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Gisele Agnelli
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ESTADOS UNIDOS
10/4/2025 | Atualizado às 15:34
O presidente Donald Trump anunciou recentemente uma pausa de 90 dias (Que inesperado!) na escalada tarifária global dos Estados Unidos, excetuando a China, seu novo alvo geopolítico e retórico preferencial. O anúncio foi embalado num discurso inflamado, novamente, no qual o presidente celebrou o que chamou de "Dia da Libertação": uma suposta ruptura heróica com décadas de acordos comerciais que supostamente "sugaram os EUA até secar". A performance verbal incluiu declarações como "estamos ganhando US$ 2 bilhões por dia" com as tarifas, "a China nos roubou trilhões" e "se eu não fizesse isso, os Estados Unidos deixariam de existir como país", "eu (Trump) sou o único presidente com coragem de implementar esta política tarifária dura, mas necessária" ... Tudo isso proferido enquanto ele se comparava a um cirurgião que opera um "paciente muito, muito doente". O paciente, no caso, é a América, supostamente entregue ao colapso por democratas, imigrantes, elites globais e até a Apple!!!
A estética é a do populismo econômico que dramatiza o "suposto" colapso econômico para justificar o autoritarismo "salvador". A novidade, agora, é o uso de instrumentos de política comercial tarifas como extensão da guerra cultural e geopolítica. A decisão de pausar a guerra tarifária por 90 dias para diversos países, mas manter a China sob cerco, revela uma calibragem política mais do que econômica. Aliados importantes, como Elon Musk, e até a Fox News o criticaram publicamente. Com a pausa de 90 dias, Trump sinaliza aos aliados e ao setor produtivo, que sabe dos custos da escalada, mas mantém a China como inimigo simbólico central. Isso lhe permite manter viva a retórica da excepcionalidade americana em oposição ao outro, e a China como vilã da decadência nacional, culpada! ... do déficit fiscal ao covid-19.
As afirmações de Trump sobre ganhos bilionários com tarifas ignoram dados concretos. Um estudo da Moodys Analytics apontou que a guerra tarifária do primeiro mandato custou cerca de 300 mil empregos e reduziu o PIB em 0,3% em 2019. Já o Peterson Institute for International Economics mostrou que a maior parte dos custos foi repassada a consumidores e empresas americanas. Além disso, o déficit comercial com a China não foi revertido, apenas reconfigurado. Empresas realocaram cadeias produtivas para países como Vietnã, México e Índia, mas não retornaram em massa aos Estados Unidos... como sugere a retórica do "reshoring" (trazer as indústrias e fábricas de volta aos Estados Unidos).
O jornalista e analista político Fareed Zakaria, em seu programa na CNN, foi direto: "Essa não é uma estratégia de fortalecimento econômico. É uma cruzada de isolamento disfarçada de nacionalismo". Para Zakaria, Trump está implantando uma "doutrina da independência econômica hostil", que rejeita a lógica de interdependência do pós-guerra e transforma o comércio internacional em guerra simbólica, um modelo que favorece o autoritarismo e marginaliza as instituições multilaterais.
Importante ressaltar que as decisões tarifárias de Trump se baseiam na International Economic Emergency Powers Act (IEEPA), aprovada em 1977 e concebida como uma ferramenta extraordinária para o presidente lidar com ameaças externas à segurança nacional, como terrorismo, proliferação nuclear ou conflitos armados. Ela permite que o presidente bloqueie transações financeiras, congele ativos e imponha restrições econômicas em caso de emergência nacional declarada. No entanto, sob Trump, essa legislação foi reinterpretada e distorcida para se tornar um instrumento contínuo de poder executivo. Trump invocou a IEEPA para justificar tarifas contra o México, sem passar pelo Congresso, alegando questões de imigração: uma leitura forçadamente elástica da definição de "emergência". A norma tem sido esta, o presidente-soberano, capaz de reescrever acordos e impor tarifas por decreto executivo, burlando a separação de poderes!
Enquanto os olhos do mundo estão voltados para as bolsas de valores caindo e subindo, o vai e vem das tarifas, o embate entre Estados Unidos e China, o campo de batalha pode ser outro: o da integridade democrática americana, corroída por dentro sob o disfarce da soberania econômica.
Trump está a anos luz de uma reforma econômica séria que atacaria problemas reais, como as desigualdades econômicas crescentes da sociedade americana, entre muitos outros. Em vez disso, lança-se ao populismo-autoritário-patriótico-tarifário, manipulando o IEEPA como uma carta branca a qual o presidente "Deus Sol" se autoconcede, concedendo a si mesmo, o direito de reescrever acordos comerciais internacionais, impor tarifas, retirar tarifas a bel prazer e interferir em mercados globais: tudo por decreto executivo. A única clareza que fica disso tudo é a certeza do regozijo interno do Trump em dizer para si mesmo: "eu sou o líder intergalático que controla e economia global". Caro leitor, até a próxima crise narcisística aguda....
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