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CRISE PARTIDÁRIA
Tucanos em extinção: entenda a crise que pode resultar no fim do PSDB
Partido mais poderoso do país na década de 90, o PSDB hoje enfrenta a possibilidade de sumir do mapa político.
Congresso em Foco
18/02/2025 | Atualizado às 08h58
Destacando-se como uma das principais forças políticas brasileiras na década de 1990, o PSDB caminha para o seu possível fim. Com uma bancada de 17 deputados (contando com os da federação com o Cidadania) e três senadores, o partido enfrenta o pior momento de sua história, preparando-se para a possibilidade de fusão com outros partidos antes das eleições de 2026, assim encerrando sua trajetória enquanto legenda independente. PSD, MDB e Podemos são os preferidos no processo de negociação.
O ocaso do PSDB é parte de uma longa crise no partido, que acumula uma década de rupturas internas e dificuldade para fidelizar eleitores. O colapso ficou visível na última eleição municipal: em 2024, não apenas o partido obteve seu pior desempenho desde o início do século, como não conseguiu eleger prefeitos no estado de São Paulo, seu centro histórico de poder.
Nesta semana, a situação do ninho dos tucanos conseguiu piorar: a governadora pernambucana Raquel Lyra, única chefe de governo do partido na região Nordeste, admitiu a possibilidade de trocar de partido.
Ascensão meteórica
Fundado em 1988 por membros da ala progressista do MDB, o PSDB nasceu em meio a uma tempestade de eventos que rapidamente o posicionou entre os partidos mais poderosos do país. A tempestade começa em 1992, com o impeachment do presidente Fernando Collor. Seu sucessor, Itamar Franco, nomeou o líder tucano Fernando Henrique Cardoso (FHC) como ministro da Fazenda.
Como ministro, FHC coordenou a construção do Plano Real, iniciativa que conteve a hiperinflação da década de 1990, a pior crise econômica da Nova República. O sucesso do plano assegurou sua vitória nas duas eleições presidenciais seguintes, levando o partido a assumir por quase uma década o protagonismo da política brasileira.
A ascensão presidencial foi acompanhada da consolidação de sua base de poder no estado de São Paulo: o partido venceu todas as eleições para o governo de 1994 a 2018. O segundo estado mais populoso, Minas Gerais, também contabilizou um grande número de mandatos tucanos.
Nas eleições de 2002, o candidato do PSDB, José Serra, foi derrotado nas eleições presidenciais para o presidente Lula. Isso não tirou a sigla do centro da disputa política, assegurando candidatos no segundo turno das eleições de 2006, 2010 e finalmente 2014.
Início do declínio
As eleições de 2014 foram encerradas com a vitória da petista Dilma Rousseff sobre o então senador por Minas Gerais. Aquela foi a última vez em que um tucano chegou ao segundo turno da disputa presidencial. Para muitos observadores, ali começou o declínio do partido. Um dos defensores dessa tese é o cientista político Henrique Curi, docente da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
Curi é mestre em ciências políticas pela Universidade de Campinas, onde direcionou sua pesquisa à história do PSDB. Hoje dá continuidade ao estudo na condição de doutorando na mesma instituição. Ele considera como marco zero da crise do partido a decisão da equipe de campanha de Aécio Neves de pedir a recontagem de votos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Anos mais tarde, vazou uma ligação entre o candidato e o empresário Joesley Batista onde ele revelou a intenção de apenas "encher o saco" da equipe de campanha de Dilma.
"Não se brinca com isso, menos ainda em um partido criado por figuras super importantes de resistência à ditadura militar", apontou o pesquisador. Dentro do partido, parte de suas lideranças atribui o início da crise não à contestação das eleições de 2014, mas à condução da Operação Lava-Jato, que teve membros do PSDB entre os alvos de investigações.
Perda de identidade
O período que sucedeu as eleições de 2014 foi marcado pelo ápice do pensamento antipolítico que tomou forma com o aprofundamento da Operação Lava-Jato. As lideranças tradicionais do PSDB estiveram entre as mais afetadas. "Entre 2015 e 2018, vivemos o 'outrismo': se você se apresentasse ao eleitor como um político de um grupo mais tradicional, ele logo dizia que ia votar 'no outro', sempre um candidato desconhecido", disse um antigo membro da executiva nacional.
No primeiro momento, o partido tentou se aproveitar da nova tendência, flexibilizando seus critérios de escolha de candidatos. "Muitos candidatos tucanos em 2016 adotaram discursos simpáticos à antipolítica. Tivemos o exemplo de João Doria, com a máxima do 'não sou político, sou gestor'. Ali não era uma causalidade, eram candidatos surfando a onda da Lava-Jato", relembrou Henrique Curi.
No primeiro momento, a estratégia funcionou: o PSDB foi o segundo partido com maior número de prefeitos eleitos em 2016, com 792 vagas. Seu principal rival, o PT, derreteu e chegou a um de seus piores momentos, com 257 prefeituras.
O resultado, de acordo com Curi, deixou uma chaga dentro do partido. "A partir dali, você tem um partido advogando contra as bandeiras que lhe deram origem. O discurso antipolítico não fazia sentido na programática do partido. O PSDB perdeu ali sua identidade, e sobraram poucos estímulos para alguém se considerar um tucano".
Derrota em 2018
Nas eleições de 2018, o PSDB sofreu seu pior choque de realidade: seu candidato à presidência, Geraldo Alckmin, concorreu com o apoio de uma ampla coalizão, contando com o PSD, PP, PTB (atual PRD), PR (atual PL), PRB (atual Republicanos), dentre outros partidos. Seu tempo de televisão foi o maior de todos. Mesmo com essa base robusta, atingiu apenas 4,76% dos votos, ocupando o quarto lugar e ficando de fora do segundo turno.
