Foto: Ryan Abel via Flickr
Um projeto da
Câmara dos Deputados, apresentado em junho deste ano, pretende dar vida ao chamado "Transporte Aéreo Remunerado Individual de Passageiros". A proposta, conhecida pela sigla "Tarp", serviria para dar segurança a uma modalidade de transporte que ocorreria, de acordo com o autor da proposta de maneira paralela aos serviços regulamentados de taxi aéreo. Desde então, a proposta, conhecida como "Uber aéreo", vem sendo alvo de críticas de aeronautas, de empresas que atuam no setor e mesmo do governo.
"Uma discussão de tamanha complexidade deveria ser feita no âmbito da agência", disse Ricardo Fenelon, advogado que já foi diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (
Anac). "Me parece que seria muito mais adequado que a Anac estivesse tocando essa discussão."
O texto do
PL 2166/2021 foi apresentado pelo deputado
Delegado Marcelo Freitas (PSL-MG), e fala em aeronaves pilotadas por seu proprietário e eventualmente podendo contar com piloto auxiliar, desde que seguidas regras de uso. Ao justificar a proposta, o deputado diz que as empresas de táxi aéreo, regulamentadas e fiscalizadas constantemente pela Anac, não conseguem atender toda a demanda.
"Seja pelo valor cobrado, devido aos custos operacionais, seja pela dificuldade no atendimento a regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos. Os passageiros, não raras vezes, têm que recorrer ao uso de aeronaves não credenciadas para este serviço e que realizam o transporte aéreo não regular ou clandestino", escreveu o parlamentar.
É possível saber se uma aeronave é autorizada para o táxi aéreo de passageiros por meio do
Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB), disponibilizado pela Anac. Nele, é possível descobrir, por exemplo, que o avião que se acidentou no oceano próximo a Paraty (RJ) nesta semana, não possuía licença para o taxi aéreo. Já a aeronave que levava a cantor a Marília Mendonça, em um voo no início de novembro, estava autorizada para a operação.
No início de novembro, uma audiência da Comissão de Viação e Transportes (CVT) da Câmara dos Deputados debateu o tema com a sociedade. As críticas foram generalizadas. "As exigências adicionais do Tarp significam um acréscimo, embora reduzido, ao nível de segurança verificado nos requisitos ao transporte aéreo privado", disse Raul Marinho, que é gerente técnico da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag). "Porém, ele está ainda a uma grande distância do que é requerido para o taxi aéreo convencional, nos regulamentos da Anac."
Raul Marinho disse que não há evidências de que o país atravessa um aumento no transporte clandestino, mas sim o contrário - que a Anac estaria promovendo uma maior fiscalização contra a prática. O valor do "Uber aéreo", no entanto, não seria competitivo a ponto de acabar com o transporte clandestino: "è questionável se o cliente habitual do taxi aéreo clandestino, normalmente orientado só pelo preço, poderia migrar para o Tarp, que apesar de sua simplicidade, ainda possui custos tributários que o tornam mais oneroso que a alternativa clandestina", concluiu.
Já o secretário nacional de Aviação Civil do
Ministério da Infraestrutura, Ronei Glanzmann, disse que o governo tem uma agenda constante de aumento da concorrência entre agentes privados - mas isso não poderia valer para este tema. Na aviação privada, advertiu Ronei, o objetivo é proteger terceiros - e por isso fica vedado o transporte remunerado em voos desta categoria.
"Quando a gente traz uma possibilidade de transporte público, comercializado, a mercado, a gente cria um grande problema. Quem garante que o passageiro que vai comprar aquela passagem tenha uma simetria grande de informações? Ele não conhece nada de avião, de empresa aérea, da aeronave e do piloto", resumiu. "Ele vai contratar alguém para levá-lo de um ponto A para um ponto B."
Questões sobre treinamento e segurança vem sendo tratadas com o devido cuidado pela Anac, argumenta Ricardo Fenelon."O que a gente aprendeu nos últimos anos sobre regulação do setor aéreo é que em alguns casos, é até melhor não regular", argumenta. "Independentemente de onde será feita a discussão, que eu entendo e acredito é que essa discussão seja feita com muita calma e muita participação da agência, que hoje tem o
know-how da regulação da aviação civil do país."
O relator do texto é o deputado
Bosco Costa (PL-SE). "Não podemos é permitir que aumente o quantitativo sem qualidade. Precisamos de ter uma legislação, algo que melhore a qualidade do transporte no país, preservando a segurança", disse.
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