Há pouco mais de dez anos, a Rússia declarou guerra ao alcoolismo. A doença era responsável por 59% das mortes entre homens e 33% nas mulheres na faixa de 15 a 54 anos, de acordo com estudos de Oxford e do Centro de Pesquisa de Câncer em Moscou. Entre as medidas adotadas pelo governo Putin, estavam o aumento da carga tributária das bebidas com maior teor alcoólico, para induzir a população a consumir outras com menos álcool, e a adoção de limites de comercialização.
Se, por um lado, parte da população produziu álcool em casa - assim como ocorria no período da Lei Seca dos EUA nos anos 1920 -, por outro, a Universidade de Oxford indicou que os índices de mortes relacionadas à bebida caíram 25%. A Rússia virou
case dentro da Organização Mundial de Saúde (OMS), que lançou um estudo público intitulado "
The effects of alcohol control measures on mortality and life expectancy in the Russian Federation".
O governo russo não tirou essa política de saúde pública de uma cartola de mágico. Esse é o padrão internacional. A maioria dos países-membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) incentiva que o imposto sobre as bebidas de menor teor alcoólico, como a
cerveja (5% de teor alcoólico), seja mais baixo do que o da categoria de destilados (40% de teor alcoólico). Recentemente, o Reino Unido anunciou mudanças na taxação cobradas sobre o álcool, na qual reduziu a tributação de bebidas de baixo teor, caso da cerveja.
Além disso, o valor da tributação aumenta de acordo com o teor alcoólico da bebida, em uma ação para incentivar escolhas mais saudáveis e encorajar a indústria na produção de bebidas de menor graduação. O Plano de Ação Europeu (2012-2026) para a redução do uso nocivo de álcool também vai em linha com os argumentos citados e propõe a majoração de impostos na proporcionalidade de produtos com maior concentração alcoólica. O documento foi endossado por dezenas de países da região europeia.
Se não bastam os modelos tributários e
cases internacionais, em maio de 2022, durante sua 75ª edição, a OMS reconheceu e aprovou o impacto da diferenciação tributária e o papel da indústria no incentivo e na promoção ao consumo de bebidas de menor teor alcoólico, como uma estratégia efetiva e de sucesso nas políticas públicas de prevenção ao consumo nocivo de álcool. O documento se chama "Plano de Ação Global sobre o Álcool".
O Brasil hoje está alinhado com os padrões internacionais de tributação de bebidas alcoólicas, o qual onera, sim, com maiores alíquotas, bebidas com maiores percentuais alcoólicos. Não por uma questão de preferência por um ou outro setor da indústria, mas por priorizar a saúde pública.
Dessa forma, o mais importante a ser destacado quando se debate o imposto seletivo por teor alcoólico dentro de uma reforma tributária é saber o que é mais importante: priorizar a saúde pública ou um segmento específico de bebidas, que em sua maioria é importada? Quem ganha e quem perde com uma pretensa isonomia de alíquotas?
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