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Gisele Agnelli
Gisele Agnelli
ESTADOS UNIDOS
27/02/2025 | Atualizado às 15h14
O segundo mandato de Donald Trump começou com altos e baixos. Ele assumiu o cargo com 47% de aprovação, mas, em apenas um mês, esse índice caiu para 44% (Ipsos; Reuters). O que chama ainda mais atenção é a taxa de desaprovação, que disparou de 41% no início para 51% nos primeiros 30 dias. O presidente tem enfrentado desafios tanto na economia quanto na política externa, mas segue colhendo frutos com sua agenda anti-imigração, a única área em que mantém aprovação sólida.
Na primeira semana de governo, o ICE (Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas dos EUA) intensificou suas operações de detenção de imigrantes indocumentados, cumprindo uma das principais promessas de campanha de Trump. Em 26 de janeiro de 2025, foram registradas 1.179 detenções em um único dia, um dos números mais altos até o momento.
No entanto, a média diária de prisões permaneceu abaixo da meta estabelecida pelo governo, que varia entre 1.200 e 1.500 detenções por dia. A superlotação dos centros de detenção rapidamente se tornou um problema. Embora a capacidade oficial seja de 38.521 vagas, o sistema atingiu 109% de lotação, com cerca de 42 mil imigrantes detidos.
Diante desse cenário, o ICE iniciou a liberação de aproximadamente 160 imigrantes por dia, optando pelo monitoramento eletrônico em alguns casos. Esse número é inferior aos 460 liberados mencionados inicialmente, mas confirma que houve necessidade de reduzir a população carcerária devido à falta de espaço.
Por hora Trump está usando o Panamá, que parece ter sido pressionado numa negociação com ameaça de aumento de taxas e tarifas de importação, para aceitar receber cidadãos apreendidos nos USA em situação irregular de países aos quais os USA tem dificuldades de negociação, como Irã, Afeganistão e China.
Guantánamo está sendo pronta para ser reativada e pode ser um problema diplomático, inclusive na relação Estados Unidos-Brasil. Essas operações têm gerado um clima de insegurança entre imigrantes indocumentados, que passaram a evitar espaços públicos por medo de serem detidos.
Os impactos dessas deportações em massa na economia americana ainda não são sentidos, mas o clima de terror entre os imigrantes sem status legal é palpável, com pessoas evitando de ir trabalhar, ao supermercado, ou até a igreja, espaço tradicionalmente inviolável, protegido pela 1 emenda da Constituição americana, que versa sobre a liberdade religiosa.
Se a imigração ainda rende popularidade ao presidente, a economia pode ser seu calcanhar de Aquiles. Trump começou o mandato com 53% de aprovação na gestão econômica, mas o número despencou para 39% após um mês. Esse declínio reflete uma combinação de fatores, desde a inflação persistente até os temores gerados por sua política de tarifas de importação. A inflação continua acima da meta do Federal Reserve, marcando 3% em janeiro, e a elevação no custo de alimentos essenciais alimenta a insatisfação pública.
Um dos principais vilões do momento são os ovos, que tiveram um aumento de 15,2% no último mês devido ao abate de milhões de galinhas para conter a gripe aviária. Uma pesquisa da CNN divulgada em fevereiro aponta que a maioria dos americanos acredita que Trump não fez tudo o que podia para conter a inflação.
Paralelamente, as novas tarifas de importação contra México, Canadá e China causam preocupação. Os mercados financeiros, por ora, não reagiram negativamente, mas a decisão de impor uma tarifa de 25% sobre o aço e o alumínio já elevou os preços desses insumos e pode prejudicar setores como a indústria manufatureira e a petrolífera.
Na política externa, Trump avança com uma estratégia que mescla isolacionismo e expansionismo agressivo. Como prometido, retirou os EUA do Acordo de Paris e da Organização Mundial da Saúde, mas surpreendeu em seus arroubos expansionistas, que até este primeiro mês de governo foram apenas bravatas ou uma técnica de intimidação.
