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Antônio Augusto de Queiroz
Análise de conjuntura: cenário interno sob controle e externo, instável
Antônio Augusto de Queiroz
Antônio Augusto de Queiroz
Antônio Augusto de Queiroz
Livro desvenda o funcionamento do governo e da máquina pública
DIREITA
24/02/2025 | Atualizado às 14h16
A personalidade e as estratégias políticas de Donald Trump têm sido objeto de estudo e admiração por parte de muitos líderes ao redor do mundo, incluindo o presidente argentino Javier Milei e o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro. No entanto, enquanto Trump demonstrou uma habilidade singular em manipular narrativas e impor sua vontade por meio de táticas agressivas, a ponto de ter retornado ao governo dos Estados Unidos, Bolsonaro parece carecer da mesma habilidade, tendo revelado deficiências significativas em sua capacidade de governar e negociar, assim como na oposição, após a derrota eleitoral de 2022.
Esta coluna explora as características de Trump, exemplificadas por suas políticas de aumento de tarifas e chantagem econômica, e contrasta com as limitações de Bolsonaro, que, apesar de tentar emular o presidente norte-americano, está longe de alcançar seu nível de influência e impacto.
A personalidade de Donald Trump foi amplamente retratada tanto no filme quanto no reality show "O Aprendiz", onde ele personificava o arquétipo do empresário bem-sucedido e implacável. Seu modus operandi, tanto nos negócios quanto na política, segue três princípios básicos, aprendido com seu mentor, um advogado (e conselheiro) inescrupuloso: atacar incessantemente, relativizar a verdade e nunca admitir derrotas. Essas regras foram fundamentais para sua ascensão nos negócios e seu acesso ao poder e para sua forma de governar, conforme segue.
1. Ataque, ataque, ataque: Trump é conhecido por sua postura agressiva, tanto em discursos públicos quanto em negociações. Um exemplo claro disso tem sido sua política de aumento de tarifas para países concorrentes, especialmente a China, neste e no mandato anterior. Essa medida, embora controversa, demonstra sua disposição de usar o poder econômico dos Estados Unidos como arma para pressionar outros países.
2. A verdade é relativa: Trump frequentemente distorce fatos ou apresenta narrativas alternativas para sustentar suas posições. Fez isso durante a pandemia de covid-19, por exemplo, quando minimizou a gravidade da crise e promoveu tratamentos não comprovados, como a hidroxicloroquina, sem base científica, e continuou a fazer quando alegou fraude na eleição em que foi derrotado em 2020. Sua capacidade de criar e disseminar suas próprias "verdades" foi uma ferramenta poderosa para manter sua base de apoio e voltar ao poder nas eleições de 2024.
3. Nunca admita derrota: mesmo diante de evidências contrárias, Trump nunca admite erros ou derrotas. Após as eleições de 2020, ele insistiu em alegações infundadas de fraude eleitoral, recusando-se a conceder a vitória a Joe Biden. Essa postura reforçou sua imagem de líder forte e resiliente, mas também exacerbou divisões políticas nos EUA.
Trump também utilizou e continua a utilizar a chantagem econômica como ferramenta de política externa. Um exemplo notável foi sua abordagem em relação à Coreia do Norte. Em 2018, ele ameaçou impor sanções econômicas devastadoras ao país, ao mesmo tempo em que se engajava em um diálogo direto com o líder Kim Jong-un. Tática idêntica tem usado no atual mandato em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia, enviando sinais enviesado de oposição à Rússia, como forma de arrancar concessões para exploração de terras raras da Ucrânia, porém tem dialogado com o presidente da Rússia Vladimir Putin. Essa combinação de pressão e negociação tem sido uma característica de seus mandatos.
Outro exemplo foi e continua sendo sua relação com a Otan, em que Trump repetidamente critica os países membros por não cumprirem suas obrigações financeiras, ameaçando reduzir o apoio dos Estados Unidos ao bloco. Essa postura tem forçado muitos aliados a aumentarem seus gastos com defesa, demonstrando a eficácia de suas táticas de pressão.
