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Congresso em Foco
12/12/2009 6:20
Quem é o palhaço Plim-Plim?
Eu o identifico como um palhaço folclórico. O palhaço do circo já não tem mais a mesma graça, porque os Trapalhões já levaram isso à televisão. Eu transformei o palhaço Plim-Plim em um palhaço folclórico. Eu uso a burra calu e dela a gente tira o som do jumento - tipo ÁÁÁ, ÉÉÉ, Iiii, Óóó, Uuuu. No ruído da jumenta, a criança aprende as vogais. Uso também o jogo do chifre, que ao invés de passar o chapéu, eu passo um chifre. Quem dá R$ 5, eu abençôo e digo que ele vai ficar cinco anos sem levar chifre. Uso também a boneca maluca. Eu procuro usar o trejeito dos bêbados, dos doidos da rua e coloco os trejeitos no Plim-Plim. Quando comecei, eu usava os trejeitos do Charlie Chaplin. Agora eu uso os trejeitos de pessoas engraçadas que vejo na rua e dou essa magia para o palhaço. O Plim-Plim é um palhaço da espontaneidade e do improviso.
Por que você escolheu ser palhaço?
A gente não escolhe. Ser palhaço é um dom. Não tem universidade de palhaço. Assim como as pessoas têm o dom para ser médico, professor, eu tenho o dom para ser palhaço. Então eu não escolhi. Acho que Deus me colocou nesse caminho e eu não tenho outra profissão. O pouco que eu usufruo na vida, é o palhaço Plim Plim que me beneficia. E eu como José Carlos, cidadão, tenho que honrar esse personagem. Por isso que estou aqui buscando os deputados para a gente ter respeito, dignidade e amanhã ser visto como um profissional.
Quantos palhaços existem no país?
Segundo dados do Ministério do Trabalho, temos 128 palhaços cadastrados no país. Mas tem muito mais que isso. Eu vou ajudar a cadastrar os palhaços. Primeiro vou fazer o cadastro no Nordeste e depois nas outras regiões do Brasil. Em 2011, vou voltar a Brasília com os números concretos e mostrar quantos palhaços são de picadeiro e quantos são picaretas. É preciso separar os palhaços que estão no picadeiro, tentando ganhar dinheiro na arte e na cultura, dos picaretas, que só querem usar a imagem. Esses sabem que palhaço é uma bandeira milenar e que se botar um projeto de palhaço e circo, o dinheiro sai. Eu quero dar prioridade ao palhaço original. Sempre estou nessa luta de não deixar os picaretas invadirem o picadeiro.
Existe alguma lei específica para regulamentar a profissão de palhaço?
Não existe nenhuma lei específica para os palhaços. Nós temos leis que também nos contemplam. Por exemplo, o artigo 29 da Lei 6.533 de 1978, que dispõe sobre acesso dos filhos de profissionais circenses às escolas públicas locais de primeiro e segundo graus. Isso não é cumprido e falam para a gente ir à Justiça. O circo passa um mês em cada praça, até você arrumar uma audiência pública com o juiz, já terminou o período. Levar para uma escola particular é fácil, tem vaga, porque você vai pagar. Agora a pública, que é direito, a gente não consegue. Eu, por exemplo, tenho uma filha de 6 anos, há dois anos aqui em Brasília e eu não consigo colocá-la em uma escola pública. Existe a lei, mas não é respeitada.
Que outras dificuldades os profissionais palhaços enfrentam?
A primeira dificuldade é o número pequeno de circos que existem atualmente. Não há uma política pública efetiva para os profissionais circenses. Apesar disso, o palhaço tem mercado em outros lugares. Por exemplo, em aniversário, em praças, em feiras. Basta o cara levar a profissão de palhaço a sério, que ele não morre de fome. Mas passa dificuldade. O Ministério do Trabalho reconhece o palhaço como profissão, mas não temos garantias como uma aposentadoria para os palhaços. O Carequinha morreu sem ter se aposentado. Outra dificuldade é a banalização da imagem do palhaço em manifestações populares e na mídia. O cara vai fazer um protesto contra político e coloca um nariz de palhaço, e a imprensa ainda vai lá e coloca a foto em primeira página. Ele como palhaço está roubando nossa cena e banalizando nossa imagem.
Por que colocar um nariz de palhaço é banalizar a imagem dos palhaços?
