eu acho que tem uma lógica por conta do trabalho que eu tenho no setor. Acho que posso dizer que eu sou uma das lideranças entre os parlamentares do setor. Portanto, não é absurdo eu ser considerado como um possível ministro da Agricultura. Segundo, tem a questão das condições políticas. Eu sou vice-presidente da FPA. O Pedro Lupion é o presidente. Então por que o nome dele não surge? Tenho uma outra característica. Tenho estilo de uma pessoa aglutinadora, que busca construir consenso. Recentemente aprovamos as debêntures de infraestrutura, o Combustível do Futuro, o projeto de baixo carbono, Paten. Geralmente os deputados fazem um esforço para em um mandato aprovar um projeto. Eu aprovei quatro projetos bacanas no último ano. E mais do que aprovar os projetos, uma coisa que me orgulha muito foi que encontramos o consenso. O PT votou a favor, e o PL votou a favor. Esse negócio de ser uma liderança faz com que meu nome seja lembrado.
Por que há especulações sobre uma mudança no Ministério da Agricultura?
Eu acho que o ministro Carlos Fávaro tem um limite na sua representação. O ministro Fávaro tem tido dificuldade de estabelecer um diálogo com o setor. Por isso volta e meia surge o boato de que ele poderá ser tirado. Eu, de minha parte, não sou da base do governo. Meu partido não integra a base do governo. O Cidadania me orgulha muito, mas é pequenininho, né? Acho que, pelo ponto de vista partidário, daquilo que nós temos, difícil h haver um ministro do Cidadania. Essa possibilidade aí é pequena.
A FPA cogita romper com o ministro Fávaro?
A FPA não cogita romper com o ministro Fávaro. O Fávaro, nesse episódio que teve, agora, no Plano Safra, fez um movimento de romper o diálogo com a FPA. A forma agressiva com que ele se referiu à FPA e, praticamente, ao presidente Pedro Lupion, marcou uma distância. Já estava distante, eu acho que ele fez mais isso ainda. Ele demarcou uma distância com relação a isso. Hoje eu diria que ele está muito distante mesmo da FPA.
Ele, como senador, integrava a FPA. Por que houve esse distanciamento entre as partes?
Eu não tenho tanta intimidade com ele para falar. Ele participou, mas nunca foi dos mais ativos ali. Mas ele tinha uma relação de maior proximidade. A gente tem uma sensação aí que ele foi se isolando gradativamente. A razão disso, confesso, não consigo identificar, nem responder. Acho que ele deveria fazer o esforço contrário.
Há alguma possibilidade de a frente pressionar o governo para pedir a demissão do ministro da Agricultura?
Não, de forma nenhuma. A FPA nem vai indicar ministro e nem vai pedir saída de ministro. A escolha é única e exclusivamente do presidente da República, o que a FPA quer é dialogar com o governo sempre. Com todas as instâncias do governo pra defender os interesses do agro. Mas não indicar a equipe, indicar pessoas, longe disso.
A Frente Parlamentar da Agropecuária comemorou a retomada do Plano Safra, exaltando seus méritos na decisão do governo. Há espaço para aproximação da bancada com o governo Lula?
Talvez seja um outro tipo de questão. A ruptura do Plano Sáfara foi muito mal recebida no setor do agro. A recomposição foi bem recebida. O governo evitou um distanciamento maior. É melhor talvez caracterizar assim.
O agronegócio teve relação de bastante proximidade com o ex-presidente Bolsonaro. Não há resistência também por parte do setor em se aproximar do governo?
Uma coisa que a gente conversa muito na diretoria é que cada um pode ter suas preferências pessoais. Eu não sou um bolsonarista, e sou vice-presidente da FPA. Tenho papel ali. O deputado Alceu Moreira também não pode ser chamado de bolsonarista, diferente de uma Bia Kicis, uma Carla Zambelli, um Eduardo Bolsonaro. Nós somos pessoas que têm uma política, que têm uma visão, que não é a do PT, mas que não é uma visão bolsonarista. Nós somos do agro. Nós defendemos o agro. Acho que o governo Lula deveria ter uma estratégia para falar com o agro. Acho que até agora ele não conseguiu pegar e definir uma estratégia com relação a isso. Acho que o ministro Fávaro não deu conta de estabelecer esse diálogo. Ao contrário, acho que ele acabou afastando mais o setor do governo e acho que o governo precisaria ter uma estratégia para isso.