Jair Bolsonaro, por outro lado, tenta emular o estilo de Trump, mas carece da mesma habilidade estratégica e experiência empresarial. Ademais, não tem carisma, nem capacidade de oratória, algo que Trump demonstrou ter. Sua abordagem política é marcada por uma retórica agressiva e polarizadora, mas frequentemente sem resultados concretos. Enquanto Trump usou o aumento de tarifas e a chantagem econômica para alcançar objetivos específicos, Bolsonaro falhou em implementar políticas econômicas eficazes para o Brasil quando foi presidente, conforme segue:
1. Falta de estratégia econômica: ao contrário de Trump, que usou o poder econômico dos EUA para pressionar outros países, quando presidente Bolsonaro não conseguiu articular uma estratégia clara para o Brasil. Sua gestão da pandemia, por exemplo, foi marcada por negacionismo e falta de coordenação, resultando em uma das maiores taxas de mortalidade do mundo. Enquanto Trump minimizou a crise, mas implementou pacotes de estímulo econômico, Bolsonaro não conseguiu equilibrar a saúde pública com a economia, e acabou atropelado pelo Congresso, que foi muito mais proativo.
2. Dependência de terceiros: Bolsonaro frequentemente responsabilizava governos anteriores, a mídia ou outros atores pelos problemas do país, sem propor soluções viáveis. Essa postura o tornou dependente de bodes expiatórios, ao invés de ter assumido a liderança e resolvido os problemas. Em contraste, Trump, mesmo quando mentia ou distorcia fatos, sempre se apresentava como o único capaz de resolver as questões.
3. Exploração de instintos primitivos: como governo e como oposição, Bolsonaro só sabe apelar para a fé e o sentimento de rejeição e ódio em sua base de apoio, mas sem uma agenda clara para melhorar a vida dos cidadãos. Sua retórica anti-esquerda e anti-establishment é semelhante à de Trump, mas sem o mesmo impacto prático. Enquanto Trump conseguiu implementar políticas como a reforma tributária e a renegociação de acordos comerciais, Bolsonaro não conseguiu avançar em reformas estruturais no Brasil, exceto no caso da reforma da previdência em 2019, cuja orientação fiscalista atraiu apoios no Congresso e garantiu sua rápida aprovação, num contexto em que a esquerda estava fragilizada
Assim, embora Bolsonaro tente se apresentar como o "Trump dos trópicos", as diferenças entre os dois são evidentes. Trump, com sua experiência empresarial e habilidade para manipular narrativas, muitas vezes exagerando de forma quase teatral, tenta, e muitas vezes consegue, impor sua vontade tanto internamente quanto no cenário internacional. Bolsonaro, por outro lado, carece da mesma eficácia, revelando-se incapaz de transformar sua retórica em ações concretas.
Enquanto Trump usou e usa de suas habilidades empresariais e de comunicador e impõe o aumento de tarifas e a chantagem econômica como ferramentas de poder, Bolsonaro não conseguiu, enquanto foi presidente, articular uma estratégia econômica clara para o Brasil. Sua dependência de terceiros e sua incapacidade de resolver problemas estruturais do país o colocaram em uma posição de fraqueza, longe do "talento de Trump". Em última análise, a imitação de Bolsonaro, que chegou ao servilismo e idolatria do seu "guru", não apenas falhou e falha em alcançar os mesmos resultados, mas também expõe suas deficiências como líder.
Por fim, registre-se que Donald Trump é conhecido por sua abordagem pragmática e oportunista, sempre buscando tirar vantagem em qualquer situação para benefício próprio ou de seu país. Sua personalidade é frequentemente caracterizada por ações que priorizam seus interesses, muitas vezes em detrimento de outros, incluindo aliados eventuais. Essa tendência de agir de forma egoísta, sem oferecer apoio genuíno, sugere que é pouco provável que saia em defesa de Jair Bolsonaro, que, por sua vez, adotou uma postura de submissão e alinhamento excessivo em relação ao presidente norte-americano.
Essa dinâmica reforça a ideia de que Bolsonaro pode estar em uma posição vulnerável, sem receber o apoio esperado em troca de sua lealdade, até porque pouco benefício traria a Trump. Assim como Bolsonaro, que utiliza a tática de apontar supostos culpados pelos problemas que afligem a população, destruir as políticas públicas e atacar a democracia, Trump é especialista em prejudicar os outros para proteger seus interesses, não sendo da sua índole ajudar ninguém, muito menos pessoas submissas. Se der uma declaração em favor de Bolsonaro, nesse momento do julgamento no Supremo Tribunal Federal, será surpresa!
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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