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Antônio Augusto de Queiroz
Análise de conjuntura: cenário interno sob controle e externo, instável
Antônio Augusto de Queiroz
Antônio Augusto de Queiroz
Antônio Augusto de Queiroz
Livro desvenda o funcionamento do governo e da máquina pública
economia
26/01/2024 | Atualizado às 11h35
"A nova política busca melhorar diretamente o cotidiano das pessoas, estimular o desenvolvimento produtivo e tecnológico, ampliar a competitividade da indústria brasileira, nortear o investimento, promover melhores empregos e impulsionar a presença qualificada do país no mercado internacional". (Brasil, 2024)
O destaque inicial recai sobre a abordagem coletiva da elaboração do plano, que contou com a participação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), composto por 21 entidades representativa da sociedade civil, do setor produtivo e dos trabalhadores. A formulação colaborativa do plano proporcional a identificação conjunta de problemas e a união de esforços para sua colusão, refletindo a visão de comunidade e bem coletivo delineado por por Ostrom (1990). Essa abordagem tem impactos positivos na esfera governamental, na medida que os participantes se sentem corresponsáveis pelas soluções e se envolvem em sua supervisão e contribuem ativamente para sua implementação e fiscalização. A visão predominante entre os economistas é de que uma política industrial eficaz requer a adoção de abordagens horizontais e investimentos abrangentes em área como infraestrutura, educação, treinamento, pesquisa, desenvolvimento e inovação (P&DI), conforme indicado por Guimarães (2016). Embora a diversificação industrial seja um fator crucial, em países em desenvolvimento, investir em setores que já possuem vantagens de mercado, considerando as possibilidades e viabilidades locais, contribui para o crescimento (Lin; Chang, 2009). Enfrentar o desafio de fornecer recursos financeiros para aproveitar oportunidades competitivas é outra faceta importante. Além disso, estabelecer uma governança sólida, acordos de cooperação e retirar incentivos, os quais devem ser temporários, são requisitos adicionais necessários, como destacado por Khan (2013; 2015) e Hausmann, Rodrik e Sabel (2008). Com o propósito de adotar as políticas mais eficazes, o plano implementou seis missões estratégicas: 1) desenvolver cadeias agroindustriais sustentáveis e digitais para garantir a segurança alimentar, nutricional e energética; 2) fortalecer o complexo econômico industrial da saúde para reduzir as vulnerabilidades do Sistema Único de Saúde (SUS) e ampliar o acesso aos serviços de saúde; 3) promover infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade sustentáveis para a integração produtiva e o bem-estar nas cidades; 4) impulsionar a transformação digital na indústria para aumentar a produtividade; 5) fomentar a bioeconomia, descarbonização e transição para segurança energética, visando garantir recursos para as gerações futuras; e, finalmente, 6) investir em tecnologias essenciais para a soberania e defesa nacionais. Dessa forma, o plano estabelece políticas horizontais que atravessam vários setores, buscando diversificar a atuação, conforme discutido por Guimarães (2016) e Lin; Chang (2009). No âmbito dessas missões, foram definidas metas, desafios, áreas prioritárias e ações específicas, as quais serão supervisionadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI). Para financiar essas iniciativas, serão destinados recursos da ordem de 300 bilhões de reais, cuja gestão ficará a cargo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Finep e da Embrapii. Esse modelo de gestão financeira reflete as considerações apresentadas por Khan (2013; 2015) e Hausmann, Rodrik e Sabel (2008). É importante ressaltar que as metas estabelecidas representariam ganhos significativos para a sociedade brasileira, destacando-se: 1) avançar de 18% para 70% dos estabelecimentos de agricultura familiar mecanizados; 2) aumentar de 42% para 70% a participação nacional nas aquisições de medicamentos, vacinas, equipamentos médicos e dispositivos correlatos; 3) reduzir em 20% o tempo de deslocamento das pessoas de casa para o trabalho; 4) elevar de 23,5% para 90% o número de empresas industriais digitalizadas, triplicando a contribuição da produção nacional nos segmentos de novas tecnologias; 5) ampliar de 21,4% para 50% a participação dos biocombustíveis na matriz energética de transportes; 6) alcançar a autonomia na produção de 50% das tecnologias críticas, fortalecendo assim a soberania nacional. Na implementação de uma política industrial eficaz, a transparência e a avaliação desempenham papéis fundamentais, requerendo o estabelecimento de critérios prévios para o sucesso, o que parece ter sido delineado. A definição de objetivos claros e de longo prazo, aliada a um monitoramento contínuo e avaliação do processo, é crucial, sendo realizada por especialistas diversos. O propósito é realizar ajustes necessários quando as empresas não atingirem o desempenho desejado, conforme destacado por Hausmann et al. (2008). Como ressaltado por Devlin e Moguillansky (2011), a avaliação é um ponto crucial para o êxito de uma política industrial. Em nossa avaliação, o plano indica o esforço para reverter a desindustrialização e impulsionar uma transformação na indústria do país, mediante a adoção de políticas de inovação, de transformação digital; de sustentabilidade ambiental, de promoção de exportações, de qualidade da força de trabalho e de estímulo à produção local. Nesse aspecto, o papel indutor do Estado, por meio de financiamento com apoio dos bancos públicos, notadamente o BNDES, será crucial para induzir o investimento produtivo, com a participação do setor privado. Nesse contexto, o papel da CNDI será crucial para o êxito da "Nova Indústria Brasil", uma vez que sua responsabilidade envolverá o acompanhamento da implementação do plano, a avaliação constante e a correção de seu curso, garantindo assim a eficácia das ações propostas. * Texto escrito em parceria com Allan Titonelli Nunes, procurador da Fazenda Nacional, mestre em Administração Pública pela FGV e especialista em Direito Tributário. Ex-presidente do Fórum Nacional da Advocacia Pública Federal e do Sinprofaz, membro da Academia Brasileira de Direito Político e Eleitoral (Abradep) Referências: Brasil. Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. 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