Emanuel, Jaci e Oxalá escolheram o dia de domingo para um ritual novo. Neste dia da semana, um deles contaria uma história de sua
religiosidade. Não haveria tema predefinido ou mesmo a obrigatoriedade de prova impressa da veracidade de seu conteúdo. Não faziam isso para impor a verdade que cada um professava, mas, sobretudo, para que pudessem aprender um com o outro, ou todos com cada um. A escolha ficaria destinada ao livre-arbítrio do contador ou contadora. A experiência já havia ensinado de que a surpresa é uma boa amante das narrativas e aventuras. Coube à Emanuel a escolha da primeira parábola dominical e ele, rapidamente, escolheu uma de suas prediletas, contando-a assim:
"Um homem descia de Jerusalém para Jericó, quando caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no e se foram, deixando-o quase morto. Aconteceu estar descendo pela mesma estrada um sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo outro lado. E assim também um levita; quando chegou ao lugar e o viu, passou pelo outro lado. Mas um samaritano, estando de viagem, chegou onde se encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele. Aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois colocou-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e lhe disse: 'Cuide dele. Quando eu voltar lhe pagarei todas as despesas que você tiver'.
"Qual destes três você acha que foi o próximo homem que caiu nas mãos dos assaltantes?"
"Aquele que teve misericórdia dele", respondeu o perito na lei.
Jesus lhe disse: "Vá e faça o mesmo".
- Eu gosto muito da Parábola do Bom Samaritano, Emanuel - vibrou Jaci. - Lucas 10:30-37, não é?
- Você sabe tudo da
Bíblia, Jaci - provocou
Oxalá. - Está se tornando cristã?
- Eu respeito muito o cristianismo, Oxalá! Mas sou da turma Tupã, meu pai - sorriu Jaci, não caindo na brincadeira do amigo. - É que passo a noite acordada e quando as criaturas humanas dão folga nas malcriações, atualizo minhas leituras.
- Só mesmo dormindo é que elas nos deixam relaxados - concordou Oxalá, para depois falar com Emanuel. - Eu também gosto desta parábola. Acho fantástico e corajoso admitir que a religiosidade não está na roupa ou no documento de identidade da pessoa. É uma clara mensagem de tolerância para com o próximo.
- Exato, meus amigos! Amar a Deus e ao próximo como a si mesmo são os melhores caminhos para herdar a vida eterna - comentou Emanuel. - Afinal não é o que está escrito na Lei?
- Nas nossas Leis, Emanuel! Nas nossas Leis também - sorriu Oxalá.
- Eu sei Oxalá! Todos nós pregamos o amor - disse, candidamente, Emanuel. - Mas tão importante como estar escrito nas Leis, é sabermos como as criaturas as leem.
- É a nossa velha discussão, Emanuel - interveio Jaci. - Tão importante quanto a palavra é saber como a humanidade a enxerga. Como ela une o discurso à prática.
- Infelizmente as criaturas têm usado as Leis Universais que ensinamos contra o que está estabelecido nas próprias Leis - entristeceu-se Oxalá. - E muitas delas, cinicamente, dizendo que agem em nossos nomes, afirmando aos "credos dos que querem crer" que nós, as divindades, estamos "acima de tudo".
- E esta é a maior lição ensinada pelo nosso bom samaritano. Não importou a ele o nome, a religião, a etnia, a cor, o gênero, o local de nascimento ou origem do desconhecido que necessitava de sua ajuda. Ele era, naquele momento, o próximo a ser amado - concluiu Emanuel. - O samaritano praticou o que está escrito na Lei. Faça isso, e viverá.
- Gostei muito do trecho que você selecionou, Emanuel! - comentou Jaci. - A próxima será a minha. Fiquem no aguardo.
- Amém! - encerrou Emanuel. - Na próxima semana será a vez de Jaci brilhar a nossa noite.
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