Número de pistas clandestinas na Amazônia supera em dobro o número de pistas regulares. O garimpo é o principal usuário dessas pistas. Foto: Bruno Kelly/Yanomami sob ataque
O garimpo ilegal cresceu 54% em 2022 e devastou novos 1.782 hectares da Terra Indígena Yanomami (TIY), de acordo com levantamento feito por imagens de satélite. Segundo o monitoramento da Hutukara Associação Yanomami (HAY), o desmatamento associado ao garimpo cresceu 309% entre outubro de 2018 e dezembro de 2022. Nesse período, 3.817 hectares foram destruídos na maior terra indígena do país. Quando os indígenas começaram a monitorar os efeitos do garimpo, em outubro de 2018, havia 1.236 hectares devastados. O presidente
Lula faz reunião nesta segunda-feira com vários ministros para tratar da
crise humanitária na terra indígena.
Em 2021, o desmatamento chegou a 3.272 hectares, conforme apontou o relatório Yanomami
Sob Ataque: garimpo na Terra Indígena Yanomami e propostas para combatê-lo, elaborado pela Hutukara e pela Associação Wanasseduume Ye'kwana, com supervisão técnica do Instituto Socioambiental (ISA).
[caption id="attachment_561566" align="aligncenter" width="714"]

Crescimento do desmatamento associado ao garimpo na Terra Indígena Yanomami entre 2018 e 2022. Fonte: Hutukara Associação Yanomami[/caption]
O Sistema de Monitoramento do Garimpo Ilegal na TIY é feito com imagens da Constelação Planet, satélites de alta resolução espacial capazes de detectar com precisão e mais frequência de vigilância áreas muitas vezes não capturadas por outros satélites.
Segundo o monitoramento, as maiores concentrações de destruição estão nos rios Uraricoera, ao Norte da Terra Indígena Yanomami, e Mucajaí, região central. A região de Waikás, no Uraricoera, concentra 40% do impacto, com cerca de 2 mil hectares devastados. Enquanto isso o Rio Couto Magalhães, afluente do Mucajaí, tem 20% do impacto, com cerca de mil hectares.
[caption id="attachment_561567" align="aligncenter" width="715"]

Na coluna da esquerda, número de casos de malária; na coluna da direita, desmatamento em hectares, segundo monitoramento do Mapbiomas. Fonte: Mapbiomas e Sivep Malária[/caption]
A terceira região mais afetada é a de Homoxi, na cabeceira do Mucajaí, com 15% da devastação, o que corresponde a cerca de 760 hectares. "Os impactos do garimpo vão além destes observados no satélite, que é focado no desmatamento. Eles também afetam as disseminações de doenças, deterioração no quadro de saúde das comunidades, produção de conflitos intercomunitários, aumento de casos de violência e diminuição da qualidade de água da população com destruição dos corpos hídricos. Tudo isso somado compromete a capacidade de viver nas comunidades", explica o geógrafo Estêvão Benfica, assessor do ISA.
De acordo com Estêvão, a mobilidade dos garimpeiros de uma área para outra é um fator que resulta na proliferação de doenças. Os invasores chegam a levar novas cepas de malária de uma região para outra, por exemplo.
É crescente o número de casos de malária na região. Conforme o Sivep Malária, sistema de monitoramento do Ministério da Saúde, entre 2020 e 2021, mais de 40 mil casos de malária foram registrados na Terra Indígena Yanomami. A explosão dos casos da doença no território indígena coincide com o aumento da área devastada pelo garimpo.
(Com informações do ISA)