O Congresso em Foco apresentou aos deputados federais e senadores sete perguntas sobre a crise política, sucessão presidencial e a visão que os congressistas têm a respeito da atuação de um amplo conjunto de instituições e pessoas. Suas respostas fornecem uma riquíssima fotografia sobre os humores e idiossincrasias do atual Parlamento.
Eis, para começar, as principais opiniões dos parlamentares em relação aos possíveis desdobramentos da cena política nacional:
1) Para apenas 15,9% dos deputados e 19% dos senadores, o governo Lula e o PT serão capazes de esclarecer as denúncias que os jogaram na lama e chegar fortes nas eleições de 2006.
2) Lula não perderá o cargo, mas concluirá o mandato bastante enfraquecido, pensam 60% dos deputados e 56,8% dos senadores.
3) No Senado, 10,8% dos parlamentares acham que "a crise se agravará, trazendo caos econômico" e somente 5,4% acreditam que Lula perderá o mandato. Na Câmara, 8,5% antevêem o término precoce do governo Lula e 4,7% admitem que a lama da crise política levará caos à economia.
4) Os prejuízos trazidos pelos escândalos do mensalão e dos Correios são mais danosos ao governo Lula que ao PT, entendem deputados e senadores.
5) No Senado, o governo (35,1%), os políticos em geral (29,7%) e o Congresso (24,4%) são apontados como os mais prejudicados pelas denúncias de corrupção. O PT veio em quarto lugar, com 5,4%. Na Câmara, a ordem é a mesma. Mudam, porém, os percentuais: respectivamente, 29%, 24,4%, 18,8% e 10,8%.
6) A "oposição como um todo" foi indicada como a maior beneficiária dos escândalos por 55,8% dos deputados e 46% dos senadores. O PSDB, na opinião dos parlamentares, é o partido que mais se beneficia da crise.
7) Para os deputados (54% dos entrevistados), a reforma política será o principal tema da agenda do Congresso até as eleições de 2006. Em segundo lugar, com 32,9%, virão as denúncias de corrupção e o funcionamento de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs). No Senado, é o contrário: 37,9% para CPIs e denúncias e 29,7% para reforma política.
Briga entre irmãos
Em muitos aspectos, a torrente de números trazida à tona pelo levantamento confirma tendências que já haviam sido detectadas intuitivamente pelos mais atentos analistas políticos. Mas oferecem várias surpresas como brindes. Um deles é o já destacado sentimento dos congressistas de que a crise traz prejuízos mais graves ao governo Lula do que ao PT.
O fato torna-se mais eloqüente pelo fato de vivermos uma situação em que a esquerda petista sinaliza desejos de emancipação do governo, ao mesmo tempo em que estrategistas do Planalto tentam empurrar a crise para o colo do partido.
As relações futuras entre PT e governo, afirma o cientista político e articulista do Congresso em Foco Paulo Kramer, podem ser um dos fatores determinantes dos rumos da crise. "Sem o PT", analisa ele, "Lula poderia fazer a travessia com o mínimo de dignidade, mas não teria condições de tentar um segundo mandato. Grande parte do PT e, provavelmente, a maioria da militância petista têm uma cabeça pré-Carta ao Povo Brasileiro.
No fundo, eles são contra a política econômica do Palocci. Então, se o governo se afastar demais do PT, poderia perder o controle sobre a militância. É como aquelas operações malsucedidas de irmãos siameses. Se você secciona os dois, não sobrevive nenhum deles".
Kramer ressalta o fato de os resultados da enquete estarem em sintonia com o papel que a oposição gostaria de ver Lula desempenhando nos próximos meses: com a popularidade em declínio, mas mantendo força suficiente para equilibrar-se no cargo até o fim do mandato. Lembra, porém: "A pesquisa mostra que o Congresso acredita que esse é o cenário mais provável, refletindo um pensamento que é agora mais ou menos consensual. Mas quem imaginaria dois meses atrás que o governo estaria na situação em que se encontra hoje? Portanto, a idéia de que será possível levar Lula sangrando até o final permanece sujeita à confirmação".