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06/12/2020 | Atualizado às 09h28
Oficialmente, a Universal diz que política e religião não se misturam. "Como instituição religiosa, a Igreja Universal do Reino de Deus não participa do processo eleitoral", afirmou a igreja em nota enviada à reportagem. "Além disso, todo membro do corpo eclesiástico que decide ingressar na carreira política licencia-se de suas funções na Igreja, passando a se ocupar exclusivamente da atividade pública". A entidade também disse não ter um controle de membros que se candidataram a cargos e acabaram eleitos. Não é bem o que indica quem estuda a relação da instituição com a política. "A Universal inaugurou este tipo de política, lá na década de 1980, já na redemocratização", explica Lívia Reis, que é pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião (Iser) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O modus operandi para eleger pastores a cargos políticos passa pelo uso da estrutura da Igreja - cuja narrativa de nascimento no coreto ao império com canal de TV e presença mundial já está no imaginário brasileiro: "Eles [os candidatos] utilizam tanto a estrutura institucional quanto a estrutura partidária do Republicanos", explicou Lívia, que resumiu: "Esta estratégia de candidaturas da Universal passa necessariamente pelo Republicanos." A fórmula do sucesso O uso exclusivo do Republicanos - nascido em 2005 dentro da Igreja Universal e até hoje comandada por um de seus bispos licenciados, o deputado Marcos Pereira (SP) - seria a fórmula do sucesso para o aumento do seu capital político. Uma série de dados coletados pela cientista política Flávia Babireski, pesquisadora do Laboratório de Partidos e Sistemas Partidários da Universidade Federal do Paraná (LAPeS/UFPR), aponta a proposta de organização nas eleições nacionais: na eleição de 2006, em que participou ainda sob o nome de Partido Republicano Brasileiro (PRB), a Iurd lançou menos de 15% dos seus candidatos pela legenda, valendo-se de nomes no PTB, DEM e MDB. Desde 2010, porém, 100% dos candidatos estavam vinculados ao PRB - e não há indicativo de que isso tenha mudado. "A Universal é muito centralizada, uma instituição só no Brasil inteiro - então tem uma estrutura hierárquica muito coordenada , muito bem pensada", explicou Flávia, que é doutoranda na UFPR e tem como objeto de estudos os partidos confessionais. "Então fazer essa coordenação política paralela é muito fácil. Saber quem é o candidato oficial da Igreja, a Universal sabe." Segundo Flávia, isso dá à Universal uma vantagem sobre a Assembleia de Deus (AD), que é a maior denominação evangélica do Brasil. Além de uma fragmentação partidária na hora de suas candidaturas (que passaram por 11 legendas diferentes em 2014), a AD tem autonomia em cada um dos seus ministérios e pastores. "Ela tem menos coordenação e estratégia, e fica muito mais dispersa", ponderou. Flávia ressalta que, em uma perspectiva geral, as denominações pentecostais têm uma diferença fundamental sobre a Igreja Católica: apesar de totalmente centralizada como a Universal, normas internas impedem a candidatura de qualquer um de seus representantes. Bancada evangélica Em um levantamento apresentado pelo Congresso em Foco com exclusividade em setembro, 105 deputados e 15 senadores fazem parte da bancada evangélica no Congresso Nacional. O número, que era de 21 deputados há 25 anos, hoje representa 20% das cadeiras da Casa. A fragmentação em 5.571 municípios em 26 estados torna a criação de uma frente municipal de pastores evangélicos, como a do Congresso, uma tarefa muito mais complicada. Mas, características próprias da política municipal, influenciam nesta dinâmica. "A política local é muito mais próxima do eleitor, com contato mais direto", argumenta Flávia. E, por esta proximidade, que uma igreja - e seus líderes - podem fazer diferença na hora do voto. Nas eleições de 2020, o Republicanos se tornou a 10ª maior legenda do país, ganhando espaço na direita brasileira: a legenda comandará, com seus prefeitos, uma população de quase 7 milhões de pessoas e um PIB de R$ 176 bilhões. O quanto disso fará da Universal uma igreja poderosa politicamente é difícil de medir. O Iser planeja esquadrinhar as filiações religiosas dos vereadores das 26 capitais estaduais - mas este esforço deve ser publicado apenas em meados de 2021, calcula Lívia.
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