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Congresso em Foco
07/08/2010 | Atualizado às 00h00
Rudolfo Lago
Entre os dias 19 de abril e 20 de maio de 1980, o então líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva, hoje presidente do Brasil, esteve preso nas celas do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), em São Paulo, com base na Lei de Segurança Nacional, da época da ditadura militar. Lula presidia o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Liderava greves que serviram para demonstrar, na ocasião, a fragilidade da ditadura, que já vivia seus últimos momentos. As greves lideradas por Lula se tornaram fatores fundamentais para o fim do regime em 1985, com a vitória de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral. Criaram o caldo para que, na redemocratização, se fundasse o Partido dos Trabalhadores e para que, Lula, naturalmente, se tornasse a sua principal referência e conquistasse, em 2002, a Presidência da República.
Ao lado de Lula naquelas celas do Dops estava o metalúrgico José Maria de Almeida. Operário da fábrica de amortecedores Cofap, em Santo André, Zé Maria, como é conhecido, foi também um dos comandantes daquelas históricas greves do ABC. Pregava a necessidade de criação de um partido dos trabalhadores quando Lula ainda era reticente sobre o assunto. E foi, com o hoje presidente da República, um dos fundadores do PT. Na segunda-feira, 26 de julho, Zé Maria estava em Brasília, para eventos da sua candidatura à Presidência pelo PSTU. Na ocasião, visitou a redação do Congresso em Foco e concedeu a entrevista abaixo. E, na condição de quem conviveu com o ex-líder sindical e hoje presidente Lula, Zé Maria o fulmina: "Lula nunca foi de esquerda".
"Fui preso com Lula. Mas ele brincava sobre isso. Dizia: 'Não sou socialista. Sou torneiro mecânico'." |
"Não é verdade que Lula governa para os trabalhadores" |
"Marina tem os mesmos defeitos de Dilma e de Serra. Não ataca os temas principais." |
Mas, então, quando o Psol desistiu de apoiar Marina, não era possível fazer a união?
Não temos nada contra Plínio de Arruda Sampaio, mas ele próprio vem enfrentando dificuldades na sua candidatura no Psol.
Qual seria hoje o principal problema do país?
É preciso mudar a lógica que mantém o Brasil e romper com o pagamento das dívidas. As multinacionais dominam nossa economia. Só até maio deste ano, foram remetidos ao exterior US$ 10,8 bilhões. Esse volume é 40% superior ao enviado no ano passado. Esses recursos são enviados por multinacionais, como as de automóveis, bancos. É preciso estatizar esse setores. É a forma de garantir que esses recursos fiquem no país.
Mas esses setores investem no país.
O que essas empresas visam é lucro. É um erro achar que elas contribuem com investimentos, como se fosse uma atividade filantrópica para ajudar um país subdesenvolvido. Estatizar essas empresas significará, primeiro, que essas remessas que elas enviam para o exterior ficarão no Brasil. E, com uma gestão menos voltada para o lucro, possibilitará avanços como melhoria salarial, redução da jornada de trabalho, geração de empregos. Enfim, a atividade dessas empresas ficaria mais voltada a atender às reais necessidades do país.
Mas, hoje, dentro da economia globalizada, isso seria possível? Certamente, uma nacionalização desse porte geraria reações no mundo todo, que retaliariam o Brasil. O país resistiria a isso?
O Brasil tem uma imensa quantidade de recursos próprios. A maior produção agrícola do mundo. Já é autossuficiente em petróleo. Isso ainda irá crescer imensamente com o petróleo do pré-sal. Tem reservas de água. O mundo hoje é que precisa do Brasil. Além disso, acredito que esse tipo de iniciativa serviria de exemplo para a América Latina, muitos países poderiam ser tencionados a fazer o mesmo.
"Se rompermos com o pagamento dessa dívida, será possível duplicar o orçamento da saúde e educação." |
O senhor tem feito um movimento para poder participar dos debates entre os candidatos à Presidência. Já não participou do debate na TV Band ocorrido na quinta-feira (5). As emissoras que produzem os debates alegam que seria impossível fazer um programa com um mínimo de organização com todos os candidatos. Como o senhor responde a isso?
As eleições são um jogo de cartas marcadas. Já se define, de saída, quem tem e quem não tem chance. Isso não é democrático. Essa polarização entre Dilma e Serra é falsa, ambos tem o mesmo programa econômico para o país. Ela é produzida por um sistema falso que não permite que os demais candidatos, como nós, possam divulgar suas ideias. As campanhas dos grandes partidos são financiadas pelo dinheiro de empresários e banqueiros, que depois cobram a fatura. Com exceção de pequenas oportunidades, como esta entrevista ao Congresso em Foco, como vou expor aos eleitores as nossas ideias? Não se permite a minha participação nos debates, só vou ter uns poucos segundos de propaganda na TV.
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