Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Ricardo de João Braga
Ricardo de João Braga
Ricardo de João Braga
Ricardo de João Braga
MUNDO
20/02/2025 | Atualizado às 10h45
Sou daqueles mais lentos na interpretação das coisas. Embora paulista, talvez herdei um pouco da mineirice de antepassados distantes, temo saltar para conclusões precipitadas. Assim, tenho assistido ressabiado as ações do novo mandante e desmandante dos EUA, o presidente Donald Trump, e procurado compreender qual projeto está por trás de tudo.
Quanto à comunicação, Trump e sua máquina de guerra informacional parecem seguir à risca a máxima de Goebbels de que o importante é manter-se em evidência, seja bem ou mal falado. Faz bastante sentido, na medida em que não dá tempo aos críticos, esmagados pela avalanche de sandices que o todo-poderoso presidente gera ininterruptamente. Contudo, comunicação não é conteúdo, não é fim, é meio.
O que mais me salta aos olhos no mundo concreto é a disrupção de tudo. Trump ataca os organismos multilaterais, acordos internacionais, parceiros comerciais, alianças militares, parceiros políticos. São tarifas, declarações bombásticas, drásticas ações unilaterais. Atira também para dentro desmantelando o governo, suas agências. Solapa a educação pública, deixa decisões nas mãos de Elon Musk - autoritário, apoiador de nazistas, quintessência do capitalismo que mói seres humanos -, abandona qualquer ideia de governo como indutor de equidade ou crescimento justo e ambientalmente sustentável.
Não se pode descartar de pronto que boa parte da energia do grupo flua de delírios coletivos que se fortalecem em sua bolha. Ao longo da história a percepção distorcida da realidade e a falta de sanidade mental compõem muitas vezes a forma de ver o mundo dos poderosos. Contudo, não creio na possibilidade do delírio para a cúpula do grupo. As cirúrgicas intervenções nas sociedades e sistemas políticos mundo afora, via redes sociais e declarações do presidente, mostram que há inteligência e plano no processo. Como explicar o apoio de Musk à AFD na Alemanha, a viralização brutal da polêmica do PIX no Brasil no final de 2024, as falas sobre a Ucrânia e a Faixa de Gaza?
Trump e seus seguidores são conservadores em uma linha clara: separam as formas de organização "naturais" da sociedade daquelas patológicas. As naturais são a família, a igreja e o mercado, formações espontâneas das forças sociais e assim positivas. Governo, organismos multilaterais, partidos, sindicatos, por outro lado, concebem-nos como construtos que impedem a plena liberdade do homem. Claro que isso não significa que valorizem de fato a família, a igreja e o mercado, ou que não se aproveitem do governo e tudo mais, como prova o talvez promotor de fraudes em criptoativos Milei, mais um do grupo dos disruptivos. O que importa é que os inimigos são claros, e inimigos.
Talvez Trump e seus asseclas venham a moldar, infelizmente, uma nova ordem mundial no longo prazo. Nem eles nem nós, com certeza, podemos prever como isso seria, pois cabe sempre lembrar que "os homens fazem a história, mas não a fazem como querem". A disrupção pode gerar qualquer coisa, inclusive o fim do mundo. Deus nos livre!
Contudo, parece claro que as metas de curto e médio prazos do grupo levam a um recrudescimento das formas de exploração capitalistas. A arena econômica, deixada livre, gera irremediavelmente poucos vencedores e muitos perdedores. Governos e organizações coletivas servem em geral para tentar balancear o poder dos fortes e dos fracos. Então organizações políticas, todas estas que se tornaram alvo da sanha trumpista, servem ao mínimo balanceamento das disputas. Destruí-las nos leva de volta a uma ordem social do século XIX, das páginas de Oliver Twist e dOs Miseráveis.
Nos limites da minha compreensão e também da minha precaução com tanta novidade, o que consigo vislumbrar de forma provisória e sujeita a reiteradas avaliações é que Trump e seus asseclas querem mais e mais dinheiro, às expensas dos eleitores, da nação, do mundo e do planeta. Não é uma conclusão brilhante, muito menos inovadora. Mas é a que me para em pé no momento. Tanta disrupção parece ser apenas a desorganização da arena para que os mais fortes tenham ainda mais vantagens para extrair seus ganhos.
Infelizmente a sociedade ainda não está à altura de compreender e atuar contra esses predadores. Precisamos captar a essência das coisas para agirmos com consequência e resultados.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].