Lago Paranoá, em Brasília [fotografo] Arquivo Marcello Casal Jr./Agência Brasil [/fotografo]
Domingo, sol escaldante, e eu navegando no caiaque deixado por meu filho, quando se mudou para
São Paulo. Não o examinei e o reboquei até às margens do
Lago Paranoá. Antes de entrar no barco, mergulhei na água fria e plácida. Havia um bom tempo que não me animava a remar.
Saí, em remadas lentas, apreciando o movimento dos jovens em suas lanchas e
jets skis rápidos, provocando pequenas marolas. Na altura da Ponte JK, um grupo disputava corridas, fazendo não mais marolas, mas sim ondas sucessivas e fortes. Na passagem por mim, fui surpreendido por uma vaga que fez virar a embarcação. Na água, sem o necessário colete, tentei pegar o caiaque, mas ele afundou. Olhei para os lados e decidi nadar para a margem esquerda que estava mais próxima. O preparo físico do então menino de praia, no
Rio de Janeiro, já não fazia parte de mim.
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Bem próximo à margem, percebi a presença de um homem sentado na minúscula ilha existente no lago. Cansado, decidi descansar um pouco na ilha. O homem ficou olhando impassível com cenho franzido.
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Cumprimentei-o com um bom dia, ele fez sinal de
ok. Sentei-me ao seu lado onde havia um cinto de mergulho equipado com pequenos bolsos. Abriu um deles e me ofereceu um copo de chá mate e um biscoito Globo.
Disse meu nome, ele respondeu, selva! Eu, pé marrom, indaguei: - Você é militar?
- Fui, respondeu.
- Eu também fui PQD. Abriu um sorriso e iniciamos um bom papo. Disse que foi PQD e chegou a capitão.
- Você mora aqui perto?
- Na Vila Planalto.
- Veio nadando?
- Sim, desde menino nado em mar aberto.
- Eu também. Aí o papo ficou animado. Havíamos vivido próximos na Barra da Tijuca. Relembramos o tempo bom do Rio de Janeiro. Disse que vivia de uma pequena pensão e não precisava de mais nada. Nunca pensou em ser grandes coisas, queria viver livre, andar pelas ruas, comer pastel, beber caldo de cana e falar com as pessoas.
- Sofri uma intervenção cirúrgica que me deixou esta tatuagem horrorosa, mas que convivo bem com ela.
A cicatriz era realmente extensa, mas eu não quis manter o assunto. Falamos de futebol, família, religião e gente.
Afinal, ele abriu o coração e contou-me a sua incrível história de vida. Só acreditei que ele era o
presidente, quando alguns
jets e um barco da Marinha se aproximaram. Antes de os homens encostarem na ilha, perguntou-me: - O que eu faço?
Faça como eu, nada! E pulamos na água em direção à margem.
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