Como o senhor compara, quem é melhor para o agro: Lula ou Bolsonaro?
Tem duas questões que são muito nevrálgicas aí, que são as questões referentes à segurança jurídica, como lidar com o marco temporal e com as invasões de terra, onde obviamente, no governo anterior, até pela ação da ex-ministra Teresa Cristina, a gente tinha mais conforto no diálogo com o governo Bolsonaro. E tem um outro assunto que é com relação à questão ambiental. Por exemplo, hoje o agro está muito preocupado com relação à COP30. A COP30 vai ser uma oportunidade para a gente demonstrar as nossas virtudes de fazer um agro que é sustentável, uma legislação que é rigorosa. Ou será que nós vamos ter uma situação em que vamos estar expostos a um grande constrangimento e virar a COP30 um momento de pressão contra o agro? Então nesses dois aspectos, na questão da segurança jurídica e na questão referente à questão ambiental, nós tivemos mais conforto no governo anterior. Bolsonaro também fez bobagens, quando ele teve um alinhamento muito automático com os Estados Unidos e causou constrangimento com a China, ou no momento em que ele fez aquele gesto com relação a Israel e nos colocou em hostilidade desnecessária com os países árabes, que são o grande destino das nossas exportações. Aí o governo Lula é muito melhor. Então tem aspectos e aspectos da forma que precisam ser considerados nisso.
Dentro do Congresso, qual é a medida prioritária da FPA neste momento?
Nós temos três preocupações ali atualmente. Primeiro, nós queremos imediatamente conversar sobre o novo Plano Safra. Depois nós queremos discutir muito com a política de seguros, até não ficar nas dependências aí de oscilações de intempérie e tudo mais tal, ou ter que daqui a pouco pegar algum processo de pedir renegociação de dívidas e tudo mais. E a terceira coisa: nós queremos muito que o diálogo possa se estabelecer para que o país possa ir com uma pauta comum na COP30 e aproveitar o momento da Conferência para mostrar as vantagens que o país tem. Nós fazemos um agro sustentável como nenhum outro país. Nós temos a maior parte das nossas reservas preservadas. Nós queríamos muito que isso pudesse ser a orientação da ação do governo na COP30. Nós vamos trabalhar muito aí neste sentido.
Há diálogo aberto com o Ministério do Meio Ambiente nesse sentido?
Não com o ministério, mas com o governo. Nós tivemos uma conversa que, para nós, foi muito boa com o nosso embaixador André Correia do Lago, que foi designado pelo presidente como o cara da COP30. Nós começamos um diálogo para definirmos uma pauta comum para levarmos lá.
Além da questão ambiental, o agronegócio recebe muitas críticas de que ganha muitos subsídios do governo federal. Como o senhor vê esse tipo de questionamento?
O subsídio que pode ser alegado talvez seja o do próprio Plano Safra. Ele começa na metade de um ano e vai até a metade do ano seguinte. Em cada ano se mobiliza para plantar toda a safra R$ 1,2 trilhão. Nós colhemos R$ 4 bilhões ou R$ 5 bilhões. Quanto foi o plano safra do ano passado? O conjunto de linhas que estão dando para o Plano Safra: R$368 bilhões. Então, o plano safra equivaleu a menos de 25% do total que se usa. Nos R$ 368 bilhões do Plano Safra, sabe quanto tinha de dinheiro do orçamento, que é dinheiro que nós estamos discutindo, foi recebido? R$ 18 bilhões. Muito disso vai para o pequeno produtor e o agricultor familiar. Do total de R$ 1,2 trilhão, 1,5% é o recurso orçamentário. Eu acho que chamar isso de subsídio é um exagero. Não tem nenhuma linha subsidiada. Não tem nenhum tipo de favorecimento. Este é o agro.
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