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PESQUISA
15/3/2025 15:50h
Por Ednaldo Ribeiro, doutor em Sociologia pela UFPR, professor de Ciência Política na UEM e na UFPR e vice-coordenador do INCT ReDem.
Nos diagnósticos sobre a crise das democracias, principalmente naqueles que enfatizam o componente populista, a falta de conexão entre representantes eleitos e a população sempre têm destaque. O questionamento sobre a qualidade da representação e o descontentamento dos eleitores sobre a atuação dos eleitos são fartamente documentados pelo menos desde a década de 1990, tanto nas então chamadas democracias consolidadas, como nos países que passaram por transições na chamada Terceira Onda de democratização.
Mas, afinal o que seria uma boa representação na opinião dos eleitores?
Foi justamente essa pergunta que o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Representação e Legitimidade Democrática (ReDem) buscou responder em uma pesquisa nacional inédita. Com o apoio do instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (IPEC), o ReDem conduziu mais de 1500 entrevistas domiciliares com eleitores brasileiros na primeira quinzena de fevereiro, compondo uma amostra nacionalmente representativa.
Um dos primeiros resultados relevantes diz respeito ao que o eleitor privilegia como atributos de deputados e senadores: 48% da população entende que o mais importante é a dedicação do representante para suprir as necessidades de bens e serviços da população. Em seguida, vêm a compatibilidade de pensamento (32%) e semelhança sociodemográfica entre representantes e representados (12%), enquanto 8% não souberam responder. Isso sugere que a qualidade da representação parece depender muito mais das entregas efetivas de deputados e senadores em termos do bem-estar da população do que da defesa de ideias abstratas ou de semelhanças em termos de raça, idade, gênero ou escolaridade.
Além disso, o ReDem investigou a importância de ações específicas dos deputados federais para a percepção da qualidade da representação.
Considerando uma escala de importância 0 a 10, a obtenção de recursos para a sua base eleitoral obteve uma média de 7,3 pontos, exatamente a mesma alcançada pelo item defender um programa de governo. Ou seja, os eleitores parecem valorizar uma representação coerente com uma visão de governo com a mesma intensidade que apreciam uma atuação de resultados, mas quando precisam escolher uma dessas alternativas, a preferência é por essa última.
A pesquisa também avaliou a importância de ter uma boa inserção na mídia, encontrando uma média de 7,5. Para os eleitores brasileiros essa presença midiática tem importância superior aos dois itens anteriores.
Por fim, são reveladores os dados sobre a relação que deve ser cultivada entre deputados e o governo, pois as diferenças nas avaliações são expressivas. Enquanto ser atuante como oposição ao governo obteve 7 pontos na média de importância, manter boas relações com o governo atingiu 8,3 pontos. Isso indica que uma atuação alinhada com o governo, com potencial efeito na obtenção de investimentos e recursos para suas bases eleitorais, é vista como mais relevante do que o trabalho de oposição política, novamente indicando certo pragmatismo por parte do eleitorado.
Esse quadro sugere uma visão sobre a qualidade da representação desafiadora, tanto para eleitos quanto para os estudiosos do tema. Esse pragmatismo centrado em resultados minimiza atributos clássicos, como o exercício da oposição e a defesa de ideologias políticas, e demanda novas interpretações sobre as relações entre Legislativo e Executivo.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected]
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