Quando você para num sinal e um cara vestido de palhaço pede dinheiro sem um objetivo, você, como consumidor que vem contratar um palhaço, não vai vê-lo como uma profissão. O consumidor vai associar o palhaço com alguém mendigando. Então vai achar que o valor dele deve ser R$ 50. Não vai ver você como artista. Posso estar errado, mas se ele, pelo menos, estivesse ali vendendo um produto ou participando de uma campanha, mas tem uns que simplesmente estão pedindo vestidos de palhaço.
E em manifestações, por que o nariz do palhaço na multidão te incomoda?
Eu, sinceramente, quando vejo uma cena com alguém com um nariz de palhaço sem estar no ofício, eu me sinto ofendido. Tenho isso como profissão e as pessoas colocam como uma coisa banal. Eu vivo daquilo. Eu sou contra essa moda aí de Arruda: o cara vai lá faz um protesto da saúde e usa um nariz de palhaço. Eles poderiam usar uma máscara da gripe, mas usa o nariz de palhaço como banalização. Sei que é difícil contestar isso, mas acredito que água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. Eu sempre vou jogar água em cima deles, para ver se eles arrumam outra forma de protestar. Pode ser uma bobagem, mas para quem isso é uma profissão e para quem leva isso com amor, sabe o que a gente sente. Já que o palhaço é uma profissão, vou tentar mostrar às autoridades e à sociedade que palhaço é um profissional que merece respeito.
O que mais te ofende como palhaço?
Ah, também ofende quando alguém chama você de palhaço sem graça. O cara que está ali só pintando, só com o nariz de palhaço ou pedindo, não vai sentir nada. Mas quem dá alma a seu palhaço, esse sente. Eu já fui chamado uma vez de palhaço sem graça e senti. Daquele sentimento, você melhora e vai tentando se superar e chega ao profissionalismo. É preciso dar alma ao palhaço.
O que seria esse "dar alma ao palhaço"?
Dar alma é você incorporar por amor. Por exemplo, eu gosto muito de fazer espetáculos filantrópicos. Quando estou nesses locais, eu sinto que o palhaço está ali. Até a voz muda. Quando você está só por estar, é só alguém ali pintado. Dar alma é fazer os outros felizes, mesmo que seja uma plateia pequena de 10 crianças. Teve uma vez que eu fiz espetáculo só porque precisava de dinheiro. O cachê era R$ 500. Ali eu fiz o espetáculo, mas o Plim Plim não estava aí. Eu me senti mal. Não boto mais o meu palhaço para ficar se abestalhando. É preciso que a gente busque o profissionalismo, senão não será valorizado.
Qual o papel do palhaço na sociedade?
É fazer graça, é dar gargalhada ao humorista que já tem as piadas prontas. É como a magia do Papai Noel. As pessoas se aproveitam do personagem e riem. Rir faz bem para a alma. É o melhor remédio. (risos)
Por que fazer o 1º Seminário Nacional de Palhaços no Congresso?
Eu estou em Brasília lutando desde 2004. Vi que os meus companheiros, palhaços, estavam precisando se organizar e levar algumas sugestões para os deputados. Então fui atrás dos deputados Paulo Rubem Santiago (PDT-PE), Carlos Bife (PT-MT), João Matos (PMDB-SC) e Edigar Mão Branca (PV-BA) e pedi para esses quatro uma iniciativa. Daí, surgiu a ideia do seminário. Os deputados serão nossos porta-vozes na Câmara no que queremos discutir. O deputado Paulo Rubem, inclusive, apresentou o projeto de lei que institui o Dia Nacional do Palhaço, que será todo dia 10 de dezembro. Se a gente não plantar agora a semente do amanhã, a gente não vai ter nenhum fruto. Esse seminário vem nesse objetivo de encontrar as formas de ter um trabalho digno ao ser palhaço.
Muita gente se refere ao Congresso Nacional com frases como "isso aqui é uma palhaçada", "só tem palhaço nesse Congresso". Como você vê isso?
É uma coisa que eu não concordo, porque também é uma banalização de dois lados. Quando se trata do Congresso, tem que se ter respeito, porque isso aqui se trata de representantes do povo. Essa forma pejorativa que as pessoas usam é maldosa e de duplo sentido. Vamos conseguir tirar isso, trazendo eventos de palhaço para cá e pedindo, principalmente à imprensa, esse respeito. Vamos pedir que os jornalistas façam matérias para resgatar a imagem do palhaço e não usar duplo sentido. Aqui não é um circo, aqui é a casa do povo. Isso me machuca. Vamos moralizar, dar dignidade e respeito à profissão de palhaço.
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