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Luiz Carlos Mendonça de Barros
Luiz Carlos Mendonça de Barros
MUNDO
24/3/2025 10:04
A grande maioria dos analistas políticos nos Estados Unidos e na Europa já esperava um governo Trump radical em suas decisões ao buscar as reformas prometidas durante sua vitoriosa campanha eleitoral. No entanto, poucos poderiam imaginar a intensidade das primeiras medidas adotadas pelo novo presidente e, principalmente, sua linguagem agressiva contra parceiros históricos de mais de setenta anos na defesa da democracia ocidental.
O discurso do vice-presidente americano em seu primeiro encontro com os aliados europeus foi marcado por termos grosseiros e uma retórica agressiva, ao acusar a Europa de ter vivido confortavelmente sob a proteção da OTAN sem contribuir adequadamente com os bilhões de dólares necessários para sua manutenção.
Da mesma forma, Trump e seu vice trataram com hostilidade um presidente ucraniano visivelmente assustado e fragilizado diante das câmeras de televisão, o que levou a revista The Economist a usar o termo mafioso para descrever o comportamento dos governantes americanos.
Além disso, as decisões de Trump na Casa Branca sobre a criação de um sistema agressivo de tarifas comerciais justificadas por ele como uma forma de compensar os ganhos ilegítimos obtidos nas últimas décadas por parceiros comerciais nas trocas com os Estados Unidos geraram verdadeiro pânico nos mercados financeiros globais.
O uso de tarifas econômicas como instrumento de correção de desequilíbrios na balança comercial já havia sido tentado nos Estados Unidos na virada do século 20. Os livros de história econômica documentam, com riqueza de dados, o desastre econômico e político que se seguiu à sua implantação. Ainda assim, os mais otimistas defensores de Trump minimizaram as preocupações e citavam seus assessores econômicos mais próximos, garantindo que ele teria o bom senso de testar o sistema de forma gradual e racional.
No entanto, a realidade se mostrou diferente. Uma prova incontestável de que o Trump que ocupa o Salão Oval da Casa Branca não corresponde às expectativas dos investidores de Wall Street está na queda expressiva de todos os ativos financeiros que compunham o chamado Trump Trade nos dias que se seguiram às eleições. O Bitcoin, a moeda digital de maior volume de negociação nos mercados mundiais, desvalorizou 20%, enquanto índices de ações como o NASDAQ e o S&P chegaram a registrar perdas superiores a 10% no auge do pânico financeiro.
Mas a surpresa com o governo Trump não se restringiu ao volátil mercado de ações de Wall Street. Setores ligados à economia real também foram profundamente impactados. As tarifas previstas para transações no setor automotivo dentro do acordo comercial entre Estados Unidos, Canadá e México levaram um grupo de presidentes das maiores montadoras americanas a uma reunião emergencial com Trump. Temendo impactos negativos, os executivos argumentaram que a implantação das tarifas resultaria em um aumento linear de 15% nos preços dos veículos nos Estados Unidos. Diante da pressão, o novo presidente adiou por trinta dias a aplicação dessas tarifas, mas manteve a previsão de cobrança para o início de abril.
O próprio Federal Reserve (FED) o Banco Central americano , em sua última reunião, anunciou que manteria suspensa a já programada redução de juros para 2025, citando os riscos inflacionários que poderiam surgir caso Trump realmente implemente o sistema de tarifas para reduzir o déficit comercial americano. A incerteza gerada por essas medidas pode alterar significativamente as expectativas de inflação nos próximos meses.
Agora, Trump promete para o próximo dia 2 de abril a divulgação de uma nova rodada de tarifas comerciais, abrangendo um conceito ainda pouco conhecido de tarifas compensatórias, que pode atingir um novo grupo de países incluindo o Brasil. Resta saber o que pode sair do "cofrinho" de um presidente que parece determinado a viver em um mundo econômico de 200 anos atrás.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected]
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