[caption id="attachment_194981" align="alignleft" width="320" caption="Pivô da discussão, Sérgio Machado está licenciado da Transpetro desde novembro"]

[fotografo]Agência Brasil[/fotografo][/caption]O áudio de uma reunião do Conselho de Administração da Petrobras realizada em outubro de 2014 mostra conselheiros acusando o então presidente do colegiado, Guido Mantega, e a ex-presidente da estatal Graça Foster de tentar adiar a demissão de Sérgio Machado, que àquela época estava no comando da subsidiária Transpetro. Machado é afilhado político do presidente do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL), e por ele foi indicado para o posto. Renan é um dos alvos de inquéritos abertos no Supremo Tribunal Federal no âmbito da
Operação Lava Jato, que investiga esquema bilionário de corrupção na petrolífera.
Veiculadas nas versões impressa e
online do jornal
O Estado de S. Paulo deste sábado (9), as gravações revelam o clima tenso da reunião, em que conselheiros reclamavam da suposta interferência política do governo nas decisões sobre a petrolífera. Foram cerca de três horas de conversas, em 31 de outubro. Na ocasião, a auditora dos resultados financeiros da Petrobras, PriceWaterhouseCoopers (PwC), relutava em aprovar o balanço relativo ao terceiro trimestre da companhia e exigia providências em relação ao escândalo de corrupção. A começar pelo afastamento de Sérgio Machado, a apadrinhado por Renan.
Um dos protagonistas do esquema de desvios, o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa afirmou, em regime de delação premiada, que Machado havia recebido R$ 500 mil em propina. Mesmo acusado de corrupção, Machado se mantinha no cargo, o que gerava a controversa situação de que, na condição de diretor da Transpetro, ele seria signatário do balanço a ser avalizado pela PwC. Por iniciativa própria, Machado se licenciou temporariamente do cargo em 3 de novembro do ano passado. No dia seguinte foi retomada a reunião do conselho, interrompida em outubro por Mantega diante do racha no colegiado.
A questão é que a saída de Machado naquela época, sob acusação de corrupção, desagradaria Renan, então peça-chave na base aliada da presidenta Dilma Rousseff - atualmente, seu
principal opositor no Congresso. Por isso, conselheiros da Petrobras escolhiam as palavras para defender a saída do diretor, que renovou seu pedido de licença não remunerada e continua afastado da Transpetro.
"Ninguém está dizendo que ele [Machado] é criminoso. Existe uma acusação e a regra [.] diz que tem que afastar. Vou dizer uma coisa aqui que o presidente não vai gostar. Eu acho que isso é porque, primeiro, tem de pedir autorização ao
Renan Calheiros. Se a gente não tem poder aqui para tirar uma pessoa que está complicando a situação da Petrobrás, quem é que manda nessa empresa?", indagou o conselheiro Sílvio Sinedino.
Escute aqui a gravação
Outro conselheiro arremata: "Temos de remover obstáculos na medida em que aparecem. O primeiro é o afastamento temporário, com o consentimento dele ou não", disse Sérgio Quintella. "Se ele é irresponsável, tem que ser demitido", atacou mais um membro do conselho.
"Mantega argumentou que, ao afastar Machado, os conselheiros estariam ratificando acusações contra ele sem uma conclusão das investigações e uma decisão da Justiça. Mas ouviu que, diante de situação muito menos 'dramática', a estatal demitira, meses antes, o ex-diretor financeiro da BR, Nestor Cerveró, responsabilizado pela compra desastrosa da Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA)'", diz trecho da reportagem, acrescentando que Mantega chegou a sugerir férias a Machado. "Férias, não. Têm de ser afastados os poderes que ele tem", insistiu Quintella.
Confira a íntegra da reportagem
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