Em declarações polêmicas, sugeriu que os Estados Unidos deveriam tomar o controle do Canal do Panamá, comprar a Groenlândia e até incorporar o Canadá como o 51º estado americano. Seu já esperado alinhamento com regimes e personalidades autocráticos também se tornou evidente. A relação com Israel se tornou alinhamento absoluto, com a Casa Branca aprovando um pacote de mais de 7 milhões de dólares em munições e armamentos, dando aval a uma postura cada vez mais agressiva de Benjamin Netanyahu em Gaza.
O governo americano cogita até mesmo uma intervenção direta na região, o que, segundo analistas, poderia configurar limpeza étnica e crimes de guerra por parte dos USA.
Com relação à Ucrânia, Trump adotou uma abordagem de transação comercial explícita, exigindo que o governo ucraniano conceda às empresas americanas direitos de exploração de minérios e terras raras como forma de reembolso pelos gastos dos EUA na guerra contra a Rússia. Criou sua própria versão dos fatos históricos chamou Zelensky de ditador, se aproxima e adula Putin, segundo Trump, um cara muito inteligente.
Internamente, a administração de Trump 2 tem se caracterizado pelo uso do Poder Executivo, Em um mês, Trump assinou 73 ordens executivas, superando não apenas seus antecessores imediatos, mas ultrapassando, em apenas 30 dias, o total de ordens assinadas em dois mandatos inteiros de alguns presidentes.
As ações de Trump, nestes poucos dias de mandato, começaram a enfrentar resistência no sistema judicial. Seu decreto para acabar com o direito automático de cidadania para crianças nascidas em solo americano já foi bloqueado por um tribunal federal, e a questão deve chegar à Suprema Corte nos próximos meses.
Embora a decisão judicial possa parecer um revés, Trump tem usado a oportunidade para desafiar os limites do sistema legal e testar até onde pode ir. O governo Trump 2 tem sido, até agora, um teste de estresse e limites institucionais.
O novo Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) foi criado sem o devido escrutínio legislativo e se tornou um dos focos de críticas à nova gestão. Embora o governo negue oficialmente, Elon Musk tem atuado como líder informal do departamento e ampliado sua influência dentro da Casa Branca. Sob sua orientação, mais de 10 mil funcionários federais foram demitidos.
Musk se tornou um faz tudo da administração Trump, desempenhando papéis que vão de articulador internacional a conselheiro de corte de gastos. Entre suas medidas mais bizarras, ordenou que funcionários públicos respondessem a e-mails sob pena de serem considerados fraudulentos ou mesmo funcionários fantasmas.
O bilionário também tem estado envolvido em reuniões diplomáticas, encontrando-se com Vladimir Putin e líderes europeus, o que levanta questionamentos sobre sua real função dentro do governo e a legalidade de sua posição e ações, além do óbvio, imenso e escandaloso conflito de interesses que existe entre os interesses privados e financeiros de Elon Musk (X, Tesla, Starlink...) e o governo americano.
Quando um líder passa a governar ignorando ordens judiciais, limitando e deslegitimando a imprensa livre, substituindo funcionários públicos por aliados leais, perseguindo adversários políticos (criando um clima de intimidação); subvertendo o papel do Legislativo e aparelhando instituições-chave e Ministérios com brothers que rezam a agenda MAGA, e; por fim, criando uma estrutura paralela aos Ministérios (DOGE) com amplos poderes e acessos a informações sensíveis dos cidadãs como seguro social sem qualquer prestação de contas ou transparência, o que resta não é mais um governo constitucional, mas uma estrutura que se assemelha a regimes híbridos, onde a legalidade se mantém apenas como fachada.
Se os pesos e contrapesos não forem reafirmados rapidamente, os EUA podem deixar de ser apenas um caso clássico de erosão democrática para se tornarem um experimento explícito de autocracia dentro do sistema presidencialista.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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