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Thaynara Melo
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Thaynara Melo
30/3/2020 | Atualizado 10/10/2021 às 17:00
> As últimas notícias da pandemia de covid-19
Podemos dizer que o cenário não começa agressivo, em parte pela condição social dos contaminados e em parte por sorte. No entanto, essa história começa a mudar quando a transmissão silenciosa do vírus passa a ser comunitária, ou seja, não rastreada. O vírus não respeita as barreiras de idade, condição de saúde, contas bancárias cheias e casas com estruturas, e assim, aos poucos, passa a alcançar aqueles que já sofrem diariamente por outro problema: a pandemia invisível da pobreza. A primeira morte no Rio de Janeiro por coronavírus retrata o impacto de quando o vírus e a pobreza se cruzam. Uma doméstica morreu no dia 17 de março no Hospital Municipal Luiz Gonzaga da cidade de Miguel Pereira (RJ). A senhora de 63 anos, portadora de diabetes e hipertensão, seguia limpando e cozinhando em uma casa no Leblon (RJ) em meio às notícias da chegada do vírus no Brasil. O que ela não sabia era que sua patroa fora contaminada pelo covid-19 nas últimas férias que passou na Itália. Após contaminada, teve seu quadro rapidamente agravado, deu entrada no hospital no dia 16 de março e faleceu no dia seguinte. A falta de informação básica e infraestrutura torna a letalidade do vírus mais próxima do pobre no Brasil. Estamos falando de uma população que não pode fazer home office porque sua profissão exige limpar casas, carregar sacos de cimentos, dirigir, sentar em um balcão na frente de uma loja ou rodar o centro vendendo latinhas. Para essa parcela da população, isolar-se do público sem suporte financeiro do estado, significa não ter renda, não ter comida. Isolar-se significa ficar em casa sem, provavelmente, ter condições básicas de higiene já que segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento - SNIS (2017) um total de 35 milhões de brasileiros não têm acesso à água encanada e 48% da população não possui coleta de esgoto. Estamos falando de uma população que é incapaz de se prevenir lavando as mãos com água e sabão por falta de acesso à água que deveria ser um direito universal. Dessa maneira e de outras formas cruéis, o coronavírus começa a se espalhar no metrô, no ônibus e chega às casas superlotadas da periferia sem condições de quarentenas "saudáveis". A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) de 2018 do IBGE retrata bem as casas superlotadas no Brasil quando apresenta a informação que 11,6 bilhões de brasileiros (5,6% da população) vivem em imóveis com mais de três moradores por dormitório, tornando-se assim casas com adensamento excessivo. Nesse contexto, o Governo precisa estar pronto para agir para preservar vidas. O isolamento é o passo essencial e emergencial para desacelerar a curva de contaminação. Porém, para ser viável, precisamos ter olhos sensíveis à condição de pobreza da nossa população garantindo sua renda mensal. A economia só funciona porque existem pessoas produzindo, pessoas vendendo e pessoas consumindo, sem pessoas não existe economia. Precisamos injetar dinheiro para preservar vidas e assim a roda da economia aos poucos voltará a girar. Esse é o entendimento dos países onde a crise do coronavírus chegou antes do Brasil. Alguns exemplos são Portugal que está oferecendo o benefício de até 438,81 euros (R$ 2,406,30) por mês para sua população; Reino Unido onde o Governo bancará os custos do afastamento de trabalhadores para proteger o empregador da falência e o empregado da miséria; e os Estados Unidos da América que está enviando cheques de 1.000 dólares (R$ 5.002) para os trabalhadores. Todos são valores que dentro das suas respectivas realidades viabilizam a segurança familiar. Qual a grande diferença entre esses países e o Brasil? A desigualdade. Muitos que chegaram a esse ponto do texto vão dizer que é fácil para América do Norte ou Europa tomarem essas medidas já que possuem uma economia mais estável ou uma população menor e menos pobre. Esse porém não é uma justificativa para ficarmos paralisados, a desigualdade e pobreza que assolam o Brasil é resultado de gerações que fecharam seus olhos. Investimos em soluções lentas e tardias para combater a miséria e assim a parcela da população que precisa do auxílio do estado é gigante. Agora, mais do que nunca, cabe aos nossos governantes identificar uma saída para que o ônus da crise econômica não seja jogado nas costas dos trabalhadores informais, desempregados, empregados e empregadores.ELEIÇÕES 2026
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