O pleito também foi marcado por uma disputa interna: em São Paulo, o candidato João Doria, até então aliado de Alckmin, apoiou a campanha de Jair Bolsonaro. Eleito governador, ele assumiu um movimento de reforma no PSDB rumo à direita, rompendo com lideranças tradicionais, engatilhando o declínio do partido. Na Câmara dos Deputados, a bancada tucana chegou ao seu pior momento até então, com 29 deputados eleitos.
Prévias de 2022
A aliança de Doria com Bolsonaro durou pouco: os dois chefes de governo se desentenderam durante a pandemia, iniciada em 2020. O governador priorizou a busca pelo desenvolvimento e aquisição de vacinas, contrapondo a postura negacionista do presidente. Em 2021, o PSDB se declarou um partido de oposição, e aderiu ao movimento coordenado por partidos de centro e centro-direita pela construção de uma candidatura de terceira via na eleição seguinte.
Em novembro daquele ano, o PSDB adotou um passo inédito: até então, todas as definições de candidatos à presidência foram feitas por decisão interna da Executiva nacional. Desta vez, todos os seus filiados foram convocados para votar em um processo de prévias. Disputaram o governador paulista João Doria, o governador gaúcho Eduardo Leite, e o ex-senador e ex-prefeito amazonense Arthur Virgílio Neto.
A ideia do partido era replicar a estratégia dos grandes partidos americanos, onde a inclusão de todos os filiados na decisão do candidato cria neles tanto o sentimento de participação quanto a fidelidade ao vencedor. João Doria, que tinha apoio minoritário dentre os diretórios estaduais, saiu vitorioso em primeiro turno, com 53,99% dos votos.
Desistência de Doria
Apesar do apoio majoritário nas prévias, João Doria nunca foi aceito entre as lideranças tradicionais do partido, tanto dentro quanto fora de São Paulo. Um movimento de pressão para que desistisse de sua pré-campanha à presidência da república tomou forma, e se tornou explícito quando, em março de 2022, Eduardo Leite renunciou ao governo do Rio Grande do Sul com o pretexto de "se apresentar" à população brasileira.
A pressão evoluiu até maio daquele ano, quando Doria se retirou da disputa. "Hoje, nesse 23 de maio, serenamente entendo que não sou a escolha da cúpula do PSDB. Aceito esta realidade com a cabeça erguida. Sou um homem que respeita o consenso , o diálogo, o equilíbrio. Sempre busquei e seguirei buscando o consenso mesmo que ele seja contrário à minha vontade pessoal", declarou.
Com o ex-governador paulista fora de cena, Eduardo Leite se tornou o preferido no PSDB para assumir a campanha presidencial. Dentre os demais partidos na campanha pela terceira via, porém, a preferida era Simone Tebet, então senadora pelo MDB, que também conquistou o apoio de líderes tucanos. O partido escalou a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) para ser sua vice.
As eleições de 2022, sem um tucano como cabeça de chapa, deram início às alegações em sua cúpula de que o partido estava para morrer. O resultado do pleito foi o mais desastroso na história da legenda: sua bancada na Câmara dos Deputados, formada em federação com o Cidadania, elegeu apenas 17 deputados.
A legenda historicamente forte em São Paulo, não chegou ao segundo turno, tampouco em Minas Gerais. No Senado, sua bancada passou a ter apenas quatro nomes; hoje são três. Três governadores foram eleitos: Eduardo Leite (RS), Raquel Lyra (PE) e Eduardo Riedel (MS).
Dois anos depois, um novo desastre: após as eleições municipais, o partido perdeu quase metade de suas prefeituras, passando a chefiar apenas 276 municípios. Na cidade de São Paulo, onde sempre foi forte, nenhum tucano foi eleito vereador.
Futuro obscuro
A sucessão de derrotas forçaram o PSDB a repensar seu futuro após as eleições municipais de 2024. O tamanho de sua bancada beira o mínimo imposto pela cláusula de desempenho -criada por proposta da própria sigla- para permanecer competitivo. Ao longo dos dois últimos meses, seu presidente, Marconi Perillo, manteve uma agenda de conversa com lideranças tucanas pelo país para decidir o destino do antigo titã eleitoral. A possibilidade de fusão com outro partido ganhou força.
Em diversos momentos em contato com a imprensa, Perillo anunciou que a decisão final ficaria para março. Ele próprio chegou a se manifestar contra a extinção do partido em sua forma independente. Em manifesto publicado na quarta-feira (12), assegurou aos filiados que, qualquer que seja a decisão, o PSDB "vai continuar existindo", e ressaltou que o formato de federação, que preserva grande parte da autonomia institucional da sigla, permanece na mesa.
Dentro da executiva, três principais correntes se formaram. Uma defende a fusão com o PSD, partido que conseguiu assegurar grande parte do capital político perdido pelo PSDB nos últimos anos e com quem possui maior afinidade ideológica. Outra defende o retorno ao MDB, de onde o partido se originou, ou o desenho de uma federação. Outra milita por uma fusão ou federação com o Podemos, Cidadania e Solidariedade, principais parceiros dos tucanos no Congresso Nacional.
Ainda existem outras correntes, bastante minoritárias, a favor tanto de uma guinada ligeiramente à direita, pela fusão ou federação com o Republicanos, e outra ligeiramente à esquerda, pela fusão ou federação com PSB e PDT, com quem os tucanos mantinham proximidade ideológica em seus primeiros anos.
O ponto comum na maioria dos líderes é de que, qualquer que seja a decisão, ela não poderá ser a mera incorporação a outra sigla. O novo desenho deverá formar uma nova instituição ou assegurar a participação tucana dentro de uma federação.
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